Afago as letras
Disseram-me poetisa para não morrer
Um poeta não morre no seu viver
Afaga as letras, dá-se em palavras, ama,
Aceita a acendalha de nova chama.
Um poeta não morre no seu viver
O seu pergaminho o faz crescer
No rasgo profundo da sua pena
Faz leve a brisa na pele morena.
Afaga as letras, dá-se em palavras, ama,
Beija as sílabas e canta-as pela rama;
Que pena a morte não deixar saber
Se o poeta volta para agradecer.
Aceita a acendalha de nova chama,
Nos livros e telas que alguém reclama
À leitura dos olhares que o tempo esgota
E ao fim de contas a saudade brota.
Disseram-me poetisa… para eu viver!
Rosa Silva (“Azoriana”)