Os escritos são laços que nos unem, na simplicidade do sonho... São momentos! - Rosa Silva (Azoriana).
Criado a 09/04/2004. Angra do Heroísmo, ilha Terceira, Açores. A curiosidade aliada à necessidade criou o 1
Criações de Rosa Silva e outrem; listagem de títulos
Motivo para escrever: Rimas são o meu solar Com a bela estrela guia, Minha onda a navegar E parar eu não queria O dia que as deixar (Ninguém foge a esse dia) Farão pois o meu lugar Minha paz, minha alegria. Rosa Silva ("Azoriana") ********** Com os melhores agradecimentos pelas: 1. Entrevista a 2 de abril in "Kanal ilha 3" 2. Entrevista a 5 de dezembro in "Kanal das Doze" 3. Entrevista a 18 de novembro 2023 in "Kanal Açor" **********
«Retiro dos Cantadores», inaugurado no dia 1 de Abril 2011, na freguesia das Doze Ribeiras, concelho de Angra do Heroísmo.
Começo por dar os parabéns ao novo administrador do «Retiro dos Cantadores e dos Tocadores», que também é Presidente da Associação de Cantadores dos Açores, José Santos, conhecido por “Gaitada”.
Na passada sexta-feira, 1 de Abril, dia de petas e do meu aniversário, fui convidada a estar presente na inauguração e também a fazer parte da cantoria que durou até à madrugada do sábado.
Actuaram vários cantadores acompanhados pelos tocadores José Domingos Mancebo, José Manuel Caracol, Elvino Vieira, José Henrique Rocha e o Emanuel das Doze Ribeiras.
Após o jantar comemorativo, iniciou-se a cantoria na presença de alguns convidados atentos à novidade: Rosa Silva ia soltar o canto com o cantador José Leonel, conhecido por Retornado. Uma responsabilidade estava à vista e foi captada pela VITEC. À guitarra estava o Sr. José Domingos Mancebo e no violão o Sr. José Manuel Caracol. Pela reacção final acho que este momento de estreia correu bem. Aproveitei para, no fim, dedicar umas palavras ao Sr. João Leonel por toda a sua perícia na cantoria ao longo de tantos anos e, porque em vida é que se devem dar os elogios olhos nos olhos. Bem-haja!
A seguir houve um recital de poesia pelo Sr. Hernâni Candeias, picoense, residente na ilha Terceira que me surpreendeu e foi aplaudido por todos. Acho que este senhor não devia guardar na gaveta tanta inspiração e da boa.
As próximas cantigas foram içadas pelas vozes de Isidro, de São Bartolomeu dos Regatos, e do Valadão, antigo proprietário do bar em festa. Após os aplausos, seguiu-se um poema – “O Homem Perfeito” - declamado por José Orlando Nunes, que provocou um riso final em toda a assistência.
Novamente sobe o pequeno estrado da cantoria, José Medeiros que cantou com Ludgero Vieira que mal acabaram os aplausos merecidos deram lugar a Paulo José Lima com Fernando Alves Fernandes, que não pouparam elogios a José Santos.
Ainda recordo uma quadra de Paulo Lima que rezava assim:
“Que Deus Pai omnipotente Rei de eterna sabedoria Ilumine agora a gente Para uma boa cantoria.”
Fernando Fernandes, da Serra da Ribeirinha, também se saiu com esta:
“Ele é perfeito e sempre rola Rola sempre com prazer Ele vai abrir a Escola Para tu vires aprender.”
Após outras boas quadras, seguiu-se a actuação de José Santos com o João Leonel (Retornado), que levaram um bom bocado num despique ao rubro e com oitavas iniciadas por José Santos que, sem papas na cantiga, foi conduzindo, até ao fim, uma grande cantoria entre dois vultos importantes nas cantigas ao desafio.
Após uma pausa merecida, veio à cena o cantador “Santa Maria”, de nome Carlos Andrade, com o que até então eu desconhecia mas ficou-me na mente, Hernâni Candeias. Se eu gostava e gosto de cantigas ao desafio, pois com esta actuação fiquei a amar a cantoria cada vez mais. Diria que foram rimas divinas improvisadas com um forte poder e sentimento. Que pena tenho por não conseguir gravar na memória tudo o que ouvi entre os dois brilhantes cantadores.
Nutro um especial carinho por “Santa Maria” mesmo que não tenha cantado com ele nem sei se virei a cantar pois, pelo que percebi, pensa em não continuar. Oxalá que mude de ideias e continue a encantar com o seu canto divino. Estes dois senhores da poesia estiveram presentes na noite seguinte. “Santa Maria” acedeu ao meu pedido para ir à Serreta porque percebeu, através de uma quadra que lhe ofereci, que a sua rima é omnipotente. E nada como ver um cantador sorrindo para uma oferta sincera.
Claro que as cantigas não acabaram por ali. A vontade era muita do Valadão, das Doze Ribeiras, cantar com a serretense vizinha, Rosa Silva. Eu, que depois de ouvir tanta beleza rimada, como ia conseguir articular cantiga com um detentor de boas cantigas?! Aceitei na esperança de ser o que Deus quisesse que fosse.
Cantámos os dois louvores e os amores às freguesias onde os nossos berços nos ouviram chorar pela primeira vez, sendo a mãe do Valadão, também serretense. Quando o Valadão canta comigo (e não foi esta a primeira vez) acaba por se render à doçura da cantiga, sendo ele valente nas cantigas com cunho muito forte. Se ele quiser pode derrubar quem tem ao lado. Estou certa que a mim não quererá fazer tal.
Como não tinha nenhum caderno ou folha para anotar alguns pensamentos da ocasião, peguei de um guardanapo limpo e desatei a escrever algumas quadras que bailavam na mente:
“Retiro dos Cantadores” Nas Doze Ribeiras estreia Com vozes e tocadores Perante nova sala cheia.
A VITEC também gravou A festa de inauguração Primeira cantoria ficou Rendida ao coração.
Este nosso povo ilhéu Preserva a cantoria E prova com seu pitéu Toda a sua primazia.
As cantigas ao serão São nosso mote perfeito Cantamos para os que estão Com esta chama ao peito.
2011/04/01
Mas ainda deu tempo para mais uma inspiração ficar registada em papel de mesa:
Dizem que aqui é escola Para novos cantadores Com violão e com viola Também virão tocadores.
A nossa melhor riqueza E nossa melhor mestria É sentir que a natureza Faz-nos amar a cantoria.
Dou agora uma sugestão Ao dono destes encantos Que faça uma colecção De molduras de novos cantos.
Nas paredes do salão Enfeitado a preceito De lilás a bom preceito Ficará a recordação De cantigas de bom jeito.
Rosa Silva (“Azoriana”)
E hoje, 5 de Abril, dia que faz 47 anos que fui baptizada, canto em direto para o papel, sem revisões:
Finalmente, na Terceira, Temos um lugar ideal Pró cantor e cantadeira Se sentir bem no local.
Se passares lá por cima Com tuas boas maneiras Entra se gostas de rima Feita nas Doze Ribeiras.
Desejo uma coisa rara Despique entre mulheres Cantar com Maria Clara Digas lá o que disseres Se o riso se depara Não vale é bater colheres.
Se isto é provocação Ou ideia comedida, Eu estou certa que não Maria é jovem querida E nas Doze ao serão Ela terá melhor saída.
Disso até nem me importa Uma é grande, outra é pequena… Não irá bater-me a porta E vai querer entrar em cena Mesmo que eu seja “morta” Terei quem faça novena.
Cantadeira do Raminho Vai passar pela Serreta Há doçura no caminho Papel e alguma caneta Nas Doze, naquele cantinho Quadra será alva ou preta?!
Com isto eu vou levar Com cantigas valiosas Se delas, eu não gostar As minhas serão pirosas Certamente irei amar As suas rimas airosas.
Não pensem que a cantoria Tida como um desafio Nos dá sempre alegria Pode então tirar o pio Mas o que nos salva o dia É perdoar o que se ouviu.