Os escritos são laços que nos unem, na simplicidade do sonho... São momentos! - Rosa Silva (Azoriana).
Criado a 09/04/2004. Angra do Heroísmo, ilha Terceira, Açores. A curiosidade aliada à necessidade criou o 1
Criações de Rosa Silva e outrem; listagem de títulos
Motivo para escrever: Rimas são o meu solar Com a bela estrela guia, Minha onda a navegar E parar eu não queria O dia que as deixar (Ninguém foge a esse dia) Farão pois o meu lugar Minha paz, minha alegria. Rosa Silva ("Azoriana") ********** Com os melhores agradecimentos pelas: 1. Entrevista a 2 abril in "Kanal ilha 3" 2. Entrevista a 5 dezembro in "Kanal das Doze" 3. Entrevista a 18 novembro 2023 in "Kanal Açor" 4. Entrevista a 9 março 2025 in "VITEC", por Célia Machado **********
Depois de alguns meses afastado dos coretos da Terceira, João Ângelo voltou a cantar, no dia 24 de Junho, dia do seu 75º aniversário, no Pezinho das Sanjoaninas. Esteve convidado para a cantoria do dia 20, também das festas da cidade, que se realizou no Jardim Público da Terceira, mas a tosse forte que o atacou fez cancelar a sua presença.
Os meses de interregno ficaram a dever-se, em primeiro lugar, à operação a que foi submetido em Dezembro, e, em segundo, à morte da única irmã que tinha, mãe da, também, única sobrinha que tem.
No Pezinho, participaram sete cantadores: Mota, Eliseu, José Fernando, Maria Clara, Hélder, Retornado e João Ângelo. Começou junto da Câmara Municipal, na Praça Velha, depois caminhou pela Rua Direita até ao Sport Clube Angrense, subiu a Rua de São João e cantaram ao Santo das Festas, seguindo-se a Sé Catedral dos Açores, o Sport Clube Lusitânia, e terminou em frente do Secretariado das Festas. Em todos os lugares, e de todos os cantadores saíram cantigas dignas de registo. Das doze que cada um improvisou ficam aqui algumas.
António Mota, junto da Câmara, sua entidade patronal, disse para a Andreia Cardoso, a presidente:
Esta Câmara é tão bela
Revestiu-se de linda cor
Quem olhar p’rà porta dela
Vê a mais bonita flor.
João Ângelo, ainda junto da Câmara, terminou com esta quadra, aludindo às brasileiras e ao negócio dos chineses:
As senhoras são mais melgueiras
Tem sempre mais delicadezas
De noite temos as Brasileiras
E de dia as Chinesas.
O Eliseu, também funcionário do quadro da Câmara, com a categoria de Engenheiro do Ambiente, disse na Rua de São João, junto do Angrense, referindo ao Luís Gonçalves:
O Angrense actualmente
Honra todas as condições
E tem um presidente
Que fica lindo de calções.
José Fernando, tesoureiro do Município Praiense, cantou junto da imagem de São João, no canto da mesma Rua, e disse:
São João ao nascer
Era filho de Zacarias
Para depois de morrer
Ser santo nos nossos dias.
E João Ângelo, como os outros, aludiu à fraca beleza da imagem:
Eu por acaso nasci
Na data de São João
Mas quando olho p’ra ti
Tenho dó dessa posição.
O Retornado, ainda junto de São João, não deixou de criar as rimas de sentido profundo, como ele sabe fazer:
Isabel deu-te à luz
Que era prima da virgem mãe
Se és primo de Jesus
És nosso primo também.
Junto da Sé Catedral dos Açores, foram improvisadas quadras de fino recorte, que não podem ser todas aqui inseridas. Maria Clara, com a sua juventude cheia de futuro, disse:
Como esta não há igual
Onde param os oradores
Pois é Sé Catedral
Das nove ilhas dos Açores.
O Hélder também não deixou os seus créditos por mãos alheias e enalteceu a Catedral:
Ó santa igreja da Sé
A quem canto em pormenor
Enquanto houver alguém com fé
Tu serás sempre a maior.
José Fernando, referido a São João e São Salvador, disse:
Agora dizer me resta
Uma coisa que é verdade
São João vigia a festa
São Salvador a cidade.
O Retornado improvisou:
Rezem comigo neste segundo
Minhas senhoras meus senhores
Pedindo ao Salvador do mundo
Rogai por nós pecadores.
E João Ângelo rematou, que nem sempre se faz o que se diz:
Há palavras apreciadas
Nesta fiada seguida
Que depois não são usadas
Nos dias da nossa vida.
Já junto da sede do Lusitânia, e antiga casa de D. Violante do Canto, a Música que acompanhava o Pezinho tocou os “Parabéns a Você”, para os 75 anos de João Ângelo.
Maria Clara soube enaltecer o grande Clube da Rua da Sé, que esteve quase a fechar portas:
Canto a campeões bem posso ver
Com rimas de tal tamanho
Se forem dos que sabem perder
Já têm o vosso jogo ganho.
E o Retornado concluiu:
Ele já tem seiva na planta
Pois nem tudo está perdido
Porque quem cai e se levanta
Não conta o ter caído.
O Pezinho terminou do lado contrário da Rua, a cantar ao Secretariado das Festas Sanjoaninas de 2010. Seguem-se as quadras de Mota, Eliseu, Maria Clara e Hélder, respectivamente:
Letícia das mentes finas
Não encontras obstáculo
Até agora as Sanjoaninas
Estão que é um espectáculo.
Tens dado passos seguros
Esses são o teu abono
E esses óculos escuros
Encobrem olhos de sono.
Aqui ao entrar qualquer humano
Sabe que tem trabalho profundo
Mas conseguiram este ano
Fazer d’Angra Jóia do Mundo.
Tu tens mostrado que és capaz
De montar toda esta cena
Depois tu vais olhar p’a trás
E pensar que valeu a pena.
(*) Autor do livro “João Ângelo – O Mestre das Cantorias”, e outros.
É com elevada satisfação que soube que irá ser inaugurada a exposição de HOMENAGEM a José de Sousa Brasil CHARRUA desde o dia 25 de Junho até ao dia 24 de Setembro de 2010, comemorando assim o centenário do seu nascimento.
Este evento foi possível graças ao empenho do Director da Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Angra do Heroísmo, Dr. Marcolino Candeias, que também era vizinho de Charrua, nas Cinco Ribeiras.
Fico muito feliz por me ter informado desta excelente notícia que, espero sinceramente, seja do agrado de toda a população que gostava de o ouvir, e recentemente de ler, sobre o poeta popular repentista da nossa ilha e Região.
Um bem-haja ao Dr. Marcolino Candeias e todo o pessoal envolvido neste evento extraordinário.
O cartaz supra já está colocado na fachada do Palácio Bettencourt, desde 14 de Junho, na esquina da rua da Rosa com a Carreira do Cavalos.
A inauguração será a 25, devido à agenda das Sanjoaninas para o dia 24.
E "No dia dos teus anos" In livro das Confidências Turlu deu-lhe, sem enganos, Sextilha de excelências.
Rosa Silva ("Azoriana")
"Bem-haja o que tens ditado, Ou escrito com o teu punho, Do povo, és admirado, Seja para sempre lembrado O Vinte e quatro de Junho!"
In página 294, do livro de Mário Pereira da Costa:
"AURORA E SOL NASCENTE - Turlu e Charrua Confidências"
Nossa Angra é luminosa Com os seus versos de rua É uma jóia famosa P'lo centenário de Charrua.
Mar de gente na escadaria Da luzente Sé Catedral Onda de alegria presente Neste imenso arraial.
Leia o "Voto de Saudação" apresentado pelo Dr. Clélio Meneses e aprovado por unanimidade na Assembleia Legislativa Regional ,no dia 17 de Junho de 2010, Horta - Faial.
VOTO DE SAUDAÇÃO
A cultura de um Povo vive na alma daqueles que o corporizam e fica registada nos retratos de uns poucos que, tendo a fortuna dos génios, selam para os vindouros a marca de um tempo e de um espaço, no modo como viveram e expressaram a vida.
Alguns têm a oportunidade das universidades levando e trazendo a Cultura que enforma a identidade das comunidades.
Outros têm, apenas, a oportunidade da Vida, encimando os palcos dos homens com a superioridade da sua existência.
Aqueles e estes, na genialidade que encerram, são exemplos de homens e mulheres que, pela profundidade de pensamento e elevação dos desígnios, ilustram uma terra e a sua gente!
Porque de gente da terra se tratam, os cantadores populares, ao desafio, ou improvisadores, constituem uma das maiores riquezas da cultura açoriana.
A 24 de Junho de 1910, nascia na Ribeira do Mouro, freguesia das Cinco Ribeiras, na Ilha Terceira, um dos mais ilustres representantes desta casta de homens, José de Sousa Brazil, que, em vida e pelas vidas de milhares de açorianos, foi conhecido por “Charrua”.
Faz para a semana cem anos, que viu a luz do dia alguém que, com as suas palavras, deu luz a muitas noites das ilhas e à vida de milhares de açorianos que acorriam aos terreiros e aos coretos para o ouvir e sentir.
Da rudeza das terras que desmatou ao calor da padaria onde fez pão, da Base das Lajes onde conheceu outras gentes e outros costumes ao Canadá onde viveu, como tantos dos nossos que às Américas aportaram para construir novas vidas, sempre manifestou a delicadeza dos sentimentos e cantou a eloquência das palavras e do conhecimento, extraordinária para quem tinha passado apenas três anos na escola.
Quadras que ele próprio classificava:
Elas são brancas como os lírios
Duras como as verdades
Coxas como os martírios
E negras como as saudades!
Na métrica perfeita das quadras, quintilhas, sextilhas, oitavas, décimas e sonetos, “Charrua” marcou um tempo e, desse modo, a própria forma de cantar de improviso, fazendo com que a própria música que identifica as “cantorias” fosse outra antes e depois do cantador das Cinco Ribeiras.
Na verdade, a música das violas e violões teve de adaptar-se à força das palavras, da voz e da inteligência de “Charrua”.
Foi, também, pioneiro na introdução de um vocabulário superior, inspirando jovens que, por causa dele, foram e são cantadores, constituindo aquilo que se pode chamar de uma escola de cantar e de vida!
Sensato e “genioso” no génio do temperamento e da inteligência, “Charrua”, também, tinha sentido político revelado, por exemplo, quando, nos alvores da democracia e da autonomia, perante um parceiro de cantoria que elogiava o Estado Novo, afirmava cantando:
Mas nós fomos maltratados
Por governantes anteriores
Hoje somos governados
Por quem conhece os Açores!
Com um apurado sentido de justiça e desprendimento pelas coisas materiais da vida, que só alguns têm a dita de viver Charrua cantava:
Já tive pão na sacola,
Saí de casa em jejum,
P’lo caminho dei de esmola
A quem não tinha nenhum.
A sua vida foi, do mesmo modo, marcada pela paixão e pelo desassombro com que assumiu o amor com aquela a quem se deverá chamar a rainha das cantorias. Maria Angelina de Sousa – A Turlu – foi companheira de cantorias com quem protagonizou quentes e acirrados despiques nos terreiros e palcos da ilha.
Depois do calor de anos de desafios improvisados, Charrua e Turlu, viveram os últimos anos da vida casados e, assim, terminando as suas existências com a coroa dos sentimentos que, na verdade, deram força ao brilho dos versos que cantaram.
Cantou pelos Açores, aqui e lá longe onde a saudade mata as distancias, cantou com tantos e tantos daqueles que foram e são os cantadores das ilhas, e cantou para as multidões que até aos oitenta anos de “Charrua” iam longe e ficavam horas a escutá-lo.
Os Açores são o que são pelas ilhas que tem e pelas pessoas que os vivem.
Devemos, pois, exaltar o que de melhor e mais representativo temos!
José de Sousa Brazil, o “Charrua”, é um dos melhores e daqueles que melhor representa o que foram, são e serão os Açores.
Assim, o Grupo Parlamentar do PSD, ao abrigo das disposições estatutárias e regimentais aplicáveis, propõe à Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, um Voto de Saudação pelos 100 anos do nascimento de José de Sousa Brazil, o “Charrua”, pelo que a sua vida representa para a Cultura açoriana.
Horta, Sala das Sessões, 19 de Janeiro de 2010
Os Deputados Regionais
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Parte II
João Ângelo Vieira
João Ângelo neste dia Canta seu aniversário Que o goze com alegria E gosto extraordinário.
Se for às Sanjoaninas No Pezinho da cidade Cantará quadras divinas Sorrindo à nova idade.
O amor pela Cantoria É sua especialidade O seu rimar contagia A nossa sociedade.
E a mim o seu sorriso E olhar tão incidente Provoca o improviso Na minha alma contente.
Hoje lhe mando um abraço Com grande admiração Há rimas em seu regaço Que são dignas de ovação!