Ai, que saudades...
Matança de porco na freguesia da Serreta em tempos idos.
Imagem de Genuina Sousa, emigrante serretense
Em Janeiro mata-se o porco e que haja bastante aguardente, vinho e licor para uns e outros aquecerem e amaciarem a garganta, perante um inverno rigoroso de abundância e comida de substância.
Alguidares, terrinas, salgadeiras, (sem esquecer o toucinho com uns dois dedos de espessura) as alcatras, o cozido com umas couves do quintal e batata doce tão douradinha, a feijoada com o tal toucinho, a orelha, o focinho e uns nacos de carne entremeada com uma gordurinha para a fazer mais tenra... E a amizade florescia na sã convivência: Andem vocês ver o nosso porco! E iam.
Iam nos cumprimentos nocturnos, viam o animal pendurado nos tirantes na casa de arrumos, examinavam o toucinho (Deus vos dê saúde bastanta! Está um rico porquinho! Louvado seja Deus!) E depois lá ia um cálice de aguardente, vinho abafado, angelica, anis, licor de amora, e uns figos passados, uns biscoitos caseiros, umas bolachas com um gostinho divino, e muita, muita alegria e conversa até que estava na hora de partir o animal, salgar, derreter o toucinho (ai que abundância!), fazer as morcelas, o sarapatel, as linguiças, as salsichas, as rodas de carne para A, B ou C (que mereciam porque tinham estado a ajudar e a passar frio e calores com a palha a chamuscar a pele do animal para as salsichas que enchiam as tripas lavadas com rama de cebola, molhos de salsa, farinha, sabão azul e branco, laranjas para que o cheiro fosse um bálsamo depois de tanto esfregar no alguidar, com as mãos fechadas e colocadas de forma a dar a volta completa)...