“Mais vale cair em graça do que ser engraçado”, lá diz o provérbio…
Diz o ditado na boca do povo. É assim mesmo e aplica-se ao dia-a-dia em ocasiões que se veem a olho nu. Recentemente veio-me à ideia esse velho provérbio. Quando se é popular e conhecido com graça tudo fica bem nem que seja uma pouca de m****. Quem, infelizmente, se quer fazer engraçado acaba por não ter graça nenhuma. Portanto, vale a primeira parte do provérbio: cair em graça!
Para mim tanto faz. Tanto uma como outra não me trazem comida para a boca e essa, sim, é que faz falta e muita, sobretudo nos tempos que vão correndo sem graça nenhuma.
Mas isto tudo para chegar a uma questão que me anda a apoquentar e não é de hoje, nem de ontem ou anteontem… Prende-se com os nossos tradicionais (consagrados ou não) cantadores do improviso nato, sobretudo os mais antigos com anos de carreira feliz e competente. Esses que, salvo melhor opinião, me parecem estar melindrados com uma certa “graça” que os novos vão tendo nos palcos por essas freguesias da ilha Terceira e não só.
Com o parágrafo anterior não quero lançar lume na fogueira nem acender a discussão nem o diz-que-disse… Nada disso! Quero apenas ALERTAR os mais novos (onde me incluo muito pela rama pois não me sinto cantadeira nem para lá perto ainda) para uma situação que já me apercebi mesmo sem estar diretamente envolvida na contenda. Há que dar valor aos “velhinhos” cantadores do desafio (e em certa medida tem-se dado com homenagens e muita ovação) porque são eles que vão legando maravilhas quais pérolas preciosas do improviso cujo dom não se estuda, não se compra nem se vende, tem-se.
Para vincar essa maravilha, julgo eu, foi precisamente criada a Associação de Cantadores e Tocadores ao Desafio dos Açores para solidificar e apetrechar de vénias o que é tão genuíno das ilhas açorianas e da sua cultura popular.
Penso que ainda não coloquei por escrito o que me vai na alma com este floreado texto… Será que já conseguiram entender o que quero dizer?!
“Para bom entendedor meia palavra basta” é mais um provérbio que aplico neste final porque não quero ferir suscetibilidades. Acho que está na hora de atribuir o mérito devido aos nossos “velhinhos” cantadores não com “blá-blá-blá” mas com a sua presença em certos acontecimentos que os deixam de fora e deviam estar dentro para se puder chamar um verdadeiro festejo açoriano com valores que não há quem derrube.
E os “velhinhos” cantadores também não se devem ofender demasiado com o facto de ainda não lhes ser dada a “carteira profissional” porque se formos a profissionalizar ou a elevar demasiado o que o povo gosta puro e são, estamos sujeitos a entrar por uma área que se perde a beleza, a autenticidade e o amor ao que vem da alma de ilhéus.
Penso, ainda, que está-se a entrar por uma categoria demasiado elevada das cantigas ao desafio que restringe, à partida, os que querem e não podem ir diretamente para o estrelato atual. Será mentira o que estou a desabafar?!
Os arraiais não mentem… nem tão pouco o povo que se habitua a uma qualidade (em itálico porque tenho algumas dúvidas, confesso) que dificilmente irá ter retrocesso. É como diz o ditado: Mais vale cair em graça do que ser engraçado!
Rosa Silva (“Azoriana”)