Na alegria também se vê saudade
Desde o tempo de embalar que fui educada para festejar o aniversário. Com tantos dias iguais há que agarrar um que é diferente na subida de mais um troço de vida. Deixamos para trás um mar de emoções e alegrias para darmos um abraço ao porvir. Hoje comemoro dois anos de um casamento desejado, no dia de aniversário do cônjuge. Embalada pela alegria também vejo a saudade a brilhar na polpa do meu olhar, por outros tempos que me vi menina, sem sono, no sonho da madrugada a bater-me à janela do peito para a largada do barco rumo ao ilhéu do Topo, ao porto da Calheta, ao das Velas para depois embalar-se pela vista do cais de S. Roque do Pico para meu consolo de abraçar a família em gritos de alegria viva e paixão pela despedida da saudade que mata quem vive agarrada às águas salgadas onde a ilha poisa, pacatamente.
Quando li um artigo “Entre a lava e a maré”, no capítulo dos Lugares do “Mundo Açoriano” (on-line) fiquei com a alma a tremer de saudade e feliz por encontrar tão encantador e emocionante artigo de arrepiar a lembrança e o coração.
Se há amor e há, se há alegria e felicidade, há uma paixão pelo melhor que a terra nos dá: Ter estado na freguesia de Santo Amaro, na ilha do Pico, onde cada barco que nasceu permanece na memória de alguém que vive mesmo que parta no suspiro final.
A ilha ainda me faz escrever com os dedos tremendo de saudade denotando o quanto fui feliz na meninice de ir e voltar e retornar àquele mundo de lava e maré. Lembro do cantar noturno das cagarras sobrevoando o telhado do meu encanto. Lembro da canção do mar rente ao cais que tinha um cheiro jamais sentido noutro lado… Lembro dos abraços tão apertados e beijos esbugalhados de um punhado de gente cujas veias tinham o mesmo pulsar que o meu…
No dia do segundo aniversário do meu casamento desejado procuro uma maneira de mergulharmos nas águas do amor ilhéu com o pensamento no que a cada um faz para trazer outras águas e marés no calor da palavra… Amo-te!
Rosa Silva ("Azoriana")