Os escritos são laços que nos unem, na simplicidade do sonho... São momentos! - Rosa Silva (Azoriana).
Criado a 09/04/2004. Angra do Heroísmo, ilha Terceira, Açores. A curiosidade aliada à necessidade criou o 1
Criações de Rosa Silva e outrem; listagem de títulos
Motivo para escrever: Rimas são o meu solar Com a bela estrela guia, Minha onda a navegar E parar eu não queria O dia que as deixar (Ninguém foge a esse dia) Farão pois o meu lugar Minha paz, minha alegria. Rosa Silva ("Azoriana") ********** Com os melhores agradecimentos pelas: 1. Entrevista a 2 abril in "Kanal ilha 3" 2. Entrevista a 5 dezembro in "Kanal das Doze" 3. Entrevista a 18 novembro 2023 in "Kanal Açor" 4. Entrevista a 9 março 2025 in "VITEC", por Célia Machado **********
Depois de ver imagens de casas tombadas pela força das águas tempestuosas nalgumas zonas da ilha da Madeira fico aterrorizada. Imagino o sofrimento e o medo que paira nos habitantes que se viram isolados e incapacitados de qualquer reacção.
Ninguém está livre desses perigos. Deus tenha misericórdia de todos e dê forças para a recuperação e reconstrução do que for possível reparar e reconstruir.
Completam-se, hoje, nove anos da partida de quem era trabalhador honrado, de quem sabia fazer tudo a que se propunha mesmo que, por vezes, tivesse que refazer algo que necessitasse melhor apuro, de quem gostava do mar e que foi criado num berço à beira-mar plantado, na freguesia de Santo Amaro da ilha do Pico, de quem se mudou definitivamente para a ilha dos cantares e festas tradicionais, para junto de uma pequena serra a que chamaram de Serreta, na ilha Terceira, e onde ficou para sempre o resto da sua ossada, de quem colhia da terra o produto que semeava ou plantava com força de vontade, após as horas laborais, de quem tinha um génio q.b. mas quem o soubesse contornar obtinha dádivas de bom coração; ele não era de mostrar emoções mas quem o conhecia, sabia que se emocionava e muito só que não era para se dar a conhecer facilmente esse lado mais frágil, porque, naquele tempo, um homem não devia chorar... Contam-se as vezes que o vi emocionado e mais as vezes que o vi de humor alterado.
Levou uma vida inteira de luta, trabalho e sacrifício para que a família tivesse o bem-estar recomendado para uma época. Nasceu numa segunda-feira, dia 2 de Dezembro de 1929, de lua nova, e faleceu numa sexta-feira, dia 23 de Fevereiro de 2001, também de lua nova. A chegada, no fim de ano, e a partida, no início de ano, deram-se numa estação fria. Lembro que chorei no "adeus". Já era mãe de três filhos, na altura. O primeiro tinha quinze anos (neto e afilhado do baptismo), a única neta tinha dez anos, o mais novo tinha cinco anos. Todos deliravam por um chocolate de creme no interior que o avô lhes ofertava após a missa dominical na sua visita fiel à Sociedade Filarmónica Recreio Serretense, no regresso à Canada da Vassoura, onde fixara residência permanente.
Hoje, passados nove anos da sua morte, terça-feira, a lua em quarto crescente, num dia que surgiu calmo e com o sol a despontar relíquias de esperança como que a dizer-me que para lá da partida fica sempre em alguém a lembrança da passagem terrena. É o testemunho da descendência que permanece enquanto a há.
Ainda lembro da burra de milho e de eu o ajudar a embelezá-la, de ir à frente da vaca com uma corda para que o rego ficasse direito, enquanto ele ia a comandá-la com o arado firme fazendo o percurso pautado do cerrado do seu empenho... Ainda lembro do meu rosto quase rebentar de vermelhidão pelo esforço de subir a canada que nos levava de volta à sopa de feijão, abóbora ou outra novidade que a terra nos dava após os trabalhos efectuados com o suor do nosso rosto... Era assim que se criavam os laços de pai para filha mesmo que a minha boca não se abrisse num queixume ou cansaço, pois nem ia adiantar nada. Tudo era uma mais-valia e não havia leis proibitivas deste bem-estar agrícola quando se enchiam as panelas e pratos do produto das nossas tarefas diárias.
Onde quer que ele esteja, peço a Deus, que zele pelas suas duas filhas e que esteja ao lado de quem o amou ao ponto de suportar as turbulências de uma vida de trabalhos, doenças e algumas (poucas) alegrias. Passados nove anos, ainda dou por mim a ter saudades do meu pai, Carlos Cândido (da Silva) - Nunca cheguei a perceber porque lhe retiraram o verdadeiro apelido. Afinal, nem precisava dele porque ele ficou no meu apelido, no da minha irmã e nos seus netos e neta. O meu avô paterno se chamava João Inácio da Silva, portanto, tudo me faz crer que deviam ter mantido esse apelido nos seus descendentes.
Ainda guardo, as suas recordações para os netos e neta, artesanato feito após ter perdido os dedos da mão numa serra eléctrica, na sua actividade laboral. E lembro da saudade que ele tinha do seu torrão natal que chegou a visitar algumas vezes e nos ensinou, também, a amar aquela "conchinha de amor" - Santo Amaro!
E mais... No dia do seu aniversário não podia faltar a festa comemorativa com um bolo. Hoje, a saudade aperta-me o coração e sinto dor de não lhe ter dado um beijo à partida. Contam-se os abraços e beijos que partilhámos... Outros tempos, outras eras, recheadas por uma educação severa.
Não sei se lhe cheguei a dizer que não gostava de muitas das tarefas que tinha de fazer por obediência a ele, mas hoje penso que não me fizeram mal nenhum e recomendo que os filhos respeitem os seus pais e ajudem em tudo o que puderem para que o remorso não seja a sua almofada no declínio das horas, na quietude do lar.
Resta-me finalizar com a ideia que ele adorava o Carnaval da ilha Terceira e faleceu pelo Carnaval de 2001... Não mais se ouvirá, à boquinha do Salão, o seu grito alegre e contagiante: "Olh'á Dança, rapazes!"
Rosa Silva ("Azoriana")
Nota: Quem sabe um dia alguém se prontifica a cantar as cantigas da Azoriana em memória daquele que amou os costumes e tradições da sua última morada terrena.
"(...) juntar os bloggers oriundos da ilha Terceira (quem sabe também de outras, caso tenham disponibilidade) num jantar de confraternização, onde podemos sobretudo trocar impressões sobre a realidade da blogosfera insular e da esfera no seu todo a nível global, entre tantos outros temas e assuntos que certamente surgirão naturalmente, e, não menos importante, conhecermos pessoalmente aqueles que apenas conhecemos virtualmente." (...) Continua em http://mbweblogv2.wordpress.com/2010/02/12/sugestao-jantar-blogs/
O modelo é outro mas a intenção é semelhante à de três anos a esta parte. É de louvar a iniciativa e não esqueçam de participar revendo conhecidos bloguistas e os que, entretanto, foram entrando para o mundo blogosférico.