Está dentro do meu olhar
Para 21 de Março - Dia Mundial da Poesia
Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
Para 21 de Março - Dia Mundial da Poesia
Foto: José da Silva Maya
Arquivo: Luís Mendes Brum
É uma oferta valiosa esta que Luís Brum me enviou (entre outras). Fico-lhe, mesmo muito obrigada e dedico-lhe as seguintes palavras:
O Luís merece ser devidamente homenageado, em vida, porque após aquela viagem única não tem a mesma valia. Recentemente (desde 2004) é que sinto um apelo a gostar do que merece ser olhado com os olhos da maturidade. É grandioso o seu trabalho em preservar o que é muito bom.
Agora, posso afirmar com provas, que há uma idade leve, uma madura e uma manifestamente cultural. Há que apreciar cada bocadinho que nos é dado e idolatrar o que nos é legado das gerações que nos fizeram ser e ter respeito ao que fica para memória futura.
São esses tesouros que marcam uma vida e ficam muito além dela. Bravo, caro amigo, que só após as caminhadas blogueiras, tive oportunidade de conhecer e apreciar com verdadeiro sentimento de ilhoa. Tudo o que se preserva é a nossa identidade de ilhéus que cantam e saboreiam o paladar do fruto da videira e dedicam uma vida inteira ao coração da Terra.
Luís Mendes Brum é, segura e afirmativamente, um NOME a manter, a elogiar e a homenagear com tudo o que de melhor tem: a alma terceirense e, designadamente, a biscoitense. É também um amigo da Serreta, minha terra natal.
Biscoitos, do concelho da Praia da Vitória, é um centro de visita obrigatória, onde o Museu do Vinho é a paragem certa, amistosa e cordial.
Um cumprimento pleno de reconhecimento e um Bem-Haja pela sua infinita dedicação aos tesouros que dignificam a ilha e a nossa Região!
"Bagos d'Uva" é o seu distinto blog que já me habituei a visitar e "degustar".
Rosa Maria Correia da Silva
Leitura tardia de um livro
“AURORA E SOL NASCENTE – Turlu e Charrua, Confidências”, de Mário Pereira da Costa.
Em Abril de 2008, quando foi lançado o livro “João Ângelo – O Mestre das Cantorias”, fiz algumas referências ao livro do meu amigo Mário Pereira da Costa, “Aurora e Sol Nascente – Turlu e Charrua, Confidências”, que viria a ser lançado no Salão Nobre da Câmara Municipal de Angra, a 13 de Junho, numa digna e sentida cerimónia.
Tinha tido o privilégio de ver o “livro em bruto” aquando das correções e provas, efectuadas na ilha Terceira. Mas não o li.
Há alguns anos que tenho pensado iniciar uma coleção de livros – Improvisadores – e faria todo o sentido que o primeiro fosse com a “biografia” do Mestre Charrua. Daqui a razão de ter adiado a leitura, para o não fazer por duas vezes. O que perdi…
Já agora, o livro está adiantado, trata na sua maioria o centenário do nascimento e tem o título “CHARRUA 1910 – 2010”. O número 2 da coleção, intitulado “Adelino Toledo – Uma Voz na Diáspora”, será lançado em Junho nas Fontinhas e em Agosto em Turlock, Califórnia.
Gostaria de dar os meus sinceros parabéns ao Mário Costa pela excelente obra que escreveu, numa linguagem muito clara e precisa, descrevendo os acontecimentos de tal forma que nos sentimos dentro deles.
Gostava ainda de salientar três pontos deste livro:
1 – O amor e paixão entre Turlu e Charrua.
Não é nada fácil viver, cerca de 50 anos, com uma paixão tão ardente e reprimida por tantos anos. Só os grandes intelectos sabem suportar essa dor. Este amor correspondido só teve o selo legal a 8 de Dezembro de 1973, na minha paroquial de São Mateus da Calheta. Os dois souberam respeitar os compromissos perante os seus pares e a sociedade que os rodeava. A Turlu certo dia disse “No amor da alma não há traição”.
2 – A primeira viagem de Turlu à América.
Entre os nossos emigrantes, que tanto bem nos sabem receber, a Turlu foi cair nas mãos de quatro “empresários” vigaristas que envergonharam toda a nossa comunidade de então. Lamentáveis cenas do “Far West” envolveram os primeiros tempos da presença dela na diáspora. Felizmente, alguém de bom censo ajudou a Turlu a seguir o caminho que tinha direito, e a grande improvisadora e poetisa percorreu e saiu da América como uma rainha.
3 – Grandes poetas populares.
Toda a recolha e publicação de versos de Turlu e Charrua só vêm confirmar tudo quando se disse, e escreveu, sobre eles. Foram os dois maiores improvisadores dos Açores. Mário Costa publica muitos e bons versos, mas os da página 101 e 102, cantados em 1931, em São João de Deus, sobre a defesa e distinção dos sexos, são dignos de registo:
Charrua
O Rei é mais do que a Rainha;
O pálio mais do que a umbela,
O sino mais que a campainha;
O círio mais do que a vela.
Turlu
A hóstia é mais do que o sacrário;
A pomba mais que o estorninho;
A cruz mais que o calvário;
A água mais que o vinho.
Charrua
O perdão mais do que maldade;
O dia mais do que a hora;
O amor mais que a amizade;
Deus mais que Nossa Senhora.
Turlu
A seda é mais do que o linho.
A sorte mais que o dinheiro.
A praça mais que o caminho,
A casa mais que o palheiro.
Charrua
O cheque é mais do que a nota;
O garfo mais que a colher;
O sapato mais que a bota;
O homem mais que a mulher.
Turlu
A lã é mais que o algodão;
A mala mais que o baú
A alma mais que o coração
E eu mais do que tu.
Só os grandes mestres do improviso cantam assim. Feliz ilha que tem filhos destes. Felizes freguesias – São Mateus e Cinco Ribeiras – que viram nascer gente assim.
Só faltam duas coisas para completar este ciclo: trazer os restos mortais da Turlu de Toronto, Canadá, para São Mateus; e, a Junta de Freguesia das Cinco Ribeiras identificar, assinalar e dignificar a sepultura onde foi enterrado o Charrua.
Casa da Terra Alta, 17 de Março de 2011.