Cantinho da Mocidade
Aspecto da Ribeira das Catorze,
freguesia da Serreta, ilha Terceira, Açores
Em tuas pedras saltitei,
em tuas bermas pulei,
molhei meus pés nas águas, térreas,
onde conheci as dádivas serenas
vindas da mãe natureza.
Ainda sinto o olhar embevecido
da alegria da minha infância,
tudo parecia tão sortido,
agora dou tamanha importância;
porque outrora, sim, tive "abundância",
e a vida tinha outro sentido.
Hoje:
há tanta pressa,
tanta corrida desenfreada,
já não há tempo de conversa,
estarei eu, enganada!?
Gostava de ser tão diferente,
e dar a meus filhos bom presente,
mais atenção, carinho e prontidão,
"pegar ao colo", abraçar e dar a mão...
mas sinto tudo a escapar,
será que estou a falhar!?
Não! Não!
Deixa-te de pensar, em triste,
vê o que de bom existe;
vê o que já fizeste;
vê o que produziste:
Uns filhos que muito amo,
são as pérolas que eu tenho,
porque a paternidade abalou,
mas a mãe com eles ficou...
E mesmo que eu esteja "ausente",
não deixarei de estar presente
e um dia, talvez,
chegará a nova ocasião
e à Ribeira das Catorze os levarei,
e então lhes mostrarei,
o lugar que doravante chamarei:
"o cantinho da minha mocidade".
Rosa Silva ("Azoriana")