Sentimento ilhéu
Eu sinto um não sei quê, um não sei quanto,
Pousada numa tarde cinzelada...
Pasmei boquiaberta junto à fachada
Nada vi que me avistasse algum espanto.
Um não sei quê de fim que dura tanto
Sem dar transtorno à sorte rascunhada
Nas linhas breves onde sou amada
Por quem as lê e salva se vê encanto.
Quando eu sinto, sinto porque sinto,
E juro que hoje, enfim, juro e não minto,
Se te disser que foste a minha aurora...
Do tempo que cantei cada palavra
Do tempo que criei como quem lavra
O fim que não o foi e que em todos mora.
Rosa Silva (“Azoriana”)