Ó gente da minha terra
Une-te numa só voz
Sem quaisquer fins lucrativos...
Cantem, enquanto sois vivos,
À Mãe que é de todos nós!
Renovem tempos de outrora
Que "João Ilhéu" cantou
No livro que nos deixou
Com o perfil da Senhora.
"Touradas e Romarias",
Mil novecentos e vinte nove.
Uma prosa que comove,
No bendizer dos três dias.
De Domingo a Terça-feira,
Procissão, Touros e Bôdo,
Clamando o povo todo
De alegria quanta queira.
Houve uma grande viragem
Nos dotes dos nossos dias,
Vão mingando alegrias...
Mas floresce a romagem!
Tudo agora tem um custo,
Difícil de suportar;
A Acção está no Dar
E ganha-se o que é augusto.
"Ó gente da minha terra"
Ajudai a Romaria,
Ajudai a Freguesia,
Corpo brilhante da serra!
Uma serra tão pequena,
Para os ventos amainar,
Brisa santa a celebrar
A santíssima novena.
Novena preparatória
Para a Festa universal,
Da Mãe que é mundial
Nos ecos da sua Glória!
A Serreta vos convida,
Sem louros ou lucrativos...
Venham, enquanto sois vivos,
P'ra ganhar o céu em vida.
Rosa Silva ("Azoriana")
Nota:
"E todos os anos aquêle mês de Setembro, naquêle mesmo dia, repete a marcha triunfal, imprecionante, apoteótica, da «Segunda-feira da Serreta»!
- Até para o ano! Até para o ano!"
In página 47, do livro "Touradas e Romarias" - João Ilhéu (Coronel Frederico Lopes), Angra do Heroísmo, 1929.
Este livro, que tive ocasião de folhear hoje cedo, contém verdadeiras relíquias sobre o "Domingo da Procissão" (Página 17 a 23), cuja prosa poética está, maravilhosamente, encimada por um desenho de um arco, que sempre foi feito ao longo do percurso da Procissão, numa moldura tradicional de varas de criptoméria, guarnecidas de cedro do mato e flores dos jardins dos residentes, especialmente os girassóis, e que são preparados na maior confraternização e alegria, com direito a mordomos, mestres e ajudantes, verdadeiros artistas na arte de embelezar a passagem do Andor mais rico de fé e peregrinos;
Na página 25 a 47, o retrato fiel da "Segunda-feira de Touros", muito diferente do que é hoje, mas sempre com a mesma divindade.
Sim, caros leitores... Que nunca vos passe pela cabeça que esta tourada é de morte porque não é. Morre quem não a cumprir na sua verdadeira essência. Ali, naquele curral, cerrado feito Praça (reparem na letra P maiúscula), ninguém fere o touro, ninguém maltrata o animal que até apelido de - Bravo da Senhora dos Milagres - e que até dá o dia de tolerância à ilha inteira para ser apreciado e, onde, a Filarmónica Recreio Serretense presta a sua homenagem com tocatas de alvorada e com o "passo-doble" da tarde colorida da alma terceirense num pico cujo verde se torna aguarela d'esperança e vida;
Na página 49 a 56, a referência minuciosa à "Terça-feira de Bôdo" que, actualmente, reúne alguns bezerros a simular o que outrora era uma enchente de vacas com bom leite e um terreiro inundado de alegria, partilha e festa com os Santos, que na minha opinião, deviam sair a acompanhar a Senhora dos Milagres no seu dia de júbilo.
[Quem me dera ver Santo António com a filarmónica cujo padroeiro fosse Santo António; Santo Antão, protector dos animais, com uma das filarmónicas vizinhas; e, talvez, Santa Rosa (que não costuma sequer ter andor) com uma filarmónica de longe... Mas isto são sonhos meus que imagino reais por momentos. Mas nada se faz, hoje em dia, sem ser a troco de muitos vinténs. De certeza que para isto os vinténs ainda escasseiam mais, mas que era bonito, lá isso era.
Imagino, então, a correria de tinta pelos jornais a relatar esta efeméride com um título mais ou menos assim: Os Santos saíram a acompanhar a Senhora dos Milagres!]
A ti, emigrante serretense, dedico este artigo da minha autoria e o vídeo da autoria de Jorge Soares:
Que a Senhora dos Milagres brilhe no teu coração e te junte a nós nem que seja em pensamento...