Uma carta
Uma árvore, Minha querida e saudosa filha Jerónima,
Em terreno trucidada,
Num envelope fechada.
Quantas vezes já pousou
Em mãos de destinos chorou,
Riu, alegrou...
Saudades,
Novidades,
Ansiedades,
Curiosidades e tanto mais...
Quem nunca amou linhas cruzadas
Desejos em pontos reticentes
Escritos de almas diferentes
Plantadas em diversos Continentes.
Lá vai ela de mão em mão,
Em sacola na farda vestida,
Posto por Posto, num mar de gente diligente
Num rosto sorridente,
Mesmo que em coração dolente...
Carta, cartas
Formatos,
Abraços em tempos lembrados tão bem escrevinhados:
Estimo que estas mal notadas linhas te vão encontrar de perfeita saúde. Nós por cá vamos bem Graças a Deus.
A Mariquinhas vai terça-feira pas Américas e vai te levar a linguiça, bem temperada, que matámos o nosso porquinho de repente. Fez um grande temporal e o bicho partiu os quadrilhos e tava a padecer. Os rapazes de tua irmã jogaram à bola coa bexiga e o rabo foi preso às calças de tê pai. Na saquinha vai uma garrafa de angelica para vocês matarem o bicho e um padaço de pão de milho. Teve que ser às escondidas de tê pai porque arrumou-as todas atrás do talhão. Lembras-te filha do nosso esconderijo? Os torresmos de toicinho são p'ra teu hóme. Mas cma tu sabes eu na gosto dele mas na lhe digas nada. Que os coma por alma da tua avó. Os de cabinho ficaram muito gostosos e são pra ti. Sabes quem bateu a bota? O nosso vizinho Ti Manel Carrada.
Espero receber uma cartinha tua na volta do correio, porque a Mariquinhas vai ficar uns tempos pra aí, até que nossas galinhas ganhem dentes.
Um abraço apertado cheio de saudades desta tua mãe e pai e toda a família que nunca se esquecem.
Adeus