Os escritos são laços que nos unem, na simplicidade do sonho... São momentos! - Rosa Silva (Azoriana).
Criado a 09/04/2004. Angra do Heroísmo, ilha Terceira, Açores. A curiosidade aliada à necessidade criou o 1
Criações de Rosa Silva e outrem; listagem de títulos
Motivo para escrever: Rimas são o meu solar Com a bela estrela guia, Minha onda a navegar E parar eu não queria O dia que as deixar (Ninguém foge a esse dia) Farão pois o meu lugar Minha paz, minha alegria. Rosa Silva ("Azoriana") ********** Com os melhores agradecimentos pelas: 1. Entrevista a 2 de abril in "Kanal ilha 3" 2. Entrevista a 5 de dezembro in "Kanal das Doze" 3. Entrevista a 18 de novembro 2023 in "Kanal Açor" **********
“Olá, "ROSINHA"...!
Há tanto tempo que não passo por aqui...!
Enfim, a vida nem sempre nos dá o tempo de que necessitamos e depois...bem, depois, é acatar aquilo que Deus nos dá.
Quanto ao texto com que nos brindou hoje, a minha opinião:
É das coisas mais bem feitas e melhor idealizadas, que li nos últimos tempos.
A fantasia de braço dado com a realidade, por vezes assusta-nos. Quem é que ainda não passou por um susto destes?
A cidade do Porto, dista da minha terra, mais ou menos, cem quilómetros. Há cerca de trinta anos, pus-me a caminho, daquela cidade utilizando o transporte do caminho de ferro. Chegado ao Porto, logo pela manhã, entrei num café e pedi meia de leite e uma torrada. Tomei o pequeno almoço descansado, até que chegando junto de mim o empregado, perguntou: não precisa de mais nada? - são 15$00.
Puxo pela carteira para pagar o que tinha consumido e verifico, que não trago a carteira comigo. Isto, é: nem dinheiro, nem documentos.
Se a minha deslocação ao Porto era para efectuar umas compras que tinha programado, e agora? Nem dinheiro para fazer uma chamada telefónica.
Com toda a sinceridade, mandei chamar o patrão do estabelecimento, e contei toda a situação, sem rodeios nem mentiras.
O Homem, ouviu-me com toda a serenidade e perguntou-me: tem alguém conhecido na sua terra a quem eu possa telefonar? Sim, tenho muita gente, que pode abonar a minha idoneidade sem receio. O senhor Santos - assim se chamava o dono do estabelecimento - disse: não é necessário telefonar. Até me posso enganar, mas o meu amigo parece-me uma pessoa séria.
Deixa-me o seu nome e morada e eu vou confiar-lhe cem escudos, para as suas despesas aqui no Porto. Quando poder, paga-me.
Estupefacto com tamanha grandeza de alma, agradeci e prometi ainda no mesmo dia, passar pelo estabelecimento, para pagar o favor, que aquele homem sem me conhecer de lado nenhum, me tinha feito.
Obviamente, que telefonei aos meus familiares a contar o sucedido e prontamente resolvi o problema, que me tinha acontecido.
Como vê, minha cara ROSINHA, há fantasias que até parecem verdade e quantas vezes existem verdades, que não passam de mentiras.
Um grande beijo,
Teixeira da Silva”
Num dia normal recebi o comentário do caro amigo, Teixeira da Silva, que me presenteia vez em quando com poesia e prosa que merecem destaque. Esta prosa que me ofereceu após a leitura do que a mente me ditou para a “Fábrica de Histórias” bem pode ser um contributo, dado pela minha mão, para constar no Podium de Participações. Assim, tomei a liberdade de transcrever na íntegra a sua história, que me fez sorrir num dia normal.
Acrescentei estas poucas e mal notadas linhas para completar o leque das palavras de um texto que só por si é magnífico e mostra que há gente boa no mundo, capaz de colocar um sorriso e a confiança no rosto do transeunte que, sem querer, se vê preso numa inesperada inquietação.
E sem carros até às 19 horas. Apesar do sono ser movimentado por sonhos que tinham que ver com este dia “normal”, o dia começou cedo para contrariar o estado dos dias normais. É caso para acta assim: Aos vinte e dois dias do mês de Setembro do ano de dois mil e oito, um dia sem carros no centro da cidade património mundial – Angra do Heroísmo – eu, resolvi iniciar um percurso diferente. A angústia ia comigo, rua abaixo, na senda dos papéis para a aquisição de habitação. Um passo novo em terreno antigo existente e que chegou a hora de acreditar que possa ser meu, finalmente. Depois de saber a lista de documentos necessários, dirigi-me, à larga pelas ruas desertas de viaturas e cheias de gente, póneis, cavalos e carroças, jogos infantis e vários tipos de desporto colectivo para cidadãos na senda de um dia diferente, à rua dos registos que nos obrigam a tirar o cartão do “dinheiro da parede” do bolso da mala. Tirei-o umas quantas vezes e vi escapulir alguns “heróis”. Para quem tem pouco, nota-se logo a diferença e começa-se a pensar que os próximos dias serão de aperto e anormais. Que bom que este é um dia normal e que até vi um sorriso de uma senhora muito atenciosa que me explicou “tim-tim por tim-tim” os procedimentos normais numa situação normal para tanta gente. Quem já comprou casa sabe como é.
Nisto tive de voltar à residência habitual, que não é minha, para colher mais documentação, mas antes passei na edilidade angrense para receber mais sorrisos juntamente com plantas e licenças. Nada melhor que um sorriso no atendimento geral da população, sejam mal encarados ou não. Se me viram mal encarada foi porque esta situação, mesmo não sendo nova para mim, traz-me sempre alguma angústia à mistura com o desejo de ter tudo conforme mandam as leis todas.
Não quero esquecer que uma senhora me deu bons conselhos e que, pela primeira vez, gostei do nome dela, ao contrário de outras senhoras com o mesmo nome. Cadernetas, plantas, licenças, bilhetes identificativos, comprovativos tributários, recibos e declarações, fichas e notas são um ramalhete asseado e que nos dão novas perspectivas vindouras. Não quero atirar foguetes antes da festa porque o melhor é esperar pela Festa. Nem sei se vai haver festa depois de deitar os olhos no que por aí virá. Só sei que este dia não passou de um dia vulgar no início de tantos dias vulgares.
Por incrível que pareça até a chuva caiu para limpar o cheiro a excremento de animal que passeia meninos e meninas sorrindo ao dia sem carros. Imaginei que era pequenina e que me sentavam no costado daqueles póneis e que rebolava para o chão num piscar de olhos... É verdade isso aconteceu-me exactamente no dia que me sentaram em cima de um cavalo e eu vi o mundo a rodar lentamente e fiquei estatelada no chão a choramingar.