Os escritos são laços que nos unem, na simplicidade do sonho... São momentos! - Rosa Silva (Azoriana).
Criado a 09/04/2004. Angra do Heroísmo, ilha Terceira, Açores. A curiosidade aliada à necessidade criou o 1
Criações de Rosa Silva e outrem; listagem de títulos
Motivo para escrever: Rimas são o meu solar Com a bela estrela guia, Minha onda a navegar E parar eu não queria O dia que as deixar (Ninguém foge a esse dia) Farão pois o meu lugar Minha paz, minha alegria. Rosa Silva ("Azoriana") ********** Com os melhores agradecimentos pelas: 1. Entrevista a 2 de abril in "Kanal ilha 3" 2. Entrevista a 5 de dezembro in "Kanal das Doze" 3. Entrevista a 18 de novembro 2023 in "Kanal Açor" **********
Um presépio. Nesse presépio tinha um Menino, uma Maria, um José, um Anjo, um burrinho e uma vaquinha. Tinha também umas ovelhinhas que aqueciam as palhinhas do Menino. Tinha um galo para chamar os pastores e visitantes do Menino que iria nascer dali a um mês, como era habitual festejar em todos os anos, em quase todos os lares e igrejas.
Estava na altura de "armar" o presépio na parte mais harmoniosa da casa. Com esta seria a terceira vez que tais criaturinhas vinham à luz do dia e ao luar da noite. Mas, de repente, houve um alvoroço. Uma ventania... turbulência... desassossego bastante e tudo virava, tudo tombava com a intempestiva chegada de uma bola de pêlo luzídio de negro... Mas quem será? Mas quem será o intromissor?
Era nem mais nem menos do que o "Faraó", o preto como lhe chamamos todos os dias. Ei-lo instalado no seu trono preferido. E onde estará o Menino?
O Menino acho que está confortavelmente aquecido por este bichinho de olhar esverdeado, cujo sorriso nem se vê... O nosso é que se viu estridente :)
Manuel Marcelino, Alexandrina (minha avó) e Humberta
Olhando esta imagem, onde estão oito sorrisos radiantes e diferentes, com o mesmo sangue correndo nas veias, dá uma saudade inimaginável. Julgo que aqui teria treze anos (1977). Estava tão feliz ao lado dos meus cinco primos, irmã e avó materna. Qual dos primos é o mais parecido com a sua avó? Ela já não está entre nós há vinte e quatro anos. O neto mais velho era o Daniel Cota que partiu cedo, com meio século. Todos casaram, todos tiveram descendência. Apenas eu estou divorciada.
Acho que o meu filho mais novo é o retrato da tia, a neta mais nova de minha avó, que está do seu lado esquerdo. Dizem que ela é parecida com o pai e eu parecida com a mãe.
Alexandrina com sete netos Estava radiante e feliz Rodeada de afectos Trilhando a sua raiz.
Vitorina, Laura e Natália, Humberta e o Manuel, (Só eu não fui Cidália), Rosa e também o Daniel.
Neste dia de alegria Sorrindo aos americanos Que tiraram a fotografia Que perdura há muitos anos.
Quem me dera reconstruir Todo este enorme encanto Continuar a sorrir Lá naquele terno canto.
Ai tanto que já passei, E outro tanto vivi, Aquela sala limpei E agora não moro ali.
Já tomou outra figura, Há paredes derrubadas, Na lembrança há a ternura Destas horas bem passadas.
Amei quando me disseste: (...) "a minha amiga "Azoriana" é um livro aberto! E universal a partir da ilha."
Quem, como eu, vive numa ilha é que sabe o sentir ilhéu. Quem, como eu, vai tendo acesso às novas tecnologias que nos põem em directo com o universo virtual, que certamente vai passando para o real através da impressão e/ou divulgação de mão em mão, é que sabe o impacto que se vai tendo nos diversos sentires.
Sou o retrato de alguém que me doou um dom, cuja apresentação só se deu quando me voltei para mim e vasculhei sentires que jamais me tinham fustigado antes do ano de dois mil e quatro, mais propriamente, o mês das flores: Abril.
O respigar das pétalas foi tomando o meu ser e abraçou-me de tal forma que nem deu para me afastar. Embrenhei-me por marés e ventos em escritos de apetecer, de prazer e de gratidão, de oblação. Não ousei disfarçar os sentires de quem me abraçava e me impelia a rascunhar, tecladamente, outra forma de vida. Uma forma, de tal forma, que me deu asas e voei, me deu sorrisos e sorri, me deu paz e fiz-me folha de miravento, o tesouro que desejo e acalento.
Graças a um punhado de heróis das letras, na língua mátria, percebi que, finalmente, os meus sentires são o que tenho de melhor - o amor de berço. O SAPO foi a ponte para avançar na fortaleza das ideias, o resto veio por acréscimo. Presentemente, descubro que sou uma mulher realizada e feliz. Agradeço a quem consolidou este sentir.
"A exposição de fotografia "Percursos de Esperança" será inaugurada no próximo dia 2 de Dezembro, pelas 18:00h, na Academia da Juventude da Ilha Terceira - Praia da Vitória, local onde poderá ser visitada durante todo o mês de Dezembro.
Esta é a fotografia que estará a representar-me. Dei-lhe o nome "Fé enquanto fonte de esperança" e foi captada no Santuário Diocesano de Nossa Senhora dos Milagres, localizado na freguesia da Serreta, ilha Terceira, na madrugada do dia 12 de Setembro de 2010. Foi a única fotografia que submeti à avaliação do júri. Foi uma das 20 seleccionadas de entre um total de 104 fotografias apresentadas a concurso."
Estes dois parágrafos, acima, fazem parte de um artigo publicado por Miguel Bettencourt, um blogger terceirense que conheci no I Jantar de Bloggers da Terceira. Fiquei com uma boa impressão dele e, sempre que nos encontramos, quer na vida virtual, quer na real, há uma cortesia amigável, uma palavra de simpatia e uma irmandade blogger. Fazemos parte deste novo mundo de escritos e imagens captadas com um olhar atento.
É precisamente por causa desse olhar atento que hoje dedico este artigo ao caríssimo Miguel Bettencourt. O Miguel gosta da Serreta e com a sua imagem submetida a concurso ficou num bonito patamar. Que maravilha! A Senhora dos Milagres faz milagres a quem dela se abeira. Acreditem que é verdade.
Estou muito feliz e mais feliz estaria a minha falecida mãe porque veria a "sua" Serreta como uma «fonte de esperança» de olhares peregrinos.
Poderia chamar-te a ilha dos monumentos e dos cronistas, tu que és a mais histórica destas históricas ilhas... Poderia falar das tuas fortalezas, dos teus conventos, das fachadas das tuas casas renascentistas...
Poderia até chamar-te Angra do Heroísmo, cidade vaidosa do património mundial! Ou então Praia da Vitória, terra-mãe de Nemésio que ninguém leu.
Ah, sim, e poderia falar das tuas touradas e da euforia das tuas festas! Tanta coisa que eu poderia dizer do teu povo festivo e festeiro. Dos teus arraiais. Dos teus impérios. Das tuas alcatras suculentas. Da tua massa sovada de apetecer. Do teu alfenim conventual. Das tuas Danças de Entrudo. Da ternura que contigo partilhei no Jardim. Dos beijos que contigo troquei nas banquetas do Pátio da Alfândega. Das tuas quintas de S. Carlos e das tuas matas da Serreta...
Mas não. O que quero mesmo é repousar o meu olhar no teu Monte Brasil. E imaginar que vou partir por esse mar fora! E viver intensamente o bulício a bordo de paquetes iluminados. E respirar, no convés, a amplidão dos horizontes. E, depois, recolher ao camarote e adormecer. Com as vagas por travesseiro."
"Visões das ilhas", Victor Rui Dores *, in "Comunidades" da RTP-Açores.
* Victor Rui Ramalho Bettencourt Dores nasceu no dia 22 de Maio de 1958, na vila de Santa Cruz da ilha Graciosa, Açores. Licenciado em Germânicas, pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, é actualmente professor na Escola Secundária Manuel de Arriaga, e, na cidade da Horta, desenvolve apreciável actividade cultural. Com vários livros publicados, é poeta, romancista, ensaísta, crítico literário, cronista, etnomusicólogo e linguista. Colabora regularmente nos jornais, na rádio e televisão dos Açores e está ligado à actividade teatral como actor e encenador. Produção Literária: Poemas de Mar e de Fogo(poesia), 1978; Grimaneza, ou um Barco ChamadoDesejo (contos), 1987; Entre o Cais e a Lanche (poesia), 1990; À Flor daPele (poesia), 1991; Sobre Alguns Nomes Próprios Recolhidos naIlha Graciosa (ensaio), 1991; Histórias em Peripécias, 1990; Bons Tempos (crônicas), 2000; Açores, as Ilhas Ocidentais - Azores, the Western Islands (albúm fotográfico), 2004; A Valsa doSilêncio (romance), 2006; A Graciosa Ilha (texto/fotos de José de Nascimento), 2009.
Bendito seja o teu olhar. Bendita seja a tua escrivaninha, onde te sentas e dilaceras, amigavelmente, com a tua pena as folhas de outrem. És o juiz cordial, o tutor magistral, o bálsamo da alma, que rima a paz de uma gaivota, o murmúrio das ondas temperadas de desejo, o cálice da aventura ilhoa, o caminho do sonho, a fluidez do canto, o sopro do verso estendido no corpo de uma quadra, a redondilha marcando o tempo que não volta mais.
Fixaste os meus olhos e absorveste as ideias da alma. De um trago possuiste a ideia germinada nas entranhas da vida, ora calma ora num turbilhão de pensamentos nus. E viste o meu berço talhado pelo suor de umas mãos que mimaram o corpo saído do ventre do amor. E ouviste o meu choro tonificado pela melodia angelical da clave rural. E tocaste o meu ser escrito nas dunas da alegria e nas escarpas da tristeza. E tingiste o teu olhar com as águas límpidas colhidas de um denso nevoeiro que enfeitiçou o teu coração peregrino...
Ai, como sou feliz sabendo que os teus olhos fitaram os meus sem ser preciso uma presença viva. Por isso, eu digo, basta um olhar interilhéu para se saber que as rimas são um doce da alma terceirense.
A felicidade não existe todo o tempo, não se faz a curto prazo, mas quando nos bate ao coração está na altura do grito: Estou feliz!
Rosa Silva ("Azoriana")
P.S. A propósito de um e-mail recebido que ficará como lembrete.