Mentira (ou não?!) - para a «Fábrica de Histórias»
«Recentemente recebi um convite da Azoriana:
“Convido Você e Exª Família para um jantar convívio que se realizará na “Casa da Azoriana” no dia de São Martinho, pelas 19 horas. A recepção terá uma surpresa. Traga consigo o prato preferido e partilhe-o connosco.”
A surpresa é que me ficou a atormentar... O que será que se vai passar?! Matutei nisto um bom bocado e (como não aguentei), abeirei-me do telefone e disquei o número que vinha no canto inferior direito.
Disquei e aguardei os “tim... tim... tim”. Atendeu uma voz de criança que indagou: - Quem fala? Eu respondi e pediu-me que aguardasse um bocadinho que neste momento a mãe estava a lavar a louça e que ia enxugar as mãos... Nunca acerto no horário para ligar para ela... Ou está na louça, ou “foi ali e já vem” ou, ainda, “acabou mesmo de sair”. Incrível porque sei que a maior parte das horas vagas, passa-as a engendrar um novo artigo para o seu querido blog para não pensar que ainda não está com tudo resolvido para mudar para a “Casa da Azoriana”... Nem sei se chegará o dia... Puxa, que demora para limpar as mãos!... Será que a gordura chegou aos cotovelos?!
Nisto reconheci a voz que chegava ao ouvido. Perguntou logo quem era... e eu ri-me e disse-lhe o que acabara de pensar: - Tens gordura até aos cotovelos, mulher?! Ela reconheceu-me a voz e disse: - Pois tenho! Nem imaginas quanta! O jantar foi coelho à minha moda... E riu-se tanto que foi uma inquietação para encontrarmos o ponto de seriedade.
Passados os sorrisos lá fui eu perguntando assim naquele jeito que ou ela respondia ou mandava-me dar uma volta. Esta última parte não é muito usual nela. Talvez o mais certo era dizer “surpresa é surpresa” e não me adiantar mais nada... E não é que ela disse mesmo “surpresa é surpresa”, copiando-me a expressão, que nem é minha... Eu não me contentei com isso e fui dando-lhe a volta, torneando as frases, até que ela se descaiu:
- Prometes não dizer a ninguém?
Eu que estava já a inquietar-me para aguentar tanto suspense disse logo: - Prometo!
- Olha, então cá vai... É que resolvemos casar nesse dia e juntar os amigos mais chegados. Como as coisas não estão para gastos extra, resolvemos inovar com a ideia do “prato preferido”. Das bebidas cuidamos nós, se não faltar a água na torneira... (E parou para dar uma das suas gargalhadas, continuando...) – Achas que vai aparecer alguém?
- Talvez, mas lembra-te que é dia de São Martinho e há mais festas nesse dia. O vinho é quem mais ordena... Mais perto avisas se não for para haver festa?
- Claro. E se não houver água bebe-se vinho e come-se castanhas que talvez alguém nos traga. Agora deixa-me ir acabar de lavar a loiça porque, graça a Deus, aqui não me faltou a água.
- Boa noite e até ao dia de São Martinho à tua festa “Txanã”!»