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Açoriana - Azoriana - terceirense das rimas

Os escritos são laços que nos unem, na simplicidade do sonho... São momentos! - Rosa Silva (Azoriana). Criado a 09/04/2004. Angra do Heroísmo, ilha Terceira, Açores. A curiosidade aliada à necessidade criou o 1

Criações de Rosa Silva e outrem; listagem de títulos

Em Criações de Rosa Silva e outrem
Histórico de listagem de títulos,
de sonetos/sonetilhos
(total de 1006)

Motivo para escrever:
Rimas são o meu solar
Com a bela estrela guia,
Minha onda a navegar
E parar eu não queria
O dia que as deixar
(Ninguém foge a esse dia)
Farão pois o meu lugar
Minha paz, minha alegria.
Rosa Silva ("Azoriana")
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Com os melhores agradecimentos pelas:
1. Entrevista a 2 de abril in "Kanal ilha 3"

2. Entrevista a 5 de dezembro in "Kanal das Doze"

3. Entrevista a 18 de novembro 2023 in "Kanal Açor"

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Encontro com a terra: O "reboliço da festa"

25.08.08 | Rosa Silva ("Azoriana")

O "reboliço da festa"

Foi esta a expressão que ouvi da minha madrinha do crisma, deveras idosa, ontem, aquando de uma visita que há muito, mas muito tempo, não lhe fazia. Pensando que não, um carro faz mesmo muita falta. Por muito perto que sejam as freguesias, há sempre que ter um meio de transporte que não se prenda com horários. Ontem, deixei-me levar pela liberdade de horário embora se fique com a sensação de que está mesmo tudo caro.

Senti-me como que uma emigrante. Emigrei da freguesia da Serreta para a cidade de Angra do Heroísmo e voltei às origens numa visita de um dia. É linda a nossa cidade mas a Serreta nem se compara. Para mim, que agora a vejo a espaços grandes, está cada vez mais linda. Será que a saudade é assim como que um ver tudo com outros olhos?

Pois vi as casas com mais encantos, ouvi chilreios que davam musicalidade ao espaço acompanhados pelos "gri-gri" dos grilos na orquestra do campo, ouvi galinhas cacarejando animadas pelo cantar do galo; vi o mar inteiro (expressão do Pipoca) coroado por um alaranjado pôr-do-sol que caía, pouco a pouco, até desaparecer repentinamente deixando a noite entrar com os sons que há muito eu deixara adormecidos; vi gente que partilha tudo o que sabe e pode; tive e dei abraços apertados pela saudade gigantesca... chorei por dentro até as lágrimas (felizes) caírem sem pedir licença...

E voltei a Angra do Heroísmo quando a noite assistia ao meu "adeus e seja por (...)"... É aqui que o sentimento se apoderou de mim... Lembrei-me daquela que vivia tudo isto intensamente, nesta altura.

É nesta altura que começa o "reboliço da festa". A minha madrinha tem razão. Lembro que se começam a cozer as alcatras que ficam à espera do dia da sua reaparição; é a massa sovada e o pão para a sopa que ficam no mesmo "armazém" da tradição serretense; é tempo de se refrescarem as casas e os seus apetrechos de mudança do velho para novo, dando um ar de festa. Fica tudo de "cara lavada" porque o tempo o permite mas a água é que pode ser cortada para não se esgotarem as fontes. São as fontes de água pura que refrescam as fontes do amor.

Agora sim, percebo o que é ser emigrante. Imagino o que sentem aqueles que nasceram neste lugar sagrado - a Serreta, da Virgem Nossa Senhora dos Milagres - ao voltarem à casa-mãe. Nunca um abraço e um olhar (para aqueles que não se encantam por abraços) terá tanto a dizer como os que se dão nestas alturas do regresso ao "reboliço da festa". E choram-se lágrimas felizes com o perfume dos dias deste "cantinho do céu"...

Na volta a Angra vinha calada e dava comigo a pensar: Há milagres e há amor pela minha freguesia natal: a SERRETA!

2008/08/24

Rosa Silva ("Azoriana")