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Açoriana - Azoriana - terceirense das rimas

Os escritos são laços que nos unem, na simplicidade do sonho... São momentos! - Rosa Silva (Azoriana). Criado a 09/04/2004. Angra do Heroísmo, ilha Terceira, Açores. A curiosidade aliada à necessidade criou o 1

Criações de Rosa Silva e outrem; listagem de títulos

Em Criações de Rosa Silva e outrem
Histórico de listagem de títulos,
de sonetos/sonetilhos
(total de 1010)

Motivo para escrever:
Rimas são o meu solar
Com a bela estrela guia,
Minha onda a navegar
E parar eu não queria
O dia que as deixar
(Ninguém foge a esse dia)
Farão pois o meu lugar
Minha paz, minha alegria.
Rosa Silva ("Azoriana")
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Com os melhores agradecimentos pelas:
1. Entrevista a 2 abril in "Kanal ilha 3"

2. Entrevista a 5 dezembro in "Kanal das Doze"

3. Entrevista a 18 novembro 2023 in "Kanal Açor"

4. Entrevista a 9 março 2025 in "VITEC", por Célia Machado

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1º de Janeiro

01.01.05 | Rosa Silva ("Azoriana")

25 anos cativos em memória - Sismo de 1980
Dia 1 de Janeiro, sábado, é dia de Ano Novo, da Paz e dia santo para a Igreja. Também é dia de "rezar pelos mortos de oitenta e agradecer a vida da cidade transformada no dia que passa 25 anos do último terramoto" (in Informação na Sé Catedral de Angra do Heroísmo).
Após ter estado uns momentos nesta Catedral, com um fundo musical que me levou a pensar "aqui estou no Céu", fui ao encontro de notícias que remontam àquela data, jamais por mim (e outros!) esquecida, porque a vivi e senti aos 15 anos de idade, na freguesia da Serreta. Foi na Biblioteca Pública e Arquivo de Angra do Heroísmo que encontrei dois livros de quadras alusivas a este drama, gentilmente facultados pelos funcionários deste serviço.
O primeiro catalogado com o nº 48633, uma edição patrocinada pela SREC - Secretaria Regional da Educação e Cultura, em Fevereiro de 1980, contém 156 quadras feitas "Na Cidade de Angra sobre a madrugada de um deste Janeiro" da autoria de um cidadão de Angra, pela cópia de João Afonso e pela caligrafia e desenho de Álamo Oliveira, cujo título é: "Cantigas do Terramoto para ler e passar" - Angra do Heroísmo, 1980. Destaco apenas as quadras que eu escolhi:
"(...)
2
Foi a abrir, dia primeiro,
Novo ano, ano de oitenta;
Da vida não se deserta -
Nem mesmo às três e corenta.
(...)
28
Padre, Filho e Espírito Santo,
As Doze, Quatro Ribeiras,
Ao centro muita ruína
Do mesmo modo nas beiras.
29
São perto de trinta igrejas
Cinco mil casas a eito;
A nascente, não são tantas,
Vestido já me não deito.
(...)
46
Foi, assim, pela Serreta
Pelo Raminho e Altares,
Padre Inocêncio acudiu
Com duas respostas pares:
47
- Já fiz oitenta e não vi
Calamidade maior
- Nunca houve, aqui na ilha,
Abalo destes pior.
48
Só mais tarde é que se soube
Que em São Jorge, a ilha além,
Havia pontas mexidas,
Como se fôra em vai-vem.
(...)"
Ainda me quedei na leitura de outro livro, catalogado com o nº 48657, que colheu a minha visão com alguma nostalgia porque o choro... esse contive no meu interior. Chama-se "Peripécias de um terramoto" de Veríssimo Toste de Castro - Angra do Heroísmo, datado de 23 de Novembro de 1980. Fixei esta expressão: "Para quem conhece poesia ou quadra popular, sabe que escrevê-las, é escrever prosa duas vezes" (in página 81).
Este livro contém 1006 quadras feitas por um homem que viveu este drama intensamente. Não consigo deixar de publicar algumas quadras que de igual modo escolhi levada apenas pela minha subjectividade. Todas elas estão ao alcance dos leitores que quiserem ler na íntegra. Admiro muito estes escritos populares e peço desde já ao autor do livro que me perdoe ter publicado apenas estas:
" (...)
17
Era dia de Ano Novo
Com tradição secular,
e usado no nosso povo
a família se juntar.
18
Todos juntos nesse dia!..
Dando graças ao Senhor
Com a maior alegria
Querendo um ano melhor.
19
Veio Ele de má maneira;
Com entrada desastrosa
quase destruiu a Terceira
Com S. Jorge e Graciosa.
(...)
26
Eis que se dá de repente
Como um valente esticão
e logo outro novamente
Começa às ondas o chão.
(...)
85
A Capela dos Remédios,
Ao Solar dos Provedores,
Amassou-se, em desespero,
Ai o massame e as dores.
(...)
289
É um facto que concebo;
Como plena realidade
Apanhou a Aida Mancebo
Com dezanove anos de idade.
290
Esta pobre e infeliz donzela
que o sismo fez sucumbir
com uma mana à janela
não lhe deu para fugir.
291
Enfrentou a sua sorte
permanecendo à janela
porque os desígnios da morte
estavam à espera dela.
292
A empena se vergou
ficando toda amassada
A pequena lá ficou
entre as pedras entalada.
(...)"
Aqui, fiz uma pausa na leitura e não resisti a eu mesma escrever isto:


Minha prima Aida caiu,
Junto com pedras p'ra estrada,
Tão nova e não resistiu
Nos Altares foi sepultada.
A amiga Zita Meneses
A quem eu queria tanto bem,
Já passaram tantos meses
Sua morte lembro também.
Estivemos na mesma escola,
Estudava com a ajuda dela,
Das Doze Ribeiras foi embora,
Uma homenagem devo a ela.
Azoriana