(De)pendências
Há mais de vinte e sete anos que trabalho em números. Não quero com isto dizer que esteja farta de fórmulas de cálculo. Há quem me peça para ajudar, para simplificar, para inovar. Isto resulta de uma nova classificação de serviço que, sinceramente, não me atrai. Mas há que me conformar com o rumo e com as novidades. Sonho com viagens, com férias ali à vizinha ilha do Pico, entre familiares e rostos conhecidos ou nem tanto
. Quando caio na real fico pelo sonho somente
.
Moldar os números, caracterizá-los, ornamentá-los para "inglês" ver, não é muito difícil. O difícil é aguentar a rotina. A rotina dá cabo de qualquer ser humano. Levanta, lava, veste, come, bebe; contas e mais contas, bebe, come, despe, lava, deita. Levanta, lava, veste, come, bebe; contas e mais contas entre algum ruído: pingos de chuva a bater musicando algum instrumento que ainda não decifrei, bebe, come, despe, lava, deita
... Não posso reclamar. Há quem esteja pior do que eu.
Entre aqueles afazeres há alguma pausa para as necessidades essenciais, que até parecem cronometradas.
Há quem passe o mês a contar com 250 euros para as despesas mensais. Há quem tenha milhões e milhões para usar, brincar, gastar, comer e beber à farta, vestir e lavar-se até com águas perfumadas na melhor residência possível (e até se mostram perante as audiências televisivas)...
Há quem nem tenha um cêntimo a cair da algibeira quanto mais da carteira. E não reclamam...
Há quem tenha até perdido os tais 250 euros e continua à espera de um milagre que tarda em chegar. Bem que gostava de ajudar quem assim está mas como? Estou dependente disto, daquilo e daquele outro... Isto tudo para vos revelar (e a quem me estiver a ler por esse mundo fora) que estou a precisar solenemente de férias, de dormir, de parar para pensar, de ver outras gentes, outras paredes, outros ares. Mas como?!
Agora pergunto-vos: Como passar umas férias sem gastos e relaxadas?