Um dia diferente
Hoje é um dia diferente
No meu estado de rima,
Porque vou estar presente
Num Pezinho mais acima.
Em São Carlos, numa casa,
A convite insistente,
Onde alegria extravasa:
O meu gosto irá contente!
Peço calma, vou prudente,
Rimo por Nossa Senhora,
E p'la mãe, que mesmo ausente,
Está comigo a toda a hora.
Este amor e a minha fé
Movem montanhas de rimas;
Da Serreta, esta maré,
Do mote que mais estimas.
Também o Espírito Santo
Anda a par com a ventura
De descobrir o encanto
Que tem a nossa cultura.
A cultura do Pezinho,
Cantoria e Desgarradas:
Dou-lhes todo o meu carinho
Nas criações publicadas.
Mas eu não sou cantadeira,
Nem poeta ou coisa alguma;
Sou Cagarra da Terceira
E à Turlu devo mais uma.
Esta força que me vem,
Aos magotes, sem pensar,
Devo à falecida mãe
Que foi mártir a penar.
A doença traiçoeira
Que feriu o seu viver
Fez cair à minha beira
Este fogo de escrever.
E se um dia eu partir
Sem ficar nada de mim,
Fiquem, ao menos, a sorrir
As quadras do meu jardim.
E que alguém lhes deite a mão,
Preserve o que eu não posso,
Devo a Luís Bretão
Este cantar que é nosso.
Devo muito às amizades
Que por isto fui ganhando;
Sorrisos, às claridades,
Que a rima foi criando.
E à nossa edilidade
Angrense, nosso torrão,
Que sorria de verdade
Às festas do seu quinhão.
E p'las nossas Cantorias,
Que alegram os Açores,
Façam bem todos os dias
Aos ilustres Cantadores.
Rosa Silva ("Azoriana")