Toque de ternura
Há um futuro por
abrir,
Um passado sem querer,
Um sonho que me faz rir
E tarda
em amanhecer.
Há um fôlego sentinela,
Deste mundo em
avanço,
Faz furor pela janela
Onde vai o sonho manso.
Há
um pé de vento forte,
Que estremece bem comigo;
Vou deixando à
crua sorte
As dunas onde me abrigo.
Há um faz-de-conta
imenso,
Na dança da madrugada,
Onde o silêncio suspenso
Me
beija logo à entrada.
Há um verde clamoroso,
Um azul em
ondas brancas,
E em ti, um ser bondoso,
Que me torneia as
ancas.
Há um sorriso maroto,
Na vidraça do meu ser,
Que
te entra bem no goto
Quando se faz por prazer.
Há um pé de
terra santa,
E o cheiro do teu colo,
Que se junta ao meu e
canta
Os cantos do meu consolo.
Há e sempre há-de
haver
Palavras em levedura
Que deixo transparecer
Com um
toque de ternura.
Rosa Silva ("Azoriana")