Os novos orfãos
Nos anos idos havia uma espécie de albergue de crianças que não tinham pai ou mãe, os ditos órfãos, na verdadeira acepção da palavra. Recolhiam essas crianças, que careciam de cuidados, afecto e respeito, em edifícios preparados para os receber condignamente. As instituições de cariz público faziam as vezes dos ascendentes e zelavam para que os meninos (por um lado) e meninas (por outro lado) tivessem um padrão de vida que os (as) dotassem de boas maneiras, valores de vida e, lhes proporcionassem saberes e disciplina nas tarefas domésticas. Teriam, naturalmente, de saber fazer a sua cama, limpar o seu quarto de dormir, as instalações sanitárias e saber pôr uma mesa conforme a refeição normal ou extraordinária, que seria confeccionada por quem de direito.
Nos tempos actuais há uma espécie de albergue de crianças que podem ou não ter pai e mãe mas que é o mesmo que não ter. Eu explico, ou melhor, nem precisa muita explicação para não dar cabo da prosa. Enquanto, nos tempos idos, havia uma necessidade premente, agora há uma necessidade mais que urgente, uma vez que os pais (pai e mãe) existem mas perderam os valores e/ou disciplina tida por conveniente. Há uma avalanche de problemas sociais que desembocam, geralmente, no “abandono” dos descendentes, que são “depositados” em instituições de solidariedade social.
As drogas, o álcool, a prostituição e os divórcios estão no ponto fulcral da separação familiar. Podemos acrescentar, também, a nova (e antiga mas escondida) violência doméstica, conjugal e de namoro. A violência tanto pode ser física como psicológica e toda a vida a houve. No entanto, havia menos divulgação porque não era tão apregoado. Hoje, não há meio de comunicação que não publique as mazelas modernas (que vêm do antigamente) e, cada vez mais, há folhetos informativos no sentido de prevenir ou diminuir um flagelo que pode bater à porta de qualquer ser vivente.
Nenhum homem é uma ilha o mesmo que dizer que pelo facto de vivermos em sociedade precisamos uns dos outros e temos de respeitar uns e outros.
Muitas vezes é difícil manter a calma e o discernimento perante assuntos que nos tocam a intimidade e que abalam a nossa maneira de ser. Muitas vezes é difícil aguentar sem partir para a agressão física ou verbal… Sei do que estou a escrever porque já vivi na pele e na palavra uma série de intempéries que culminaram num afastamento obrigatório. Hoje percebo que (e dou graças a Deus por isso) o melhor é o afastamento obrigatório quando se chega ao ponto de falta de respeito mútuo para não infernizar a vivência familiar.
Portanto, prestem atenção aos sinais de perigo e se for preciso construírem mais albergues de crianças em vivência nefasta, que se construa e que se dê o ensinamento das boas maneiras, da disciplina, dos valores de vida e dos saberes básicos para se viver numa sociedade sem conflitos, crimes e irreverência que culminam tragicamente na droga, no álcool e na prostituição.
Bem-haja quem acolhe os seres desprovidos de um bom ambiente familiar.
Rosa Silva (“Azoriana”)