Um "post-it" grande, amarelo-canário
Colei um "post-it" na
minha alma (noutro lado ficava à vista). À laia de carta (afinal o
"post-it" tornou-se grande) escrevi uma mensagem a alguém cujo correio
não é deste mundo.
"Mãe,
Fiquei muito contente quando,
pela segunda vez, vi meu nome (foi mais a alcunha) num livro que já
chegou. Estava muito bem encadernado, limpo e asseado. Gostei de me
ler naquela alvura de papel. Bisbilhotei os artigos de «FFF». Lembras,
mãe, aquele que descrevia uma Segunda-feira da Serreta? Que
bom! Já está em livro. Talvez alguém leia, não sei... E aquelas rimas
que contemplam os "Dois lados de mim"? Surpreendi-me. É verdade. Nunca
pensei gostar tanto de me reler. Estremeci... Como consegui levar
aquilo tudo a eito? E depois...
Depois não me saiu da cabeça um
pensamento: queria tanto, mas tanto voar noutro livro (aquele que se
intitularia - Serreta na intimidade - continua a aguardar
melhores dias e o prefácio do tal senhor). Esse é o teu livro. O meu,
minha mãe, com fotografia e tudo, ainda está, só, em pensamento. Sabes
porquê, não sabes? Tu sabes tudo. Desculpa tratar-te por tu mas agora
tanto faz. Só tu, mãe, é que podes tratar do assunto e fazer-me feliz
por um dia, ou mais... Achas que se é feliz com um livro na mão? Eu já
fui, graças a D. Clarisse Barata Sanches e a quem ela recorreu... Eu
não sei recorrer bem.
Sabes, mãe, sei que ias gostar de vir à
"tua" Festa, sem choros nem nada, simplesmente ver e ouvir as
novidades. Desconfio que vão haver algumas novidades mas não me dizem
nada. Eu já não faço parte desse ramalhete de fé, embora continue
ligada à fé que me deste no berço. Lembro daquele fato que te ficava
bem... Lembro perfeitamente da saia que te cobria as pernas que não
andavam mais... Com as mudanças acho que lhe perdi o rasto.
Desculpa!
Será que me terias ajudado neste sonho de editar o
meu livro? Por vezes, penso que não, que me dirias para estar quieta;
por outras vejo-te a sorrir dando-me incentivo. Temos pena, não é?!
("Sem guita, não há chita"). Alguma vez te passaria pela cabeça que
tinhas uma filha que rimava por escrito, e que se não guardar as suas
rimas em algo palpável morre de desgosto? Mas tu também morreste algo
desgostosa... É sina de família....
Adeus!
Aquele beijo
que não te dei."