O Antes e o Depois
Não! Não sou VIP, nem JET7, nem manchete de uma “Grande Reportagem”, nem notícia de horário nobre, nem figura pública. Sou, sim, uma cidadã que se sente realizada a nível profissional e quase, quase a nível pessoal, não fossem os arrepios próprios de uma vida sujeita às intempéries ou bonanças ocasionais.
O facto de gostar de blogar é meio caminho para me sentir um ponto acima da vivência pacata de algumas pessoas que nem sabem o que é um blogue. Imaginem que, no início, quando mencionava que tinha um blog, até parecia que estava a dizer algum palavrão, algum slogan partidário, algum objecto que serve para murar uma casa: tens um bloco?! E lá vinha eu com as migalhas explicativas, ao ponto de ficarem boquiabertos por eu ter um diário virtual. “Ah, piquena profeita! Escreve para baixo sobre a nossa Serreta!” e mais, “Eh, piquena, pois não te sabia com tais dotes nas cantigas… Vai em frente, força!” e outras tantas mensagens de se tirar o chapéu ou de o enfiar bem até às orelhas… “Acho que te estás a expor demasiado… Olha que o mundo nos vê, Deus nos conhece e nada é como parece”. Podem crer, que esta me tocava no goto, por outra pensava: - Deixá-lo. Se ela me inspira pois não vou negar-lhe esse gosto! E assim seguia com mais ou menos artigos, mais ou menos rimas, mais ou menos inspiração. Raramente faltavam os agradecimentos, os destaques a isto ou aquilo, o olhar atento a alguma menção à “Azoriana”… Esta alcunha também foi alvo de algumas peripécias… Até julgaram que eu era americana… Tudo porque as cedilhas são umas marotas nestes caminhos tecnológicos e esbarram nos muros virtuais. Tira cedilha e ala que se faz tarde: um “Z” é sempre um “Z” e serve para bom turista ler (Azores, Azorianos, Azorianas and so on).
Passada esta faceta, dei em notar algum “feed-back”, expressão pomposa americanizada que quer dizer algum retorno de informação, ao ponto de me incentivar a prosseguir no bom caminho, isto é, em boas salas com a presença de escrita poética mundial: A “AVSPE – Academia Virtual Sala de Poetas e Escritores", da qual sou membro efectivo a convite da sua fundadora, Efigênia Coutinho, e, mais recentemente, também sou Confrade da Página Pessoal de Pinhal Dias e São Tomé - “Os Confrades da Poesia”, onde se encontram vários Confrades de cá, de lá e de mais além.
Agora digo que valeu! Valeram-me os retalhos da inspiração, a repentista e rimada raiz cultural, bem como o crescimento de amizades com um mesmo sentimento: o prazer de escrever e de dar ao mundo uma amostra do ontem, do hoje e do que virá depois de mim, de nós: a SAUDADE, uma longa e sentida saudade, que se tiver a resposta global ficará nos papéis reais da memória.
O corpo tem a medida
De acordo com o tamanho
Porém a alma é erguida
Além do corpo que tenho.
De mim não podem tirar
A alma de pano-cru;
Somente podem lembrar
Que sou da terra da Turlu.
O corpo dela é ossada
Mas a alma permanece
Nos lábios da terra amada
Onde a rima estremece.
Meus amores pela rima
Vingaram no virtual;
A raiz veio ao de cima
E tornou-se um ideal.
Rosa Silva (“Azoriana”)