Os escritos são laços que nos unem, na simplicidade do sonho... São momentos! - Rosa Silva (Azoriana).
Criado a 09/04/2004. Angra do Heroísmo, ilha Terceira, Açores. A curiosidade aliada à necessidade criou o 1
Criações de Rosa Silva e outrem; listagem de títulos
Motivo para escrever: Rimas são o meu solar Com a bela estrela guia, Minha onda a navegar E parar eu não queria O dia que as deixar (Ninguém foge a esse dia) Farão pois o meu lugar Minha paz, minha alegria. Rosa Silva ("Azoriana") ********** Com os melhores agradecimentos pelas: 1. Entrevista a 2 de abril in "Kanal ilha 3" 2. Entrevista a 5 de dezembro in "Kanal das Doze" 3. Entrevista a 18 de novembro 2023 in "Kanal Açor" **********
26-09-2005: Uma tarde com direito a tolerância de ponto, no concelho de Angra do Heroísmo, incentivou-me a ir ver a tradicional tourada da segunda-feira de São Carlos. Cheguei cedo e arranjei assento num muro alto e vistoso. Passado um bocado, vi chegar o transporte com as gaiolas e a boa disposição dos acompanhantes, provocando uma animação no arraial. Vieram para a estrada os toiros bem seguros pelos pastores que evitam que o animal ultrapasse os riscos pintados no chão, que determinam a área da corrida do toiro e actuação do capinha a pé. Participaram quatro ganaderias diferentes. Eu preferi um dos toiros, por ser mais fotogénico. Todos fizeram as delícias duma tarde que para mim foi a primeira. Não me lembro de já ter visto toiros neste dia, neste local de muros bem altos e residências centenárias. Acabada a folia disparei um andamento certeiro e cheguei a casa com os pés cansados e contentes. Para mim foi talvez a última tourada deste ano bem como o tempo de fechar com "chave de ouro" as festas de verão. Haja saúde e até para o ano, se Deus quiser.
25-09-2005, o último Domingo de Setembro, foi o dia da tradicional "Tourada do Porto" na Calheta, da freguesia dos Biscoitos, iha Terceira, Açores. Sempre me lembro de ser assim. O dia amanheceu convidativo para uma viagem de camioneta, o transporte colectivo de passageiros, da nossa Empresa de Viação Terceirense. Os preparativos foram ligeiros e vamos que se faz tarde. A paisagem, ao longo do percurso Angra - Biscoitos, estava um encanto. Talvez porque é bom viajar com distância no tempo e no espaço. Passei pela minha freguesia natal, Serreta, e no coração da Terceira, como costumo apelidar a "Mata da Serreta", local onde os piqueniques são o atractivo no verde ideal. Seguiu-se a freguesia do Raminho, que há muito não via e está bela e asseada. Depois os Altares, onde residi durante uns anos, e finalmente, a freguesia dos Biscoitos, o destino a que me propus neste Domingo de sol. Descemos a rua a pé com a mala da paparoca, com um sorriso bem disposto, até à Calheta dos Biscoitos, onde iria decorrer a festa brava. Claro que ainda era cedo para o desfile dos toiros presos pela corda ao pescoço. Eu já sabia que não ia ver nenhum porque tinha que regressar na última camioneta e não dava tempo de esperar pela saída nem do primeiro bicho bravo. Então, quis aproveitar ao máximo este passeio domingueiro. Dei uma volta pelo local e atraíu-me o mar. Aqui o mar é o dono poderoso. Estava algo revoltado. As ondas irrequietas galgavam as rochas desenfreadamente num espumante alvo. Assustou-me! Cheguei perto delas porque vi algumas pessoas reunidas na zona alta, a seguir à piscina natural. Fiquei curiosa. Nada me indicava que tinha havido uma tragédia. Chamou-me a atenção uma fita a vedar a passadeira onde eu gostava de me aproximar do mar mas como não dava para banhar, pensei ser um sinal de interdição de banhos. Não permaneci ali muito tempo e voltei para a zona dos calhaus e onde ia decorrer a festa. Umas frutas, água e um descanso numa mesa junto ao bar fizeram-me ouvir as vozes a comentarem que alguém tinha sido captado pelas águas. Espantada perguntei o que tinha acontecido e disseram-me que uma jovem tinha sido arrancada das rochas pelo mar e outra e mais uns rapazes. Pormenores não insisti em saber. Fiquei a pensar: Oh! Mas que tragédia! Uma moça, já se sabia, tinha falecido. Senti uma inquietação, uma tristeza. O mar... o mar... o mar... sempre o mar! Talvez ele, o mar, tenha avisado que estava alvoraçado... (eu percebi logo isso) que era tempo de só o avistar, de longe... Enfim, um acontecimento inesperado e doloroso. Procurei os meus familiares e fiquei-me a olhar de longe o movimento no arraial. Penso que neste dia não havia conversa que não se falasse dos (6 ou 7) jovens ao mar; na chegada das ambulâncias, da tragédia... Antes das cinco da tarde já eu me fazia ao regresso com destino a casa... e sempre carregava na mente... "o mar hoje estava revoltado", mas é um dos seus estados normais, num dia normal, com factos anormais. Gosto do mar mas só do avistar! Por favor, lembrem-se sempre: o mar é nosso amigo mas avisa-nos do perigo.
É possível escrever uma prosa, com sentido, pegando em pedacinhos de muitos sentidos. Assim, uni-os e o texto fluiu:
Tudo é belo nessa Terceira. De lés a lés bebi as saudades de uma Terceira distante. Quase sempre os fundos de gavetas cheiram a saudade. Obrigado pelo tempo, pelas palavras, pela distância. Virei todos os dias à alvorada do teu verbo. Um sorriso enorme para ti (bem o mereces). Entendo agora porque o mar te fez prisioneira.
Eu sei de quem é a autoria. Eu costumo guardar todas as autorias. A prosa denuncia uma saudade... essa saudade que hoje sinto. Estou prisioneira do mar e do ar que não me leva onde eu quero. Tem tudo a ver com as quadras a seguir:
Estou numa jangada de terra com o pensamento além mar: Não foi ninguém para a guerra só sei que está a estudar...
O dia já está a raiar, Salvé! É teu aniversário; O primeiro fora do lugar onde tinha o seu armário...
Um armário com o meu amor trabalho e dedicação, ofereço-lhe quadras em flor e todo o meu coração!
Um grande beijinho para o primogénito Há semanas que não o vejo; algures no Alentejo
Quando te leio, sinto a nostalgia do tempo que nos separou entre o oceano e a ilha que te abrigou, sinto a água do mar revoltada pelo nosso afastamento, ainda que por breves momentos me recordo dos beijos que trocamos. O teu cabelo sabia a sal. Beijei-te e fiquei por ali eternamente, preso àquele momento que me consumia e me dava vida... Desejei nunca mais acordar e entrei no nosso mundo, um criei à parte deste, só para ti. Lá desenhei castelos e verdes prados, dei vida a animais selvagens, seres nos quais já não acreditas. Havia fadas, duendes e até um pequeno unicórnio... desenhei para ti um rio de agua transparente, fresca, com pequenas pedrinhas coloridas no fundo, com cascatas que cantavam enquanto adormecíamos no vale. De vez em quando, uma ou duas borboletas passeavam-se por ali, batendo as asas ligeiramente, penso que era delas que vinha aquela brisa de verão. Deixei que dormisses... só tu sabes como precisavas desse sono, desses sonhos... o meu, estava a realizá-lo naquele preciso momento. E não me conseguindo suster, deixei escorregar uma pequena gota de água dos meus olhos, uma gota de um azul brilhante, luminosa, que deixava transparecer toda a felicidade que sentia... por vezes pergunto-me se em algum tempo voltarei a ser tão feliz... Com os dedos desenhei na areia, junto ao riacho, uma pequena espiral de desejos, começavam de fora para dentro, primeiro os grandes, extensos, depois cada vez mais pequenos, mais simples, cada vez mais importantes, cada vez mais difíceis de alcançar, até chegar a um ponto final, que és tu... e aí deixo cair mais uma lágrima que não resvala, não desaparece entre os grãos de areia... fica ali suspensa, como que te acarinhando e segurando, para que não voltes a fugir de mim. Molhei os dedos no rio, e ao lado da espiral fiz apenas dois traços, de alto a baixo, para te lembrar que somos dois e até podemos ser sempre diferentes, sempre distantes, sempre únicos, mas nunca deixaremos de ser azuis, pois somos da mesma agua, do mesmo fogo, da mesma terra, da mesma brisa que sopra... e o meu espírito, esse é teu! Então desenhei mais quatro pequenos pontos ao lado dos traços. Por fim apenas soprei... a espiral ergueu-se no ar, em tons de vermelho forte e carmim, subiu, subiu e explodiu numa nuvem de pequenos brilhantes que desceram sobre ti, alojando-se nas tuas faces ruborizadas, nos teus cabelos dourados, no teu corpo coberto por uma fina túnica branca... Não quis perder aquele momento e então guardei todo o meu desenho numa pequena garrafa de vidro, tapei com uma pequena rolha de cortiça, selei-a com um pequeno de lápis de lacre e envolvi-a no pequeno lenço de seda que usei outrora para te limpar as lágrimas do rosto. Voltei para junto de ti... dormias ainda, serena, silenciosa, secreta, sozinha, sem medo, sem pressa de viver, sem vontade de acordar... Beijei-te o cabelo, sabia a sal... estava preso naqueles cheiros e sabores e texturas e acima de tudo na tua luz e nos nossos dois traços azuis, nos quatro pontos elementares e nos meus sonhos que são, afinal de contas, só um... Suavemente, suspiraste... acordaste... eu sorri... perguntei-te com que sonharas, mas não respondeste, sacudiste as pequenas pedrinhas de sal da cara e do cabelo, levantaste-te e foste embora. Não quis perder aquele momento e guardei-o para sempre dentro de uma pequena garrafa de vidro...
Num jardim da cidade reinava harmonia e paz os canteiros com boa idade: O sonho não se desfaz! Uma rosa trabalhava, animava outras flores no seu canteiro brilhava o exemplo dos Açores.
Um dia um pombo voou, uma laranja vinha no bico, perto da rosa pousou, aqui fica o que foi dito: - Eu vivo neste jardim, no meio de amizades, as flores aqui junto a mim, só querem felicidades!
Responde o pombo matreiro, com um sorriso amistoso: - Sou o novo jardineiro, venho num voo honroso! Esta laranja que trago, de sementes fabulosas, não irá causar estrago, a este jardim de rosas.
A rosa, no jardim certeira, retorquiu de seguida: - Eu sou flor trabalhadeira, a um projecto eu dei vida! Tua laranja está esquecida, o campo foi-te fechado, deve estar apodrecida, pousou no jardim errado.
O pombo fica sofrido, voa para destino incerto, a laranja em tom dorido, sentiu-se como num deserto. Mas a rosa que é bondosa, perante toda aquela cena, sentiu-se mais poderosa, e cantou p'ra açucena:
- Este meu lindo lugar, não se deve desfazer, quero continuar a tratar destas cores com prazer. Vamos todos a cantar, neste jardim encantado, os canteiros enfeitar, num abraço partilhado!
Uma história com moral: Leituras têm reacções, Panfletos, é tão normal, arrastam as opiniões. Na campanha que é local, p'ras renhidas eleições, p'ro Povo é habitual, nas urnas vão as razões.
A política no meu entender, vale tudo, luta-se p'lo cargo, mas é preciso bem dizer, se não fica um caso amargo. "Porque Angra está melhor" isso vê-se neste presente, para mim o que está pior: um adjectivo mui repetente.
Porque não se dão as mãos numa verdade comum, no povo há corações, com valor em qualquer um. Esta vida são dois dias, interessa o bem estar, uns com tantas regalias, outros há a bom chorar.
Melhor! É o que está no ar, tudo merece mesmo o Melhor; Não se tire "o santo do altar", se faz trabalho com valor! As oitavas estão compridas, tenho agora que as parar, com cordiais despedidas: Angra, Cidade exemplar!