Encontro com a terra
Foi num sábado... o último de Maio. O último sábado do mês do coração, do mês de Maria, do mês... da inspiração. Um sábado claro, em que os azuis eram mais azuis e os verdes... os verdes quase cegavam. Sim! Fiquei cega pela paz da natureza, dos prados de mil verdes, daquela árvore solitária como que a dizer-me: Olha para mim, não me deixes aqui sozinha!
Caminhava pela canada que nesta tarde foi só minha... e dos pássaros... e das rãs que se escondiam no lodo do tanque à entrada do cerrado. Vi o melro que cortejava a sua companheira e, visitei, também, o moinho. Deste apenas resta o cilindro de pedra... nem janelas, nem portas... nem som! Ali, mora apenas a saudade (mas que palavra parva para os que já nem sequer sabem quantos taleigos sairam daquele canto há muito tempo largado).
- Que dia lindo! Que paisagem linda!
Um sábado para passear é especial. Tudo me cheirava bem (nem sempre assim pensei, mas hoje senti a tal diferença): o cheiro da terra, da bosta que sarapintava o chão por onde passei (Cuidado! Não vás sujar o calçado!). Fez-me pensar que as vacas são felizes ali... não se aborrecem com a rotina, são obedientes e não sabem de quaisquer leis a não ser a lei da voz: "Ei, vaca p'ra diente" - já não ouço este eco da voz do "titio", que há muito partiu; já não bebo do copo aquele leite acabadinho de sair das tetas da vaca submissa. Lembro-me que todos os dias corria direitinha ao curral onde o "titio" reunia as poucas vacas para encher as latas de leite... como era saboroso aquele leite quentinho! Eu permanecia do lado de cá da parede, não fosse a vaca espernear. Nesse tempo, eu era uma criança e só hoje percebo o quanto fui feliz. Houve algo que me impedia, agora, de ver bem a paisagem... marejava o olhar da saudade!
Tentei, então, alegrar-me de novo. Estava lindo demais para deixar entrar a tristeza, preferi convidar a alegria e deslumbrar-me na tarde com vista para as ilhas de São Jorge e Graciosa, bem ali na minha frente, uma à esquerda e outra à direita, respectivamente.
Deste terreno-chão eu podia tocar as duas ilhas com a minha mão. Agora e ali, nada me impediu este encontro com a terra da minha alvorada - Serreta "terreno alto sobranceiro ao mar".
Azoriana