Um livro aberto
Alguém por mim chorará?
Verei a noite sorrir
E o mar de cá para lá,
Sempre da mesma maneira
Numa onda cantadeira.
Se alguém pudesse ver
O que vai dentro de mim
Talvez iria entender
Porque o choro rola assim.
Será tarde, porque em rima,
Chora toda uma vindima.
Não tenho mãe, nem pai,
E vou vivendo a reboque;
Cada filho é o melhor "Ai!"
E o que me tira do choque:
Vou rever o primogénito
Será sim, um grande frémito.
As saudades já são tantas
Espero tirá-las agora
E que as minhas poucas mantas
O aqueçam na nova hora.
Eles são ondas do mar
Que vêm e vão, sem parar.
Louvo a Deus, Pai do Céu,
Pela família que tenho,
E tiro o meu chapéu
Aos que por mim tem empenho.
Amor e sorte todos temos
À medida que merecemos.
Do Amor tive um punhado,
Da sorte rasa medida,
Mas eu sei que o diabo
Também mal faz de seguida...
Porque as lágrimas caídas
Me ardiam como feridas.
Rosa Silva ("Azoriana")