Os escritos são laços que nos unem, na simplicidade do sonho... São momentos! - Rosa Silva (Azoriana).
Criado a 09/04/2004. Angra do Heroísmo, ilha Terceira, Açores. A curiosidade aliada à necessidade criou o 1
Criações de Rosa Silva e outrem; listagem de títulos
Motivo para escrever: Rimas são o meu solar Com a bela estrela guia, Minha onda a navegar E parar eu não queria O dia que as deixar (Ninguém foge a esse dia) Farão pois o meu lugar Minha paz, minha alegria. Rosa Silva ("Azoriana") ********** Com os melhores agradecimentos pelas: 1. Entrevista a 2 de abril in "Kanal ilha 3" 2. Entrevista a 5 de dezembro in "Kanal das Doze" 3. Entrevista a 18 de novembro 2023 in "Kanal Açor" **********
Em Julho de 1985, saí da Serreta abraçando um casamento com a idade de 21 anos. Passados vinte e cinco anos é tempo de fazer uma reflexão ponderada e triste. O que é hoje a Serreta para mim? Uma saudade, um descontentamento, uma lembrança, um passado. Perdeu-se o casamento, partiram os pais, os sonhos. Ficaram as crenças e devoções. Inspiro-me na Serreta, na sua Rainha e na minha mãe. De resto, percebo que o local é o mesmo, melhorado, as pessoas são outras, já pouco ou nada resta. Resta sim, a SAUDADE.
Hoje disseram-me: - "Desculpa se te vou ofender mas a Serreta foi a mais pobre na apresentação do "nosso" 35...". Não me admirei, nem me ofendi, apenas senti uma tristeza, não por minha causa, mas pela minha mãe. Ai se ela ouvisse dizer isto?! Se ela fosse viva e soubesse que iam fazer um programa televiso na "sua" terra natal, acredito, piamente, que outras cenas viriam ao grande ecrã. Se calhar teria pedido à minha irmã para fazer massa sovada, pão de trigo, pão de milho, caspiadas, torresmos de todas as formas e sabores, doce de amora silvestre, filhoses à moda do Carnaval, raivinhas, e sei lá mais o quê. E claro que teria também abundância de bebidas espirituosas e peças de artesanato antigas, inclusive as que meu falecido pai deixara de herança para os netos. A música estaria em peso e fardada como mandam as boas práticas...
O que interessa é que a Serreta esteve bem representada na medida do possível. A Senhora dos Milagres e a paisagem falam por si. Não precisa de mais nada... Poderia até estragar o ambiente que, naquele momento, foi solene.
Acredito, também, que muitos dos emigrantes (na ilha e fora dela) sentem o mesmo que eu: a SAUDADE. E, sobretudo, quando para cá voltam apercebem-se de que tudo mudou e nada é como antes. Vive-se de recordações que só se avivam nas primeiras semanas de Setembro, p.f., com a solenidade festiva de Nossa Senhora dos Milagres, que nem precisa de grandes divulgações porque já toda a gente sente o chamamento para aquela que é a maior enchente para as bandas serretenses. É assim que a Serreta ganha luminosidade com o brilhar de foguetes, com o cheiro a alcatras, com as flores beijando o sorriso de Nossa Senhora, junto ao Altar e nos caminhos da fé cristã...
A Serreta para mim continua a ser um bálsamo para a alma, um passado com uma margem de vinte e cinco anos. E canto a Serreta: Tu foste o meu lar e a ti hei-de voltar sempre que o coração a isso me chamar!