15 Sonetos - Ó Terceira!
I - Bravo berço
Depois dos meus quarenta há descoberta
em réstias brancas só improviso
não sei de quanto mais será preciso
para cantar e ver minh'alma liberta
da saudade que no coração aperta
nesta ilha mora a cor de algum riso
que dizem semelhante ao paraíso
(bem me lembro de deixar porta aberta).
Recordo datas "made in" chafarizes
marcas de mãos que fazem história
de profissionais e outros aprendizes.
Colossais monumentos de primeira
Castelos, Igrejas, Praças, Memória:
Bravo berço donde vens, Ó Terceira!
II - Bordada de lilás
Bravo berço donde vens, Ó Terceira!
faz-se fé nas festas. Há mais touradas;
estas gentes querem-se animadas.
(Ao tremoço se dançou à volta da eira.)
Na ilha que foi sempre tão festeira
hortênsias cativam seus pedaços
na lava fria nascem rosas e laços
e se há dor que seja passageira.
Sofremos e rimos quase num só dia...
É verdade! Acreditem que nós cremos
que Deus nos dá nova alegria.
E Maria, Mãe de Jesus, é presente.
A devoção ativa nossa voz,
bordada de lilás, de amor ardente.
III - Corpo pitoresco
Bordada de lilás, de amor ardente,
a manta de retalhos (sonhos reais)
nas varandas luzem flores demais
o amor nascido dum olhar somente.
Em penas me sinto. Sou diferente?!
Já não avisto chilreio dos pardais;
O cheiro dos jardins, doutros quintais,
insiste em bailar nesta minha mente.
Perco-me em sonhos por entre mares
na lua deposito meus desejos
que ficam espalhados pelos ares.
Voltam ao coração independente
na lembrança de mansos e ternos beijos
- teu corpo pitoresco que bem sente.
IV - Linda Ilha Terceira!
Teu corpo pitoresco que bem sente
a brisa que corre por entre os dedos
baloiça a música dos arvoredos
da terra que no mapa vem assente.
Linda Terceira! Há quem por ti cante;
sai e vai dar a volta à ilha sem medos
nos Bailinhos lavram nossos enredos
bem lembrados do povo emigrante.
Há outras modas também com valores
nas vozes que p o desafio nasceram
dos nossos conhecidos cantadores
que sabem ilustrar esta Terceira
e perto do mar cantaram e viram
o pé de sal subindo a escaleira.
V - Convite (o mar é que nos tempera)
O pé de sal subindo a escaleira
leve, fresco, sem pressas com certeza
mostrando tanto encanto e beleza
da juventude em tez prazenteira.
E se quiseres vir p'ra nossa beira
motivos encontrarás de certeza:
alcatras, arroz-doce, pão na mesa
fazem as honras à boa cozinheira.
Os guisados, cozidos e bons grelhados
não faltarão. Terás de ter proventos,
já lá vai o tempo das graças (fiados).
Mas se esta não foi a melhor maneira
traz tua tenda em sãos movimentos:
Teu verão passas na zona costeira.
VI - Angra de encanto e Heroísmo!
Teu verão passas na zona costeira
e no mar fitas a onda que satisfaz
sei que depois sentir-te-ás capaz
d'enfrentar uma tarde Domingueira.
Creio ser uma tese verdadeira
o prazer que o mar em versos nos traz,
nossa baía com festa e cartaz
do Santo que faz saltar na fogueira.
Angra foi e será sempre um encanto
canta na marcha, reza à procissão
e no mar também já se viu pranto.
Marina já cativou tanta gente
à beira-mar solta ao sol d'emoção
abrem-se guarda-sóis divinamente
VII - Olé! Toiro
Abrem-se guarda-sóis divinamente
o Capinha enfrenta a raça pura
passo dado face à cabeça dura
dum toiro nessa arte repetente.
É bom vê-lo na corrida corrente
os "Olé!" qu'alegram lilás bravura;
lindas armas, de negra formosura
no símbolo regional imponente.
Na Salga, palco de lutas renhidas,
estes animais fizeram tal furor
deixaram estreitas quaisquer saídas.
Hoje, esse perigo é ausente
e ao longe quando passa vapor
esfregas teu olhar avistas contente.
VIII - O Sonho (1)
Esfregas teu olhar avistas contente,
montinhos de lava, digo Açores!
Sonho conhecer o Corvo e junto Flores
(é preferível em época quente).
Porque estas ilhas se olham de frente
guarnecidas das mais bonitas cores
talvez oásis de muitos amores
nesses campos do grupo a ocidente.
Santa Maria, estrela formosa
nome de Mãe, (outra que não fui ver):
primeira ilha, um botão de rosa.
Por encanto fico cá pela Terceira
junto da areia não quero perder
o sol que cobre a espreguiçadeira.
IX - Junho em festa
O sol que cobre a espreguiçadeira,
convida a lua p'ra bailar na Praça
e a noite ganha logo tanta graça
quando chega tão boa companheira.
Em Junho a festa toma a dianteira
junta-te a nós não percas a folia
no tempo que a noite parece dia
convida a estear nossa bandeira.
Então a noite se veste de olhares
vendo que na noite o dia acontece
e que a vida tem brilho nalguns lares.
Na noite vês Castelo ancorado
ao Monte Brasil que de lá enaltece
Silveira e Prainha do nosso lado.
X - O Sonho (2)
Silveira e Prainha do nosso lado
Negrito e Porto das Cinco além,
fazem as delícias de quem tem
no mar espelho de corpo moldado
nas voltas que dá ao banho salgado.
Esta paixão sei que a todos convém
mas p'ra mim não fico muito aquém
porque em terra é que ando e não nado.
Há um sonho que se agita em mim
uma onda que vai e vem devagar
ser sereia neste mar só por fim.
E quantas vezes já senti uma dor no
momento que já não posso saltar
trampolins da terra e mar sem transtorno.
XI - Continhas de luz
- Nossa Senhora dos Milagres
Trampolins da terra e mar sem transtorno
e o mundo será visto doutra forma,
nem seria preciso tanta norma
(ódio seria menos que morno).
Ao amor demos lugar e vamos pôr no
coração leis que não tenham reforma
porque o Livro de Deus bem nos informa:
Para segui-Lo não há desadorno...
Nesta ilha, bem pertinho da serra,
temos Imagem da Virgem Senhora
nosso amparo que brilha na terra
e do seu rosário iluminado
continhas de luz a toda e qualquer hora
presenteiam teu corpo de dourado.
XII - Monte Brasil
Presenteiam teu corpo de dourado
o sol e as estrelas com versos de luz
nesse caminho que mais me seduz
vejo o mar p'la areia encantado.
No horizonte encontro talhado
entre céu e mar nossa Ilha de Jesus
no cimo do Monte ergueu-se a Cruz
marco histórico ali plantado.
Avista na frente a nobre cidade
e no seu ventre tingido de verde
encerra cratera de muita idade.
E se há amor assim em demasia;
e se é num vulcão que tudo se perde
há quem prefira calma moradia.
XIII – Preferências
Há quem prefira calma moradia
e p’ró amor construa novo tecto
debruado com ternura e afeto
combinando alguma fantasia.
Há quem prefira ter por mais um dia
ramo de rosas no tom predileto
enlaçado por um beijo secreto
numa surpresa que canta alegria.
Há quem prefira, enfim, outra prenda
e que no céu uma parte conquista
mas para isso tem de haver emenda.
Ai, se o amor quisesse meu retorno
qual pincel que voa quando o artista
deixa o azul e veste o verde, doce adorno.
XIV - Ó que saudade!
Deixa o azul e veste o verde, doce adorno
na descida da serra até à encosta
e no vale chaminé de "mão-posta"
deixa escapar bom cheiro do seu forno
que leva o olhar a seguir seu contorno.
No lar a alva toalha deixa exposta
a côdea que tanta gente gosta...
Ao passado eu volto (bom retorno)
ao tempo da minha tenra idade
de um trago recebia massa e pão
das mãos da minha mãe... Ó que saudade!
Guardo no paladar doutra alegria
no calor do amor, do bom serão
tecido na pacata freguesia.
XV - Síntese - Ó Terceira!
Bravo berço donde vens, Ó Terceira!
Bordada de lilás, de amor ardente;
teu corpo pitoresco que bem sente
o pé de sal subindo a escaleira.
Teu verão passas na zona costeira
abrem-se guarda-sóis divinamente
esfregas teu olhar avistas contente
o sol que cobre a espreguiçadeira.
Silveira e Prainha do nosso lado,
trampolins da terra e mar sem transtorno
presenteiam teu corpo de dourado.
Há quem prefira calma moradia.
Deixa o azul e veste o verde, doce adorno
tecido na pacata freguesia.
Rosa Silva ("Azoriana")
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