Notícia (3) - O Cortejo Etnográfico
Teve lugar no Domingo, dia 19 de Junho, o Cortejo Etnográfico, enquadrado nas Festas Sanjoaninas 2005.
Como sempre, é um desfile que relembra o passado nas suas brincadeiras e afazeres do povo açoriano divertido, honrado e trabalhador.
Eis um pouco do que relembro:
Na primeira parte do desfile
Seguem crianças a brincar com bolas de sabão
Saltam à corda, fazem rodas cantando,
Nas sacas de lona enfiam os pés
E seguem aos saltos por citadino chão.
"A Teresinha de Jesus
Deu uma queda foi ao chão
Acudiu três cavaleiros
Todos de chapéu na mão.
O primeiro era seu pai,
o segundo seu irmão,
o terceiro foi aquele
que a Teresinha deu a mão."
Esta cantiga é antiga
bem como as bonecas de pano;
Galochas ressoam no leve passo
Jogos de arco e pião, carrinho de mão,
Pequenos quadros de ardósia
eram os cadernos da escola.
Depois continua a ilustração
do percurso da aguilhada,
da saca de retalhos,
da lata do leite e do guarda-sol todo preto;
da tourada à corda com pastores a rigor
os destemidos valentes de sempre.
A demonstração do jogo do pau da classe jovem,
em plena Rua da Sé,
defendendo-se agilmente
e se assim não for
levam um paulada num instante...
Os potes de água ao quadril das donzelas,
Ceifeiras desfilam prendadas
forquilha, pá, rodo, grade, celha
cestos de asa, espadana
saca de lona com a erva
o património das nossas gentes!
O vendedor de peneiras
o das laranjas sumarentas
o das socas de milho da ilha Terceira,
o de amendoim, tremoços e favas torradas.
Os pescadores também estão alinhados
com a lanterna da cera na mão
p'ras pescarias de farta escuridão.
Há redes e calças arregaçadas
para não ficarem alagadas!
Os caçador carregado de coelhos,
mais a caixa para o furão;
o cabreiro e o pastor no mesmo andar
levam as cabaças a tiracolo
as cabras e ovelhas vão guiar.
A cena continua na rua
desfila o carneiro puxando a carrocinha,
a lã das ovelhas vai p'ro tear
e as tecedeiras tem aqui aplaudido tecer.
Leiteiros nos seus jumentos,
e a carroça que distribui o leite
sem nunca esquecer o cão-de-guarda
nem tão pouco o comerciante das galinhas.
Moleiro não pode faltar
com punhados de farinha
que vai atirando aos presentes,
outrora eram os devedores,
que temiam estes repentes.
Carro com a rapa do mato,
para cozer o pão alvo
que o distribuidor, no seu carro de mão
levava aos mais de perto
e se fosse para mais longe
servia-se do carro do pão puxado pelo cavalo
para a clientela das freguesias.
É então que surgem os cavaleiros trajados
e com seus chapéus emplumados
a saudade atinge o nosso olhar,
são assim relembrados os antepassados.
Não podia faltar o típico carro de bois
as carroças puxadas por cavalos,
os trajes tradicionais em cores garridas
e dos tocadores de violas regionais
agora são de grupos folclóricos.
O milho torrado na saquinha de retalhos
p'ros dias de festa em terra brava
riscam os ares vozes e cantares
de uma bela aurora.
Seguem-se os pares
a junta de vacas, quase gémeas;
o casal asseado, de rico traje
leva a escritura da nova casa,
o chapéu e guarda-sol sempre a acompanhar.
As sacas de folha,
os pastores
as alfaias agrícolas a desfilar:
sachadeira, grade, arado,
cangas, sacas de folhada
cestos de vimes e de costas
e outras coisas mais...
E para a hora da refeição
a mulher leva o farnel
na cesta suspensa no braço.
A muda de casa, cena hilariante,
o pote da água, a panela de ferro,
a cama, colchão, o berço,
a celha, uma variedade de cestos,
as caixas de madeira para medir:
rasoira, meio alqueire, quarta,
meia-quarta e maquia
era tudo o que havia;
peneiras, até as ratoeiras,
as latas de leite, o regador
a pá do pão,
o varredor do forno de lenha,
e até o pau com mexedor;
luz de petróleo, griseta,
pratos e jarro de vinho,
e até desfila o penico
também entra no "bailarico"!
Passa-se agora à vindima
sem esquecer nenhum pormenor:
os cestos de costas e de asas
o lagar e o afamado garrafão
as canecas de barro e o canjirão;
a pipa do vinho de cheiro
em cima do carro de bois
e a cantoria do rodado lisonjeiro.
As meninas risonhas o dão a beber
e fazem nos rostos o sorriso brilhar
ao ouvir este cantar:
"O vinho é sangue de Cristo
Para quem o bebe à tabela
Mas a água está mais que visto
Não se pode passar sem ela!"
Vem agora o porco bem criado
prontinho para a sua matança
e os apetrechos estão alinhados:
o banco, as facas, as canas
as pedras, a salgadeira,
a panela de ferro e a trempe
alguidar para lavar as tripas
com folhas de milho, rama de cebola
e o sabão "macaco" para esfregá-las;
a salsa e as limas para aromatizá-las.
Outro alguidar já vai cheio
dos ingredientes para as morcelas
tudo isto aos quadris de donzelas,
e outras que levam os brindes
queijo, figos passados,
biscoitos, bolachas e coisas boas.
Não pode faltar o mata-bicho
licoroso e a angelica
aguardente num cantar a preceito
e "Vai tudo a eito".
Por fim fez-se representar
a união dos noivos à moda antiga
padrinhos e convidados tudo ali à maneira
e as sacas de retalhos com as ofertas.
A tradição desfila aos pares
a dama de capote não faltou
nem o padre, o sacristão
e o bispo benzendo com a mão
compenetrado nesta missão!
A camada nobre da sociedade
em vestimenta deslumbrante
segue em cores de alegria festiva
sorriem para toda a gente!
O Charabã é transporte colectivo
puxado por vistosos cavalos
a abastança de outros tempos
encerra este belo desfile:
os usos e costumes regionais,
deste povo Terceirense.
Fecha então o cortejo
o terceiro Charabã, de maior beleza,
digno de qualquer realeza...
Fecho este expositivo
de mais um dia significativo
das festas Sanjoaninas 2005.
Bem hajam a todos!
Azoriana