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Açoriana - Azoriana - terceirense das rimas

Os escritos são laços que nos unem, na simplicidade do sonho... São momentos! - Rosa Silva (Azoriana). Criado a 09/04/2004. Angra do Heroísmo, ilha Terceira, Açores. A curiosidade aliada à necessidade criou o 1

Criações de Rosa Silva e outrem; listagem de títulos

Em Criações de Rosa Silva e outrem

Histórico de listagem de títulos,
de sonetos/sonetilhos
(940...pausa... 961)

Motivo para escrever:

Rimas são o meu solar
Com a bela estrela guia,
Minha onda a navegar
E parar eu não queria
O dia que as deixar
(Ninguém foge a esse dia)
Farão pois o meu lugar
Minha paz, minha alegria.

Rosa Silva ("Azoriana")

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Com os melhores agradecimentos pelas:

1. Entrevista a 2 de abril in "Kanal ilha 3"



2. Entrevista a 5 de dezembro in "Kanal das Doze"



3. Entrevista a 18 de novembro 2023 in "Kanal Açor"


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Parte II - Casos isolados ou não: A tal da gripe A

17.07.09 | Rosa Silva ("Azoriana")

A ansiedade ronda os ilhéus e ilhoas e a população do mundo inteiro. Em particular, e tendo em conta que é uma pergunta que se generaliza, pergunto:

No caso da gripe me apoquentar como resolvo as compras domésticas quando faltar os géneros alimentícios essenciais ou já nem temos disposição para comer? E os produtos de higiene? E os fármacos para algum achaque?

Se eu não me posso ausentar de casa para não contaminar o próximo quem me irá socorrer? Ficando tudo de "quarentena" num agregado familiar, há alguma forma de auxílio nem que seja colocando sacos no lado de dentro do portão de forma a que alguém os vá colher para o interior do recinto contaminado?

E se eu não possuir linha telefónica nem tiver acesso à internet e falhar a rede do telemóvel (ou não tiver saldo, ou não tiver a bateria carregada, ou tiver avaria nesse aparelho) como podem saber que estou numa aflição qualquer?

Será que estou a stressar e a pensar que isto não vai acontecer? Será que estamos preparados convenientemente para uma situação que pode não atacar os vacinados mas os que estão à volta podem efectivamente sentir-se inválidos?

Ainda não estou convencida que esta situação terá salvação... Quem sobreviver terá muito que contar e agradecer a protecção Divina... Vão fechar escolas, creches, todas as instituições que reúnam várias pessoas fechem? Nem nas Igrejas se podem reunir para rezar?

Acho que estou a entrar naquilo que se chama a "pré-agonia"...

Rosa Silva ("Azoriana")

Parte I - Casos isolados ou não: "Eu quero a minha mãe!"

17.07.09 | Rosa Silva ("Azoriana")

Julho de 2009.

Verão com uma tarde de sol risonha.

Uma caminhada longa, sem pressas. Três pessoas, sendo duas adultas e um jovem, seguiam despreocupadamente olhando as surpresas das ruas por onde se avista, de frente, o mar que convida a um mergulho, não fossem as caravelas e as águas-vivas, que nem os nadadores-salvadores conseguem controlar porque são muitas. Pelo trajecto vêem-se casas bonitas, animais de estimação e/ou protecção que cumprimentam os transeuntes com algum alvoroço; flores que matizam paredes e jardins; carros que circulam obedecendo à ordem do semáforo novo; um céu que beija o mar no horizonte; pessoas que trabalham na via pública numa ilha encantada; olhares que se cruzam; um barco ao longe fumegando saudades; gente que embeleza a fachada da sua mansão com a cor favorita, enquanto que outras moradias deixam transparecer um quase abandono ou um enorme desleixo, porventura motivado por uma ocupação temporária e/ou de outrem.

Já quase atingindo o destino a que esta família se propunha de início, estancaram o passo perante um choro insistente vindo da parte de trás de um muro baixo e sem portão. Era uma criança esfregando nos olhos ao ponto de já estarem avermelhados. Os cabelos tão lindos com uns caracóis que o tempo deixara intactos. Estava numa dessas moradias descuidadas que se olharmos bem até parece que nem mora gente. A criança, com menos de dez anos, apenas balbuciava com soluços: "- Eu quero a minha mãe!". Impossível seguir viagem. Aproximaram-se dele e após uma série calma de perguntas e respostas, estas sempre nuns soluços, a criança abandonando o choro ficava, pouco a pouco, mais tranquila. Deram-lhe a mão e aquela mão aconchegava-se na outra que estava perplexa.

Ficaram a saber que os pais tinham saído mas o motivo não veio à baila e que o filho aguardava a sua volta. Como ficara receoso viera para o portão, chorando, esfregando os olhos indefeso, ao ponto de quem passava se aperceber que algo estranho estava acontecendo. Impossível continuar a caminhada, sobretudo a quem é sensível a choros...

Sem choro e levado pela mão amiga reentrou na moradia pela porta contrária ao cão que até deu um ar de sua vigia. No interior, uma conversa tranquila e apropriada à idade da criança fez o milagre dela não voltar a chorar, nem vir para o exterior, enquanto a mãe não chegasse: "- Prometes?" Ele respondeu acenando afirmativamente com aquele lindo rostinho apaziguado e o olhar enxuto de lágrimas e lavado conforme lhe haviam recomendado.

Os "anjos" que ajudaram esta criança saíram da moradia cabisbaixos e pensativos. Aguardaram ainda no lado de fora, não fosse a criança ter novo receio e sair para o exterior. Nada. Tudo calmo. Continuaram, então, a sua caminhada. O pensamento e os diálogos seguintes insistiam no mesmo assunto: "- Onde estariam os pais daquela criança?; Porque será que esta criança ficara só numa mansão daquelas?; A televisão era a companhia com desenho animados de um canal propício para manter as crianças sem arredar pé de casa, mas porque com aquela não fizera grande efeito?". Questões vinham e iam, sem resposta.

No regresso a casa, as três pessoas escolheram passar, de novo, pela frente daquela mansão. Pararam, olharam, escutaram. Não perceberam qualquer ruído. Tudo calmo. Avistaram uma viatura estacionada na entrada, numa espécie de parque de ervas daninhas. Talvez fossem os pais ou a mãe da criança que havia voltado. Não ousaram levantar poeira ou assustar a criança. Seguiram o seu norte mas sempre falando no mesmo (ainda hoje se lembram de tudo).

Um dia, haviam de voltar a passar naquele lugar para saber se o bilhete deixado num papel encontrado teria provocado algum efeito benéfico.

Até hoje, continua no pensamento aquela expressão agoniante: "Eu quero a minha mãe!".

Será este um «caso isolado ou não?». Talvez não. A diferença está no choro, na idade e na expressão repetitiva: "Eu quero a minha mãe!".

Questões para reflexão:

- O que fazer com as crianças menores de doze anos, por exemplo, sozinhas em casa, filhos de famílias que não têm meios de ter alguém a tomar conta ou colocar nalgum sítio que tenha essa possibilidade mediante pagamento de honorários?
- Há crianças que até são avançadas para a idade e tem esperteza suficiente para saberem se comportar num caso de estarem sozinhas em casa... Mas e aquelas que têm medos? O que fazer?
- E se ambos os pais trabalham fora e não tem familiares que os ajudem nesses cuidados?

Rosa Silva ("Azoriana")