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Açoriana - Azoriana - terceirense das rimas

Os escritos são laços que nos unem, na simplicidade do sonho... São momentos! - Rosa Silva (Azoriana). Criado a 09/04/2004. Angra do Heroísmo, ilha Terceira, Açores. A curiosidade aliada à necessidade criou o 1

Criações de Rosa Silva e outrem; listagem de títulos

Em Criações de Rosa Silva e outrem
Histórico de listagem de títulos,
de sonetos/sonetilhos
(total de 1010)

Motivo para escrever:
Rimas são o meu solar
Com a bela estrela guia,
Minha onda a navegar
E parar eu não queria
O dia que as deixar
(Ninguém foge a esse dia)
Farão pois o meu lugar
Minha paz, minha alegria.
Rosa Silva ("Azoriana")
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Com os melhores agradecimentos pelas:
1. Entrevista a 2 abril in "Kanal ilha 3"

2. Entrevista a 5 dezembro in "Kanal das Doze"

3. Entrevista a 18 novembro 2023 in "Kanal Açor"

4. Entrevista a 9 março 2025 in "VITEC", por Célia Machado

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A carta vencedora do Concurso Particular "Carta à Moda Antiga"

31.07.05 | Rosa Silva ("Azoriana")

Carta #7 - Vencedora do Concurso Particular:
"Carta à Moda Antiga"

Carta 7

Transcrição:

"Amor

A minha noite é como um grande coração a bater.
São três e meia da manhã.
A minha noite não tem lua. A minha noite tem grandes olhos que observam fixamente uma luz cinzenta a filtrar-se pelas janelas. A minha noite chora e a almofada torna-se húmida e fria. A minha noite é longa e longa e longa e parece sempre estender-se para um fim incerto. A minha noite lança-me na tua ausência. Procuro-te, procuro o teu corpo ao meu lado, a tua respiração, o teu cheiro. A minha noite responde-me: vazio. A minha noite dá-me frio e solidão. Procuro um ponto de contacto; a tua pele. Onde estás? Onde estás? Viro-me para todos os lados, com a almofada húmida, onde a face se cola, os cabelos molhados nas têmporas. Não é possível que não estejas presente. A minha cabeça vagueia, os meus pensamentos vão, vêm e esmagam-se, o meu corpo não pode compreender. O meu corpo, este ocaso mutilado gostaria por um momento aquecer-se no teu calor, o meu corpo implora algumas horas de serenidade. A minha noite sabe que eu gostaria de te olhar, de acompanhar com as mãos cada curva do teu corpo, de identificar o teu rosto e acariciá-lo. A minha noite sufoca-me com a tua falta. A minha noite palpita de amor, aquele que tento conter mas que palpita na penumbra, em cada uma das minhas fibras. A minha noite gostaria de chamar-te mas não tem voz. Gostaria, contudo, de te chamar e de te encontrar e de se apertar um momento contra ti e de esquecer este tempo que massacra. O meu corpo não pode compreender. Ele tem tanta necessidade de ti como eu, talvez, afinal ele e eu não formemos senão um. O meu corpo precisa de ti, muitas vezes quase me curaste desta solidão. A minha noite escava-se até já não sentir a carne e o sentimento torna-se mais forte, mais agudo, despido de substância material. A minha noite queima-me de amor.
São quatro e meia da manhã.
A minha noite esgota-me. Ela bem sabe que me faltas e toda a sua obscuridade não chega para esconder essa evidência. Essa evidência brilha como uma lâmina no escuro. A minha noite gostaria de ter asas que voariam até junto de ti, que te envolveriam no teu sono e te trariam até mim. Sentir-me-ias perto de ti no teu sono, e os teus braços enlaçar-me-iam sem que acordasses. A minha noite não é boa conselheira. A minha noite pensa em ti, sonha acordada. A minha noite torna-se triste e perde-se. A minha noite acentua a minha solidão, todas as minhas solidões. O seu silêncio ouve apenas as minhas vozes interiores. A minha noite é longa, e longa, e longa. A minha noite recearia que o dia já não aparecesse mais, mas, ao mesmo tempo, a minha noite tem a sua aparição, porque o dia é um dia artificial em que cada hora conta a dobrar e sem ti não é verdadeiramente vivido. A minha noite pergunta se o meu dia não se parece com a minha noite. A minha noite tem vontade de me vestir e de me empurrar para a rua, para ir procurar o meu homem. Mas a minha noite sabe que aquilo a que se chama loucura, de toda a ordem, semeia ventos. A minha noite ama-te de todas as suas profundezas. A minha noite alimenta-se de ecos imaginários. Ela pode fazê-lo. Eu fracasso. A minha noite observa-me. O seu olhar é suave e corre furtuivamente sobre todas as coisas. A minha noite gostaria que estivesses aqui para também correr sobre ti com ternura. A minha noite aguarda-te. O meu corpo espera-te. A minha noite gostava que repousasses no côncavo do meu ombro e que eu repousasse no côncavo do teu. A minha noite quereria ser espectadora do teu gozo e do meu gozo, ver-te e ver-me estremecer de prazer. A minha noite queria ver os nossos olhares cheios de desejo. A minha noite quereria ter cada espasmo entre as mãos. A minha noite tornar-se-ia meiga. A minha noite geme em silêncio a sua solidão ao recordar-se de ti. A minha noite é longa, e longa e longa. Fica enlouquecida mas não pode afastar de mim a tua imagem, não pode submergir o meu desejo. Ela quase morre de não te saber aqui, e mata-me. A minha noite procura-te sem cessar. O meu corpo não consegue conceber que algumas ruas ou uma geografia qualquer nos separem. O meu corpo enlouquece de dor por não poder reconhecer o teu vulto ou a tua sombra no meio da minha noite. O meu corpo queria beijar-te no teu sono. O meu corpo queria dormir em plena noite e ser despertado porque tu me beijavas. A minha noite não conhece hoje sonho mais belo e mais cruel do que esse. A minha noite uiva e rasga os seus véus, a minha noite choca com o teu próprio silêncio, mas o teu corpo continua impossível de encontrar.
Fazes-me tanta, tanta falta. E as tuas palavras...
O dia está quase a nascer.
Mil beijos"

Datada de 11-03-2005

Enviada por: Maria Custódia Pereira

A final está quase...

31.07.05 | Rosa Silva ("Azoriana")



Final do Concurso Particular "Carta à Moda Antiga"


Às 18 horas do dia 31 de Julho de 2005 (horas dos Açores) dou por encerrada a votação dos visitantes.
Vencerá a carta que a esta hora tiver o maior número de votos.
Depois desta hora farei um texto alusivo a este assunto com a respectiva divulgação da autoria da carta vencedora. Apresentarei, também, a lista dos concorrentes por ordem decrescente.
Agradeço a participação de todos quer concorrentes, quer votantes.
O(a) vencedor(a) terá de enviar para o meu e-mail o seu contacto para que lhe seja enviada uma pequena lembrança.
Para mim, todas as cartas são lindas e não consegui escolher só uma. Por isso, deixo aqui um Abraço de Amizade para todos(as).
Bem Haja! E continuem a escrever.
Beijos!

Azoriana

Carta à moda antiga - vencedora (e lista das concorrentes)

31.07.05 | Rosa Silva ("Azoriana")

CARTA VENCEDORA


Carta #7


Maria Custódia Pereira


2º Lugar: Carta #1 de Alberto Flores

3º Lugar: Carta #3 de Sónia Bettencourt

4º Lugar: Carta #4 de Maria Roxo

5º Lugar: Carta #2 de Jorge Oliveira

6ºs Lugares: Carta #5 de Tere Penhabe e Carta#6 de Mica Carreiro

Um abraço afectuoso para todos(as)
Entrarei em contacto com a Vencedora.

Declaro encerrado o concurso particular
"Carta à Moda Antiga".
31 de Julho de 2005