Os escritos são laços que nos unem, na simplicidade do sonho... São momentos! - Rosa Silva (Azoriana).
Criado a 09/04/2004. Angra do Heroísmo, ilha Terceira, Açores. A curiosidade aliada à necessidade criou o 1
Criações de Rosa Silva e outrem; listagem de títulos
Motivo para escrever: Rimas são o meu solar Com a bela estrela guia, Minha onda a navegar E parar eu não queria O dia que as deixar (Ninguém foge a esse dia) Farão pois o meu lugar Minha paz, minha alegria. Rosa Silva ("Azoriana") ********** Com os melhores agradecimentos pelas: 1. Entrevista a 2 abril in "Kanal ilha 3" 2. Entrevista a 5 dezembro in "Kanal das Doze" 3. Entrevista a 18 novembro 2023 in "Kanal Açor" 4. Entrevista a 9 março 2025 in "VITEC", por Célia Machado **********
A ansiedade ronda os
ilhéus e ilhoas e a população do mundo inteiro. Em particular, e tendo
em conta que é uma pergunta que se generaliza, pergunto:
No
caso da gripe me apoquentar como resolvo as compras domésticas quando
faltar os géneros alimentícios essenciais ou já nem temos disposição
para comer? E os produtos de higiene? E os fármacos para algum
achaque?
Se eu não me posso ausentar de casa para não
contaminar o próximo quem me irá socorrer? Ficando tudo de
"quarentena" num agregado familiar, há alguma forma de
auxílio nem que seja colocando sacos no lado de dentro do portão de
forma a que alguém os vá colher para o interior do recinto
contaminado?
E se eu não possuir linha telefónica nem tiver
acesso à internet e falhar a rede do telemóvel (ou não tiver saldo, ou
não tiver a bateria carregada, ou tiver avaria nesse aparelho) como
podem saber que estou numa aflição qualquer?
Será que estou a
stressar e a pensar que isto não vai acontecer? Será que estamos
preparados convenientemente para uma situação que pode não atacar os
vacinados mas os que estão à volta podem efectivamente sentir-se
inválidos?
Ainda não estou convencida que esta situação terá
salvação... Quem sobreviver terá muito que contar e agradecer a
protecção Divina... Vão fechar escolas, creches, todas as instituições
que reúnam várias pessoas fechem? Nem nas Igrejas se podem reunir para
rezar?
Acho que estou a entrar naquilo que se chama a
"pré-agonia"...
Uma
caminhada longa, sem pressas. Três pessoas, sendo duas adultas e um
jovem, seguiam despreocupadamente olhando as surpresas das ruas por
onde se avista, de frente, o mar que convida a um mergulho, não fossem
as caravelas e as águas-vivas, que nem os nadadores-salvadores
conseguem controlar porque são muitas. Pelo trajecto vêem-se casas
bonitas, animais de estimação e/ou protecção que cumprimentam os
transeuntes com algum alvoroço; flores que matizam paredes e jardins;
carros que circulam obedecendo à ordem do semáforo novo; um céu que
beija o mar no horizonte; pessoas que trabalham na via pública numa
ilha encantada; olhares que se cruzam; um barco ao longe fumegando
saudades; gente que embeleza a fachada da sua mansão com a cor
favorita, enquanto que outras moradias deixam transparecer um quase
abandono ou um enorme desleixo, porventura motivado por uma ocupação
temporária e/ou de outrem.
Já quase atingindo o destino a que
esta família se propunha de início, estancaram o passo perante um
choro insistente vindo da parte de trás de um muro baixo e sem portão.
Era uma criança esfregando nos olhos ao ponto de já estarem
avermelhados. Os cabelos tão lindos com uns caracóis que o tempo
deixara intactos. Estava numa dessas moradias descuidadas que se
olharmos bem até parece que nem mora gente. A criança, com menos de
dez anos, apenas balbuciava com soluços: "- Eu quero a minha
mãe!". Impossível seguir viagem. Aproximaram-se dele e após uma
série calma de perguntas e respostas, estas sempre nuns soluços, a
criança abandonando o choro ficava, pouco a pouco, mais tranquila.
Deram-lhe a mão e aquela mão aconchegava-se na outra que estava
perplexa.
Ficaram a saber que os pais tinham saído mas o motivo
não veio à baila e que o filho aguardava a sua volta. Como ficara
receoso viera para o portão, chorando, esfregando os olhos indefeso,
ao ponto de quem passava se aperceber que algo estranho estava
acontecendo. Impossível continuar a caminhada, sobretudo a quem é
sensível a choros...
Sem choro e levado pela mão amiga reentrou
na moradia pela porta contrária ao cão que até deu um ar de sua vigia.
No interior, uma conversa tranquila e apropriada à idade da criança
fez o milagre dela não voltar a chorar, nem vir para o exterior,
enquanto a mãe não chegasse: "- Prometes?" Ele respondeu
acenando afirmativamente com aquele lindo rostinho apaziguado e o
olhar enxuto de lágrimas e lavado conforme lhe haviam
recomendado.
Os "anjos" que ajudaram esta criança
saíram da moradia cabisbaixos e pensativos. Aguardaram ainda no lado
de fora, não fosse a criança ter novo receio e sair para o exterior.
Nada. Tudo calmo. Continuaram, então, a sua caminhada. O pensamento e
os diálogos seguintes insistiam no mesmo assunto: "- Onde
estariam os pais daquela criança?; Porque será que esta criança ficara
só numa mansão daquelas?; A televisão era a companhia com desenho
animados de um canal propício para manter as crianças sem arredar pé
de casa, mas porque com aquela não fizera grande efeito?".
Questões vinham e iam, sem resposta.
No regresso a casa, as
três pessoas escolheram passar, de novo, pela frente daquela mansão.
Pararam, olharam, escutaram. Não perceberam qualquer ruído. Tudo
calmo. Avistaram uma viatura estacionada na entrada, numa espécie de
parque de ervas daninhas. Talvez fossem os pais ou a mãe da criança
que havia voltado. Não ousaram levantar poeira ou assustar a criança.
Seguiram o seu norte mas sempre falando no mesmo (ainda hoje se
lembram de tudo).
Um dia, haviam de voltar a passar naquele
lugar para saber se o bilhete deixado num papel encontrado teria
provocado algum efeito benéfico.
Até hoje, continua no
pensamento aquela expressão agoniante: "Eu quero a minha
mãe!".
Será este um «caso isolado ou não?». Talvez não. A
diferença está no choro, na idade e na expressão repetitiva: "Eu
quero a minha mãe!".
Questões para
reflexão:
- O que fazer com as crianças menores de doze
anos, por exemplo, sozinhas em casa, filhos de famílias que não têm
meios de ter alguém a tomar conta ou colocar nalgum sítio que tenha
essa possibilidade mediante pagamento de honorários? - Há crianças
que até são avançadas para a idade e tem esperteza suficiente para
saberem se comportar num caso de estarem sozinhas em casa... Mas e
aquelas que têm medos? O que fazer? - E se ambos os pais trabalham
fora e não tem familiares que os ajudem nesses cuidados?