Estranha sensação
Na dolência das ondas
do ser,
Onde a minha alma espreita
O silêncio das horas paradas
Inertes dos ares festivos,
Deixo-me ficar,
Quase adormecida
Do eco da terra lavrada,
Que a tarde me aconchegou...
Lanço um olhar tenebroso,
Ao ventre da natureza
Desenhado na mente escarlate
Tingida pela cortina de afectos
Que se erguem pela proa
Dos monumentos da tarde.
E ninguém dá por mim...
Sinto necessidade de comunicar
Com o mundo que deixei de ver;
Teima a fraqueza de alcançá-lo...
E ninguém o vê em mim...
No balançar remoto das rosas
A estranha sensação de um paraíso por abrir,
Na saudade lacrada no meu rosto de mulher
Que te deixou de ver sucumbir devagar,
E que hoje, especialmente hoje,
Oculta palavras douradas de afecto
Nas trindades que voaram de ti...
Onde será que pairas que ninguém te vê
Nem eu
Aqui...
Nesta estranha sensação de lume vazio de palavras.
Rosa Silva ("Azoriana")