Cada vez o fogo me arde mais
Outrora era nas andanças
do "mijinho do Menino"
ou a cantar nas matanças
que sentiam o destino
Esta quadra deu-me um dia,
Em "cantoria" escrita,
Um "cantador" com valia
Mas sem sua graça dita.
Foi a curiosidade,
Que assalta o feminino,
Em saber a identidade
Deste nobre masculino.
Tombou logo o improviso,
Travou-se a edição,
Fiquei pobre, sem sorriso,
Saudade veio em botão.
Hoje, manhã sonhadora,
Deu-me versos matinais,
Estava eu como cantora
Num dos nossos arraiais.
Ninguém impede meus gostos
Que brotam do coração;
Enfrentei já muitos rostos
Quando lia à multidão.
Faz-me falta a viola,
E seu toque inspirado;
Confiança versus escola
Meio caminho andado.
O «PEZINHO» e a «CANTORIA»,
Enchem a ilha de Jesus,
Querem dom mais melodia
E na trova faz-se luz.
Mas a luz só vai ter brilho
No despique com parceiro.
(Não pode ter andarilho
Tem de ter andar matreiro).
E se juntar a beleza
Que a nossa ilha oferece,
Afirmo, com mais certeza,
Que a rima logo aquece.
É o calor de vulcão
Numa lava de cantigas
Que chama a multidão
A dar-nos palmas amigas.
Mas se o invés acontece
E a lava fica fria...
Nem tudo é o que parece
Muda-se a parceria.
O truque da cantoria,
Cá no meu fraco entender,
É não mostrar agonia
É não ter algo a TREMER.
Não se sentir humilhado,
Nem fazer humilhação,
Só quem não tiver pecado
Pode pôr alguém ao chão.
E mesmo assim atraiçoa
O cerne do catecismo
Há sempre algo que magoa
Como o TREMER de um sismo.
Que mais provas posso dar
Do amor p'lo desafio?
Só me falta é cantar
Como em virtual saiu.
Quero saber a resposta,
Vem daí, Ó CANTADOR,
Se na minha rima aposta
Volte, volte, por favor!
Um dia já me disseste
Ser "cantadeira assumida",
Desde aí algo fizeste
P'ra me tornar conhecida.
E nas ruas da cidade
Património Mundial,
Percebi toda a vontade
De eu seguir no ritual.
Mas, ali, naquela altura,
Não segui o seu apelo:
Pois naquela formatura
Empenava o cotovelo.
"Cantadeira"
Rosa Silva ("Azoriana")
2008/07/24