Em dia da "Tourada do Porto" - Biscoitos
25-09-2005, o último Domingo de Setembro, foi o dia da tradicional "Tourada do Porto" na Calheta, da freguesia dos Biscoitos, iha Terceira, Açores. Sempre me lembro de ser assim.
O dia amanheceu convidativo para uma viagem de camioneta, o transporte colectivo de passageiros, da nossa Empresa de Viação Terceirense.
Os preparativos foram ligeiros e vamos que se faz tarde.
A paisagem, ao longo do percurso Angra - Biscoitos, estava um encanto. Talvez porque é bom viajar com distância no tempo e no espaço.
Passei pela minha freguesia natal, Serreta, e no coração da Terceira, como costumo apelidar a "Mata da Serreta", local onde os piqueniques são o atractivo no verde ideal.
Seguiu-se a freguesia do Raminho, que há muito não via e está bela e asseada. Depois os Altares, onde residi durante uns anos, e finalmente, a freguesia dos Biscoitos, o destino a que me propus neste Domingo de sol.
Descemos a rua a pé com a mala da paparoca, com um sorriso bem disposto, até à Calheta dos Biscoitos, onde iria decorrer a festa brava.
Claro que ainda era cedo para o desfile dos toiros presos pela corda ao pescoço. Eu já sabia que não ia ver nenhum porque tinha que regressar na última camioneta e não dava tempo de esperar pela saída nem do primeiro bicho bravo.
Então, quis aproveitar ao máximo este passeio domingueiro.
Dei uma volta pelo local e atraíu-me o mar. Aqui o mar é o dono poderoso. Estava algo revoltado. As ondas irrequietas galgavam as rochas desenfreadamente num espumante alvo. Assustou-me!
Cheguei perto delas porque vi algumas pessoas reunidas na zona alta, a seguir à piscina natural. Fiquei curiosa.
Nada me indicava que tinha havido uma tragédia. Chamou-me a atenção uma fita a vedar a passadeira onde eu gostava de me aproximar do mar mas como não dava para banhar, pensei ser um sinal de interdição de banhos.
Não permaneci ali muito tempo e voltei para a zona dos calhaus e onde ia decorrer a festa.
Umas frutas, água e um descanso numa mesa junto ao bar fizeram-me ouvir as vozes a comentarem que alguém tinha sido captado pelas águas. Espantada perguntei o que tinha acontecido e disseram-me que uma jovem tinha sido arrancada das rochas pelo mar e outra e mais uns rapazes.
Pormenores não insisti em saber. Fiquei a pensar: Oh! Mas que tragédia!
Uma moça, já se sabia, tinha falecido.
Senti uma inquietação, uma tristeza.
O mar... o mar... o mar... sempre o mar! Talvez ele, o mar, tenha avisado que estava alvoraçado... (eu percebi logo isso) que era tempo de só o avistar, de longe...
Enfim, um acontecimento inesperado e doloroso.
Procurei os meus familiares e fiquei-me a olhar de longe o movimento no arraial.
Penso que neste dia não havia conversa que não se falasse dos (6 ou 7) jovens ao mar; na chegada das ambulâncias, da tragédia...
Antes das cinco da tarde já eu me fazia ao regresso com destino a casa... e sempre carregava na mente... "o mar hoje estava revoltado", mas é um dos seus estados normais, num dia normal, com factos anormais.
Gosto do mar mas só do avistar!
Por favor, lembrem-se sempre: o mar é nosso amigo mas avisa-nos do perigo.
Azoriana