Versos que já cantei...
O meu livro é uma passagem
Como quem vai em romaria
À minha mãe uma homenagem
E à Santa da freguesia.
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Nessa idade já era enorme
E agora já me lembro
A minha vida, ela não dorme,
Ela acorda em setembro.
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Há horas para padecer
Há horas de felicidade
Por mim quero esquecer
Uma fase da minha idade.
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Meu amor pelas cantigas
Tirou-me dos meus sarilhos
As rimas são minhas amigas
Tal como são os meus filhos.
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Foram estas parte das cantigas
Cantadas na Rua dos Moinhos
Não me picaram as ortigas
Lá só recebo os carinhos.
Não tenho feito cantoria
Há um tempo a esta parte
A crise faz-me agonia
Que até me quebra a arte.
Nossa arte do improviso
É do campo mais que cidade
Se a fizesse com juízo
Talvez mudasse a realidade.
Uma dor, uma amargura,
Por não mais cantar ao jeito...
Vou deixando em partitura
Escritos que vem do peito.
Há um peito para amar
Em compasso doce e brando,
Há um peito para ancorar
Um tanto do que vou dando.
Mas então porque sofremos
Com carências e mais falhas
Se no peito é que temos
A força de nossas batalhas?!
Também não sei responder
Sinto fraca a vontade...
Ser poeta é ver morrer
Antes mesmo de ser verdade.
2013/03/04. Angra do Heroísmo
Rosa Silva ("Azoriana")