A noite nasceu... (Semana 1)
A noite nasceu velha. Longos cabelos grizalhos parecem cair pela parede vestida de uma luz pálida. Sento-me no lugar habitual e fico à espera da noite crescer. É lento o seu crescimento quando o dia vem longe. Abro a janela voltada à estrada. Ouvi o ruído habitual como que farto de estar viajando pelas ruas de todos e de ninguém. Era o "Faraó". Não. Não era esse Faraó. É o gato mais novo. Fartou-se de correr a vizinhança. Fartou-se da noite pequenina. Preferiu voltar ao calor de algum mimo apertado contra um bater de peito jovem.
A noite continua sem avançar para o dia que promete ser santo - feriado santo. Dia do Corpo de Deus. Esta é pois a noite que nasceu velha para se tornar nova com o florescer do santo dia.
Novos dias virão com noites diferentes se bem que com sentimentos iguais. Parece que se morre de noite para ressuscitar com o dia. Sou mais amiga da noite porque ela te trás para mim. O dia é como um gigante branco que te afasta de mim. Faz-me bem ter-te a meu lado / Como se fosses só meu / O dia é amargurado / Sem o mar do olhar teu.
A trinta e cinco noites seguir-se-ão trinta e cinco dias, se Deus quiser. Será que errei nas contas?! Tanto tempo a contar tempo.