Sinto-me triste e enervada...
Nesta manhã de sábado, fui numa viagem entre São Carlos e São Mateus, de Angra do Heroísmo, fazer umas compras necessárias. Pela viagem ouvi na rádio o programa "Manhãs de Sábado", porque um senhor tocador da nossa terra estava num parque de estacionamento com o volume a jeito de se perceber que se tratava de um programa sobre as nossas tradições culturais mais genuínas: as cantorias e cantadores ao desafio.
A dada altura ouvi falar sobre o nosso maior cantador, José de Sousa Brasil Charrua, e de outros. Lançaram um apelo para que se fizesse uma homenagem pelo seu centenário de nascimento a 24 de Junho de 2010, e que não se ouvia de tal se fazer, etc. etc.. Aí, senti um impulso por mim acima, senti-me triste e enervada. Graças ao cantador Paulo José Lima e graças a mim também, que não se fala noutra coisa na blogosfera há uns tempos a esta parte e ninguém, excepto Liliana Sousa e Dr. Marcolino Candeias, se lembra destes humildes servos. Se for uma entidade oficialíssima ou alguém com nome reconhecido já se torna importante... Um pé rapado, como eu, já nem sequer vem à baila. Tenho pena. Temos pena.
Aviso o público em geral de que durante meses tenho andado na senda de se fazer uma homenagem digna ao nosso poeta popular, cantador exemplar. Já escrevi bastante sobre o assunto. Basta usarem o termo de pesquisa: Charrua.
Não veio ainda a público mas sei que algo se vai fazer nem que seja em data posterior ao dia. Por mim, se é que mandasse ou tivesse voz activa neste assunto, no dia é que ficava bem e perante as ilhas, continente e estrangeiro. A sua ilha é que devia dar o exemplo e o ponto de partida para uma digna comemoração, se bem que peca por tardia e por póstuma. EM VIDA é que se dão os louvores aos digníssimos cantadores que têm o dom maravilhoso do improviso e são a mais valia da nossa cultura popular.
O meu nome não entra ainda nestas andanças porque não fui aos palcos desafiar quem me desafiasse. Deve-se, em parte, a motivos familiares que me impedem de avançar publicamente. Na escrita tenho dado provas mais que suficientes de que este dom me acompanha vinte e quatro horas. Quando rimo, faço-o repentinamente e publico em directo, muitas das vezes. Não há rascunho.
Ofendo-me quando os de cá nem sabem que esta máquina é poderosa. Enfim, há pessoas que não tem acesso às novas tecnologias, nem tão pouco sabem o que é um blog, uma página na internet...
Lembro que também o Ti' João Ângelo, das "Velhas" faz mais um aniversário no mesmo dia que Charrua faria. Ele está vivo e, se Deus quiser, presente nas nossas festas mais badaladas. É pena que este ano as Sanjoaninas tenham outras regras mas a crise está em todo o lado e há que conformar. Mas tem de se fazer algo a bem da nossa gente!
E chega desta escrita porque ela não é a minha favorita. Já em rima é outra coisa...
"Manhãs de Sábado" ouvi
Numa rádio regional
Uma tristeza senti
Não estar nesse local.
Falaram de cantadores
E também de cantorias;
Nas nove ilhas dos Açores
Elas são as mais valias.
Apelaram à homenagem
Que se deve ao Charrua...
Tanto frisei tal passagem
Que ela há-de vir p'ra rua.
Mas em mim nem se repara
Porque só canto em escrita...
No palco Maria Clara
É a nossa favorita.
A todos peço atenção
Para o que vos vou dizer:
Cantadeira de coração
Também se faz a escrever.
Eu escrevo em directo
Ao povo que me quer ler
E guardo tamanho afecto
Às cantigas, podem crer.
Bem-hajam os cantadores
Vivos e já falecidos
Se dêem maiores louvores
Aos que nos são tão queridos.
Com os anjos lá no céu
Cantam Turlu e Charrua
Que o nosso povo ilhéu
Sua memória construa.
Rosa Silva ("Azoriana")