Os escritos são laços que nos unem, na simplicidade do sonho... São momentos! - Rosa Silva (Azoriana).
Criado a 09/04/2004. Angra do Heroísmo, ilha Terceira, Açores. A curiosidade aliada à necessidade criou o 1
Criações de Rosa Silva e outrem; listagem de títulos
Motivo para escrever: Rimas são o meu solar Com a bela estrela guia, Minha onda a navegar E parar eu não queria O dia que as deixar (Ninguém foge a esse dia) Farão pois o meu lugar Minha paz, minha alegria. Rosa Silva ("Azoriana") ********** Com os melhores agradecimentos pelas: 1. Entrevista a 2 abril in "Kanal ilha 3" 2. Entrevista a 5 dezembro in "Kanal das Doze" 3. Entrevista a 18 novembro 2023 in "Kanal Açor" 4. Entrevista a 9 março 2025 in "VITEC", por Célia Machado **********
Cantigas... dou-as ao vento
Que m'as leve mais além
Com um terno sentimento
Para quem lhes queira bem.
Voam letras pelos ares
Unidas pela razão
Quando chegam aos lugares
Mostram o meu coração.
Baila na boca do povo
A destreza das cantigas
É pena que o mais novo
Não goste dessas amigas.
Canta a minh' alma inteira,
Com vontade de aparecer
Com as «Rimas da Terceira»
Em Cantos de bem-dizer.
Rosa Silva ("Azoriana")
P.S. Escrito no dia que fui à Biblioteca Pública e Arquivo de Angra do Heroísmo (http://www.bparah.azores.gov.pt/html/index.html) na senda dos livros de Gervásio Lima sobre "Poetas e Cantadores" e "As Festas do Espírito Santo". Acabei lendo umas páginas do jornal "A União" do dia 2 de Junho de 1931, que referiam os festejos do Império de São João de Deus, pela Trindade. Foi nesta data (30 ou 31 de Maio de 1931) que a "Turlu" (Maria Angelina Sousa) encontrou o grande improvisador, conhecido por "Charrua" (José de Sousa Brasil). Só não sei se realmente foi neste ou no ano seguinte que estrearam o seu cantar ao desafio. No referido jornal não encontrei menção a esta efeméride. No livro de "Confidências" escrito por Mário Pereira da Costa fica-se com a impressão de que possa ter sido no ano seguinte mas é um facto que em 1931, a Turlu ouviu o Charrua cantar e gostou muito.
Enquanto isso, saltou-me ao pensamento as rimas expostas acima. Mesmo que eu não cante nos Arraiais ou Terreiros, podem crer que canto onde me leva o pensamento. Com o apoio das tecnologias e o serviço da equipa do SAPO as cantigas ganham um voo gigantesco, para quem delas gosta.
Ave na gaiola
O amor pela Cantoria
Veio sem eu esperar
Quer de noite quer de dia
Apanho-me a cantar.
É um canto abafado
Pelo silêncio da voz
Vai comigo pra todo o lado
De uma forma veloz.
Sem a viola da terra
E o violão audaz
Mais o silêncio aterra
E voar não sou capaz.
Uma ave na gaiola
Não canta tanto à vontade
Se se abrir a portinhola
Terá outra liberdade.
Rosa Silva ("Azoriana")
Bem-haja ao pessoal que trabalha na Biblioteca Pública e Arquivo de Angra do Heroísmo. Uma Biblioteca foi, é e será a guardiã de muitas criações e merece os maiores elogios pela boa preservação dos documentos de uma vida.
"Poetas populares que, nos arraiais, folias e demais festejos,
improvisam cantigas para um público que os ouve e aplaude com
entusiasmo. Ainda hoje a cantoria, expressão que o açoriano designa
por "desafio", constitui uma das solicitações do povo das freguesias
rurais, praticado nas ilhas do arquipélago, especialmente na Terceira
e em S. Miguel.
A cantoria é um autêntico torneio poético em que dois ou mais
improvisadores cantam ao ritmo estimulante da viola da terra, usando
como única arma ofensiva a redondilha maior. Durante horas seguidas, o
par de cantadores defronta-se com um tema que surge de momento. Esta é
a principal razão por que não estudam os seus versos, dada a
impossibilidade evidente de prever o assunto, condicionado por um dito
ou uma referência.
De facto, muitas vezes os cantadores provocam-se, descobrindo
mutuamente as suas fraquezas e defeitos, de tal modo que o público
menos habituado a esses debates, receia desfechos violentos como, por
exemplo, aconteceu quando o Chico da Vila se dirigiu ao Manuel Borges
Pêcego: «Já te vi um dia, Borges, / De tal forma embriagado / Deitado
numa valeta / E pelos porcos fossado», ao que este respondeu: «Ó
homem, andaste mal, / Porque bem não me fizeste; / Foste tu o
principal, / Até dentadas me deste.»
Mas no mesmo instante, o clima de tensão desaparece e os cantadores
elogiam-se mutuamente, amigos como sempre. E o desafio termina em paz,
com um sincero aperto de mãos. BORGES MARTINS"
A cantar colado à rima
Anda sempre o cantador
Cujo tema vem acima
Do ventrículo do amor.
O amor pela cantoria
Nas ilhas açorianas
É querido noite e dia
No Verão dumas semanas.
O Divino Espírito Santo
É mote glorificado
Que nos dá um tanto ou quanto
Um timbre mais inspirado.
B. Martins e G. Lima (*)
Elevaram cantadores
Por monde da dita rima
Património dos Açores.
Rosa Silva ("Azoriana")
P.S. Alguém sabe exactamente em que dia foi o Domingo da Trindade do
ano de 1931 (na ilha Terceira, em São João de Deus - Santa Luzia -
Angra do Heroísmo?
Foi em 31 de Maio de 1931, conforme jornal "A União", de 2 de Junho de 1931.
Este mar que te embala, na saudade te ressalga e pede para que voltes à sua beira, ao seu cheiro, ao seu bailado, à tua canção de adormecer no berço que foste criado.
Não esqueças de voltar à vista deste lugar onde o mar te vai beijar...