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Açoriana - Azoriana - terceirense das rimas

Os escritos são laços que nos unem, na simplicidade do sonho... São momentos! - Rosa Silva (Azoriana). Criado a 09/04/2004. Angra do Heroísmo, ilha Terceira, Açores. A curiosidade aliada à necessidade criou o 1

Criações de Rosa Silva e outrem; listagem de títulos

Em Criações de Rosa Silva e outrem
Histórico de listagem de títulos,
de sonetos/sonetilhos
(total de 1006)

Motivo para escrever:
Rimas são o meu solar
Com a bela estrela guia,
Minha onda a navegar
E parar eu não queria
O dia que as deixar
(Ninguém foge a esse dia)
Farão pois o meu lugar
Minha paz, minha alegria.
Rosa Silva ("Azoriana")
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Com os melhores agradecimentos pelas:
1. Entrevista a 2 de abril in "Kanal ilha 3"

2. Entrevista a 5 de dezembro in "Kanal das Doze"

3. Entrevista a 18 de novembro 2023 in "Kanal Açor"

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David Fagundes RIP

16.12.10 | Rosa Silva ("Azoriana")

 

David Fagundes

 

DAVID FAGUNDES – FIM DUMA VIDA

 

Liduino Borba

 

Na Páscoa de 2009, lancei na Fonte do Bastardo, freguesia de origem do biografado, numa cerimónia, muito participada, integrada na “Onda Cultural” da Câmara da Praia da Vitória, apoiada pela Junta de Freguesia, o livro “David Fagundes – Versos duma Vida”.


No dia 14 deste mês de Dezembro faleceu David Fagundes e apetece escrever “David Fagundes – Fim duma Vida”.


O meu relacionamento com David Fagundes vem dos anos setenta, como Guarda Fiscal, quando trabalhei na Agência dos Barcos, na Praça Velha, entre 1970 e 1981, mas apenas em termos profissionais, porque não o conhecia como improvisador.


O meu conhecimento sobre a existência de David Fagundes, como repentista, aconteceu numa conversa com Norberto Bettencourt, funcionário do Museu de Angra e proprietário d’”O Arado”, aquando da minha recolha de Velhas, em 2005, para a publicação de um livro, que poderá conter cerca de um milhar delas, distribuídas por cerca de meia centena de autores.


Nessa data mostrou interesse em deixar “uma recordação para familiares e amigos”. Do nosso relacionamento, percebi a qualidade dos seus versos, «que se lê com muita fluidez» como disse Victor Rui Dores. Em 2008, depois de uma conversa com ele e com a esposa ficou decidido fazer o livro.


Segundo Victor Rui Dores, em 6 de Fevereiro de 2009, no Prefácio do livro, «… este terceirense veicula, nos seus versos, uma inabalável fé cristã, escrevendo, com os olhos da memória, sobre o fluir do tempo, a saudade, a distância, a ausência, a viagem, o afecto, o amor, a vida e a morte no registo mais sentido de uma escrita pessoalíssima e profundamente humana. Eis um homem que através das suas rimas se dá aos outros, ele que é portador de uma consciência crítica e de um apurado sentido de justiça, dando disso conta no que escreve e na maneira como escreve.»


Escrever sobre a morte não é nada fácil, mas David Fagundes fazia-o com muita mestria e à vontade. Sobre a sua, que fez tudo para adiá-la, e que tinha algum receio como me confessou, escreveu nove quadras alusivas ao tema, que a família teve a feliz ideia de as publicar no folheto da funerária aquando da morte. Por estarem dívidas em dois temas no livro, juntei-as:

 

«Algumas quadras para mim

 

Há anos, que faço quadras para diversos fins, mas nunca tive o desembaraço de fazer umas para mim. Aqui vão elas:

 

Até que resolvi fazer

Embora pobres mas singelas

Comecei-as a escrever.

Com simplicidade, vão elas.

 

Sino que dobras para alguém

Que acaba de sucumbir

Um dia dobrarás também

Para mim, que te estou a ouvir.

 

Sino que entoas a tua voz

Enquanto a vida vivemos

Duas vezes tocas para nós

Ao nascer e quando morremos.

 

Com mais ou menos sorte

Sem neste mundo já progredir

Luto até que venha a morte

A que não posso fugir.

 

Sem lamentos nem dissabores

Cada um pode rezar.

Detesto grinaldas de flores

Que não me iriam salvar.

 

Tenho uma farda linda e nova

No meu quarto a jazer

P’ra ir comigo p’rà cova

Um dia quando morrer.

 

Podem pôr sobre o meu caixão,

De qualquer cor de tecido,

Um letreiro a pedir perdão

Aos que sem querer tenha ofendido.

 

Podem pôr a minha estampa

Na sepultura a mim incumbida

E ponham as flores na campa

Que me foram dadas em vida.

 

Rezem vezes a miúdo

Porque em vida muito rezei

Se com a reza eu não for tudo

Sem ela nada serei.

 

28 de Setembro de 2006».

 

Só os grandes improvisadores conseguem escrever assim. Faleceu o David Fagundes, fechou-se mais uma biblioteca.


Paz à sua alma!

 

Casa da Terra Alta, 16 de Dezembro de 2010.

 

 

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Quão dolorosa partida

Para quem lhe tinha amor

Ele perdeu por cá a vida

Pra seguir na do Senhor.

 

Foi no mês do nascimento

Do Divino Redentor

Pra que o seu falecimento

Fosse tido sem mais dor.

 

Cristo o levou para o Céu

Junto de anjos e arcanjos

E o seu irmão ilhéu

Fica com os seus arranjos.

 

Homem bom e repentista

Que seu livro teve e viu:

Continua o nosso artista

Nas rimas que bem urdiu.

 

À família enlutada

Com sofrimento atroz

A palma lhe seja dada

Que feliz foi ele por vós.

 

Ó meu Deus, mas porque dói,

Tanto assim a despedida...

Bem-haja quem lhe constrói

Os Versos na outra Vida.

 

Rosa Silva ("Azoriana")