Apontamento alusivo ao livro de Liduino Borba - "1958 - Tragédia na Serreta"
Desde que a Serreta se tornou independente das Doze Ribeiras (1862) e decorridos noventa e seis anos, acontece uma tragédia inesquecível (1958). Na altura, a minha falecida mãe teria 18 anos, a minha avó materna os 57 anos. Naturalmente que essa tragédia ficou na memória delas e, certamente me contaram. Também ouvi falar dessa ocorrência outras vezes e sempre fiquei apreensiva com tal facto. Mas foi mais precisamente quando o escritor Liduino Borba me procurou para prefaciar esta memorável obra, que o meu pensamento se quedou bastante neste assunto.
Passado um ano sobre o lançamento do meu livro - Serreta na intimidade, é-me particularmente gratificante estar presente num novo lançamento. Desta feita não de uma alegria mas de uma tragédia, que também as há.
Sendo a Festa da Serreta uma devoção, que se alia à tradição, é de lembrar que a primeira tourada do Pico da Serreta, conforme rezam escritos antigos, deu-se a 10 de setembro de 1849 e a tragédia ora contada por escrito, deu-se 109 anos depois daquela data e há 53 anos se apontarmos a 12 de setembro de 2011 (sempre à segunda-feira).
Na data relevante que a Serreta ora atravessa, os seus cento e cinquenta anos de freguesia, é marcante o lançamento de mais um livro cujo título fixa o seu nome como uma localidade que tanto é alegre, acolhedora, pequena de espaço mas grande de alma, num painel de verdes e frescura que inspira qualquer autor a pincelar letras simpáticas, como também uma freguesia que de tão vistosa que é no seu conteúdo festivo-religioso se torna lembrada também pelos acontecimentos tristes.
Desde que assisto à Festa da Senhora dos Milagres o que mais vi de pior acontecer foi relacionado com as consequências de algum foguete que não segue o seu rumo normal: roupas estragadas, alguns dedos dilacerados ou alguns materiais inutilizados, mas, graças a Deus, não vi ou assisti a maiores tragédias e a nossa Mãe nos livre de tal.
Agora pergunto-me: Porquê a Celeste (com nome até condicente com o divinal ou celestial) foi atingida brutalmente por uma pedra que, precisamente naquele dia, 15 de setembro de 1958, resolveu desabar Pico abaixo?! Esta será uma questão que julgo não haver respostas exatas. Podemos apontar para o destino e desse destino ela não conseguiu fugir.
Por mim, gosto de pensar que a Celeste foi para junto da Senhora, sua Mãe, num dia alegre, deixando nos seus familiares, amigos e presentes na hora fatídica, uma lembrança que agora se afirma em livro para perpetuar a sua passagem.
CELESTE
Foi-se triste a mulher
Num momento aterrador
Creio e se Deus quiser
Está no reino do Senhor.
Bem-vindo a quem vier
À Serreta por amor
Esteja lá onde estiver
A Celeste é uma flor.
As flores são de Maria
Nossa Mãe imaculada
Que é santa companhia.
No momento da partida
Onde Ela tem a morada
Toda a morte lembra a Vida.
Rosa Silva (“Azoriana”)