Não são meras lambidelas...
A quem for sensível
não aconselho a leitura deste monólogo.
Título do monólogo: Não
são meras lambidelas...
Escrito e sentido por: Rosa Silva
("Azoriana")
Mote: Página 22 e 23, do DI Revista nº 301, de
11-01-2009.
Conheci logo o rosto daquele pianista que uma noite
tocou umas peças no restaurante serretense "Ti Choa". Nessa noite não
me veio à mente o nome do pianista mas hoje, passados uns largos
meses, reconheci o rosto e soube o nome: Arlindo
Nascimento.
Avancei na leitura das duas páginas dedicadas a
este pianista que completa cinquenta anos da sua existência ao piano e
vai apresentar (apresentou) o seu primeiro registo discográfico. Dizem
ser "a história de um homem da música e da
televisão".
Encantou-me ter-me cruzado, sem o saber sequer, com
um grande pianista que está sem trabalho e afina pianos para
sobreviver... Parece impossível mas é verdade! ... À parte esta
parte, li o resto da reportagem... E fiquei mais animada porque este
ilustre senhor tem admiradores por todo o lado.
O que me
emocionou forte foi o facto de ser o filho a "ofertar" o registo
discográfico... Feliz daquele que tem filhos que dão valor ao trabalho
de uma vida de amor. Sim, também se ama a música, também se ama a ilha
e o que ela nos proporciona. Feliz daquele que vê, em vida, o
resultado de tantas horas de dedicação ao que realmente lhe dá prazer
e satisfação. Feliz daquele que sorri perante obra feita e consegue
deixar algo para memória futura.
Confesso que chorei quando li:
"Um dia o pai morre e não temos prova nenhuma de que tocava bem!"...
Foi um choro egoísta, talvez ouça alguém dizer-me... Mas chorei porque
não sei se algum dos meus filhos me diria tal frase sentida e
reconhecida... Tenho a consciência de que tudo fiz para que não
faltasse o essencial a meus filhos mas sinto que as minhas rimas não
os entusiasmam como gostaria que entusiasmassem (excepto a um deles)
... Eles talvez não manifestam o carinho que uma mãe tem necessidade
também, mas sempre vão dando provas de que são os meus queridos
filhos... Não são meras lambidelas que me entusiasmam mas os actos e o
enfrentar a vida que vai sendo cada vez mais dura nos tempos actuais.
Se eles conseguirem sobreviver às intempéries, serei a mãe mais feliz
do mundo e isso me basta.
As lambidelas, propriamente ditas,
surgiram mais após travar empatia com o novo cachorrinho que manifesta
a sua dedicação através dos "beijinhos", que é o mesmo que dizer,
lambidelas carinhosas, ao jeito dele... Talvez seja por isso que me
encantei por ele e lhe dou o melhor que posso e sei... Toda a gente
gosta de um mimo. O meu mimo mais ansiado, neste momento, é o beijo
reconhecido dos meus filhos numa altura especial: o registo das rimas
da Azoriana em documento palpável, se tal lhes agradasse e se eu
pudesse levar a efeito.
Que me desculpe o sr. Arlindo
Nascimento por misturar "alhos com bugalhos" mas o
sentimento falou mais alto e atingiu o meu coração que também é muito
sensível. Bem-haja quem fez tão linda homenagem ao pianista Arlindo
Nascimento e que felicidade tem ele nas suas mãos e dedos, em
vida.
Sr. Arlindo Nascimento, aqui para nós que ninguém nos
ouve, quem me dera que um dia nos voltássemos a cruzar no restaurante
Ti Choa numa sessão de autógrafos, acompanhados pelos seus dotes de
excelente pianista, e, aí, seriam duas pessoas felizes e viria a
alegria estampada no olhar da Azoriana com o seu livrinho nas mãos...
Ou, quem sabe, meu filho com sua trompa, junto com os demais colegas
da Filarmónica me dessem um grande prazer... Sonhar é fácil... O
difícil é acordar na realidade de um sonho, que cada vez mais custa a
vir à tona.
E termino este monólogo com: Parabéns, senhor
Arlindo Nascimento e votos de continuação de muito sucesso!