O galo
Estou prostada na saudade
De coisas que tinha outrora
Curiosas, na verdade,
Que ressoam nesta hora.
Despertador natural
Num canto madrugador
Fez parte do meu coral
Das galinhas o primor.
Erguia ao romper da aurora
O triunfo da cantiga
Seduzindo naquela hora
A sua melhor amiga.
Hoje já não ouço o galo
O mestre bem afinado
Já me fugiu o gargalo
Resta-me o eco legado.
Canto meu dom ao luar
Tenho a aurora adormecida
Não sou um galo a cantar
Mas só ele me dá vida.
Se canto mesmo a escrever
Rendida à velocidade
É porque junto o prazer
Ao amor e à saudade.
Rosa Silva ("Azoriana")
P.S. Enquanto espero a chamada na consulta, vendo um galo madrugador num programa televisivo. Isto só prova que o dom vai com o cantador seja para onde for.