Flores do Senhor (Dedicatória)
Há dores da alma e corpo
Todas na sua medida,
Menos que o Senhor no horto
Que por nós deu Sua vida.
Há quem suporte com fé
Quase tudo o que acontece
Mas nem sempre assim é
Porque a dor nos desfalece.
Cada ser tem história
P'ra legar aos descendentes;
No livro da memória
As lágrimas são patentes.
Penso que nasceu o fado
P'ra cantar triste destino
Por vezes acompanhado
Do acorde lindo e fino.
[...]
Dizem que a consolação
É Deus, Paz e mais Amor,
Fruto do bom coração
Mesmo sendo tão sofredor.
- Os Santos foram assim,
Suportaram tanta dor
P'ra serem flores do jardim
De Cristo Nosso Senhor. -
Quem pudesse ser também,
Na hora da despedida,
Uma das flores do Além...
- Utopia desmedida?!
Já não há flores assim;
Há um mundo incolor,
Que caminha para o fim
Num veleiro sem amor.
Na proa vai fingimento,
Na popa contradições;
Navega em desalento
Vai perdendo munições.
Antes que ele então vire
E vá direito p'ro fundo...
Peço a Deus que nos atire
Um ramo de amor profundo.
Nos ramos da madrugada
Desta pátria querida
Tine a voz de Deus, vincada,
P'ra nos dar força e vida!
Rosa Silva ("Azoriana")