Os escritos são laços que nos unem, na simplicidade do sonho... São momentos! - Rosa Silva (Azoriana).
Criado a 09/04/2004. Angra do Heroísmo, ilha Terceira, Açores. A curiosidade aliada à necessidade criou o 1
Criações de Rosa Silva e outrem; listagem de títulos
Motivo para escrever: Rimas são o meu solar Com a bela estrela guia, Minha onda a navegar E parar eu não queria O dia que as deixar (Ninguém foge a esse dia) Farão pois o meu lugar Minha paz, minha alegria. Rosa Silva ("Azoriana") ********** Com os melhores agradecimentos pelas: 1. Entrevista a 2 de abril in "Kanal ilha 3" 2. Entrevista a 5 de dezembro in "Kanal das Doze" 3. Entrevista a 18 de novembro 2023 in "Kanal Açor" **********
Lembras-te das cartas que se escreviam antigamente de cá para lá e vice-versa? Começavam mais ou menos assim:
Em primeiro lugar, escrevo-te estas mal notadas linhas para saber da tua saúde bem como da do teu marido e do bichano. Nós por cá vamos na forma do costume, graças a Deus.
(Se fosse hoje, eu dizia que não vamos melhor porque não se pode e já é muito raro cartas destas :) pois os correios electrónicos dispensam tais formalismos.)
RECORDANDO:
Era interessante ver a minha avó a escrever à sua irmã emigrada na Califórnia (acho que era) com mil cuidados e em silêncio, sentada num banquinho junto ao estrado de madeira que havia na janela da cozinha, com vista para o mar. Aquele mar que inspirava (e inspira) qualquer carta que vá daqui para as Américas, com a caligrafia asseada d’outrora... Não há imitação tecnológica para a caligrafia da minha avó, que nascera em 1901...
O CONVITE:
Como já te tinha dito, ontem (9.Agosto.2008) era um dia especial para mim por causa do convite de Sidónio Bettencourt para a gravação de uma pequena entrevista para o programa “Atlântica” de que ele é fiel apresentador. O dito convite surgiu após uma entrevista na RDP Açores, sugerida pelo senhor Luís Bretão que é um entusiasta por tudo o que é cultura açoriana e, sobretudo, rimas e quadras populares dos nossos cantadores ao desafio terceirenses. Homenagens lhes sejam feitas porque esta gente das cantorias da ilha bem as merece.
Desde o dia 5 de Agosto, terça-feira, após confirmação do convite, que andava num “stresszinho” sem saber bem o que me iria acontecer. É que fiquei com a ideia que isto seria o princípio de alguma coisa. Nem sabia explicar o que me ia cá dentro. Dormia em sonhos e acordava a precisar de dormir nos sonhos.
A VIAGEM:
Ontem, levantei-me cedo e levei a manhã dedicada aos preparativos para a viagem na camioneta da uma da tarde. Assim foi. A malta cá de casa estava na paragem pontualmente à hora. A viagem foi engraçada, como sempre. É uma maneira de ver o esplendor dos Ilhéus das Cabras, que me fascinam sempre. Antes de chegar à Praia, já tinha sido avisada que estavam a preparar-se para as filmagens. Assim foi. Chegando junto do areal da Praia avistei logo o apresentador e cheguei perto um bocado ansiosa. Ouvi o meu nome ser dito por alguém e desvendei o mistério: -Sou eu, a Azoriana!
Os cumprimentos normais e alguma conversa amistosa e fui logo buscar uma encomenda preciosa que já esperava: um livro que até teve a surpresa de uma dedicatória que ocupava a folha de rosto, inteira. Foi agradável ler tudo aquilo que até nem parecia ser para esta Azoriana, ou Rosa Maria ou Silva Rosa...
AS FILMAGENS:
A partir daí foram as várias partes das filmagens. Teste daqui, acção d'acoli, e lá foram fazendo o “fingido directo” que só para a semana, dia 16 de Agosto, vai ser a sério. Quando é assim, a gravação leva mais tempo, e com tempo, para alterar seja o que for e começar de novo.
A certa altura já estávamos um bocado cansados, mas nunca arredámos pé da moldura humana que presenciava tudo e aplaudia alegremente.
Imagino o cansaço que não é para os intervenientes que nem tempo tem para petiscar nada nem saírem da cena. Cá comigo balbuciava... “antes lavar sobrado de madeira (ou talvez não?!)”. As Festas da Praia da Vitória 2008, com o título “Maravilha em Festa” merecem o melhor. Julgo que o melhor foi feito, cá no meu fraco entender, se bem que com tempo para pausas.
O GRUPO DA SERRETA:
Depois do principal, vieram outras situações não menos interessantes. E eu, angustiada e nervosa, chegou-se a uma altura, para me confortar pedi: - Nossa Senhora dos Milagres ajuda-me nesta hora! Ajuda-me! - insistia. Quando ia quase chegando a hora H, olho para a minha esquerda e vejo chegar, nada mais nada menos, do que o grupo de idosos... Imagina de onde?... Arregalei as vistas e vi a freguesia da Serreta chegar àquela zona pegada à areia e ao mar, quase em peso.
Homens e mulheres que conheço de toda a vida tinham vindo num “passeio de idosos” à florida cidade da Praia. Pensei assim: A prova de que Nossa Senhora me ouviu foi mandar-me esta gente toda como que para me incentivar e alegrar. Nem que fossem uns 2 minutos já seria muito bom. Corri para a minha antiga vizinha e naquela ânsia da novidade, informei-a do facto e quem estava ao lado foi ouvindo e não tardaram todos com a vontade de: “Vais falar da Serreta?”... - Sim, porque não?! Afinal tinha um livrito na mão cujo título é a amostra de mais um sonho por realizar...
A GRAVAÇÃO:
Finalmente, chegou a minha vez. Nesta altura, eu já tinha percebido como eram os bastidores da televisão. Uma azáfama medonha. Como esta gente fica cansada. Arrasta fio, põe micro, tira micro, cadeira para aqui, cadeira para acolá, e julgo ouvir uma senhora a dizer: “olha o tempo... abrevia, abrevia”. No meu caso foi breve porque eu não era, nem de longe, organizadora da festa. Simplesmente uma convidada. Estava entre alguns rostos conhecidos do grande ecrã e eu era uma incógnita para tantos. Não para o apresentador que, em poucos dias, me ficou a conhecer pela escrita e até me destinou um envelope com meu nome, o nickname Azoriana, e uma novidade: “mulher poeta da ilha”. Isto fez-me arregalar os olhos de alegria.
O LIVRO DE SIDÓNIO:
Confesso que ainda tenho dúvidas de ser isso tudo, depois de ler o livro do próprio Sidónio Bettencourt... Esse sim, é o poeta de todas as ilhas mas, sobretudo, da ilha do Pico, aquela que faz criar baleeiros de palavras ancoradas na poesia pura e sem morrer de amores por letras maiúsculas, mas que morre de amores por gentes, coisas e locais sagrados, por ilhéus. A ilha é toda ela um chamariz à poesia.
É-se poeta de vida, respira-se ares de inspiração, mergulha-se em dores, fragrâncias e mistérios, cria-se pão de letras com cheiro a maresia e gosto a ventos (sem e com odes)... Chora-se no interior da alma... Recorda-se saudade, saudades. Morre-se devagar a mastigar o tempo novo. É tudo singular e plural sem preocupação com regras ocas que só entorpecem o ser naquela liberdade própria da criação do poeta.
Chego à conclusão que ser poeta é mesmo ser um construtor de ideias e patentes. Tantas vezes são aborrecidas as regras que impedem de construir o que vem de dentro da alma... O Sidónio criou a sua patente e bem-haja por isso e por tudo o que nos lega num livro abençoado que é digno de viajar por mares e marés.
A CONCLUSÃO:
E pronto... Depois desta história real e extraordinária, regressámos a casa pela via económica: a camioneta da carreira.
O “fotógrafo” de serviço fez-me um trabalho digno de louvores, se bem que o som ficou empobrecido. O pequeno “Pipoca” estava um bocadinho distante no captar de sons e tremia. Ai como ele tremia ao ver a mãe rente àquela nova onda.
O REGRESSO:
Já na camioneta vi as imagens e parecia que não era eu. Parecia estar a ver as cenas de outra criatura qualquer. Notei que sorria... Era o tal sorriso que o mundo merece, sobretudo, aqueles que conhecem a “Azoriana” e a mimam por saberem que os mimos lhe fazem tanta falta...
Tanta coisa para dizer mas ficou pelo essencial. Foi o mínimo que o apresentador podia fazer, uma vez que o cronómetro não pára e há mais para gravar. Disso a “vizinha” Esmeralda estava sempre atenta e controlava o “timing” de cada um. É de gabar a paciência de todos, que têm este amor pelas câmaras que lhes dão o pão-seu-de-cada-dia. Um bem-haja para todos!
Ó JOANINA:
Ainda estás a ler? Não quero que adormeças pois espero que estejas bem desperta no próximo dia 16 de Agosto para veres o que aquele apresentador tem para dizer. Ele sim tem a voz embalada por anos de experiência e tem um dom especial de bem comunicar. Até a mim me convenceu do que disse. E gostei. Digo-te gostei mesmo.
A CARTA-PARTILHA:
Se ele ler esta carta, que vou publicar numa partilha com este mundo cibernético, verá que, pese embora, só o tenha conhecido mais de perto ontem (nunca o cumprimentara antes assim ao vivo) fiquei com a nítida sensação de que merece louvores e mérito das ilhas, do continente e do estrangeiro. Pensei até dizer isto, aquando da gravação, mas não deu tempo:
É com grande satisfação Que saúdo a Região Continente e Estrangeiro, É grande a felicidade De estar nesta cidade A falar p’ro mundo inteiro.
Não o disse mas improvisei para dentro preparada para o que viesse. Talvez um dia improvise outras mais se houver vida e saúde. Também levei comigo o livro da Turlu e um sonetilho-dedicatória, cujo título é: Rimando à Praia da Vitória.
O FINAL:
Esta a história real de uma tarde Única nas Festas da Praia 2008, por uma boa causa: o improviso e a arte popular desta ilha de Nosso Senhor Jesus Cristo, que, com gosto, se chama Terceira, do Carnaval, das touradas e arraiais festivos num colorido de amores e flores humanas.