Cantigas
É uma grande alegria
Estar convosco, ó cantadores,
Porque sóis a mais valia
O tesouro dos Açores!
Essa foi a vez primeira
Que ao lado deles me vi;
Em S. Carlos, da Terceira,
Raras pérolas percebi.
Basta ter um bom motivo,
Improviso se aproxima;
É assim meu gosto vivo,
Qualquer hora me dá rima.
Os meus versos aqui estão,
São a mola que me move
Queira Deus novo serão
E que o violão me aprove.
Um serão cheio de amigos,
Recheado de cantadores
Desde os tempos mais antigos
Até aos novos valores.
Tudo isto a combinar
Numa hora apetecível
Com alguém apadrinhar...
Será isto impossível?!
Faço figas já agora,
Pra que alguém isto veja
E se tarde é demora
Que mais cedo tudo seja.
Sou filha de pai severo,
De amor em recolhimento,
Da minha mãe tudo espero
E por ela miro o vento.
É o vento que me traz
As rimas de dom completo...
A mestria não se faz
Forçando nosso intelecto.
E quanto mais eu pensar
Tentando ser de mim dona,
Muito mais vejo quebrar
Os versos que vêm à tona.
Rosa Silva ("Azoriana")