VERSO QUE EM MIM VIVE
Sei bem o que o povo gosta
Mas eu não posso dizer
Nem que fizesse uma aposta
Em nada se vai mexer.
Por isso deixa assim
“Não te importes rapariga”
Fica p’lo que diz que sim
Venha verso prá cantiga.
VERSO QUE EM MIM VIVE
Nasci longe do mar alto
Numa rua sem asfalto
No coração da serreta
Que é uma serra pequena
Onde a tarde é amena
Se a nuvem não é preta.
Nasci longe da cidade
Só quando cresci na idade
Foi-me dado conhecê-la
Sentada numa Carreira
Que serviu bem a Terceira
E ainda hoje é estrela.
Tanta viagem eu fiz
Naquele tempo tão feliz
Só me doía a estrada
Entre piso estreitinho
Devagar, devagarinho,
Chegava à hora marcada.
No asfalto então pisei
Pedras talhadas eu sei
Por homens quase esquecidos
Os louvo hoje neste verso
P'ra que todo o universo
Os faça reconhecidos.
Cada peça de calçada
Por mão ágil trabalhada
Permanece nos passeios
São Património as ruas
Que são minhas e são tuas
Abrilhantam nossos meios.
Vejam só onde fui dar
Pela calçada a rimar
Juro que não tinha ideia
Só isto me acalmou
Depois do que ressoou
Dum aplauso de plateia.
Nosso povo quer é rir
Festa, bodo e divertir
Contornar a onda triste:
Mas, por Deus, peço atenção
Não se pense que a Região
Só de riso subsiste.
Tem fé que move montanhas,
Tem arte, ondas tamanhas
No cais que não tem idade;
Tem amor e tem virtude
O regaço da juventude
Que une o campo à cidade.
Viva, viva a minha terra
E viva quem nos quer bem
No brasão que se descerra
E em cada peito aterra
Como o amor de filho e mãe;
Do verso que em mim vive
Há amor de Terra e Mar
Pelo povo sobrevive
Mesmo que tenha declive
A alguém possa agradar.
Angra do Heroísmo, 13-01-2014
Rosa Silva ("Azoriana")