Os escritos são laços que nos unem, na simplicidade do sonho... São momentos! - Rosa Silva (Azoriana).
Criado a 09/04/2004. Angra do Heroísmo, ilha Terceira, Açores. A curiosidade aliada à necessidade criou o 1
Criações de Rosa Silva e outrem; listagem de títulos
Motivo para escrever: Rimas são o meu solar Com a bela estrela guia, Minha onda a navegar E parar eu não queria O dia que as deixar (Ninguém foge a esse dia) Farão pois o meu lugar Minha paz, minha alegria. Rosa Silva ("Azoriana") ********** Com os melhores agradecimentos pelas: 1. Entrevista a 2 de abril in "Kanal ilha 3" 2. Entrevista a 5 de dezembro in "Kanal das Doze" 3. Entrevista a 18 de novembro 2023 in "Kanal Açor" **********
Eu bem que tento fugir às más notícias, aos solavancos da crise económica portuguesa (e por esse mundo fora), às catástrofes naturais que arrasam famílias e bens materiais e alastram tristezas em quem ouve, vê e lê a actualidade, tento fugir aos artigos da desolação, da miséria, da doença, e por aí fora... Mas dado o amontoado de letras tristes é impossível fugir do que quer que seja. Apenas vou remando na minha maré actual, isto é, no rescaldo de um sonho realizado... Se é que na actualidade se pode sonhar e
fazer a nossa realidade.
Eu explico melhor
Para bem de ter o meu livro nas mãos enfiei-me na crise até me enterrar, mas valeu a pena porque tinha uma boa causa que rolava há anos. Por uma mãe que
nos deu tudo (não me refiro à parte material mas moral e educacional) e viveu com a crise da doença tinha de me esforçar ao máximo por fazer-lhe a vontade antes que eu partisse também e não limasse os remorsos. E consegui. Consegui também porque me ajudaram e isso era necessário. Temos de viver em comunidade e, reciprocamente, com a ajuda da comunidade.
Concluindo
Isto para vos dizer e confirmar que a crise económica me preocupa, mesmo que tenha o ordenado mensal; o que está à minha volta me preocupa, mas sobretudo, preocupa-me Portugal. Onde está o nosso Portugal? Se Portugal não se levantar, nós que somos Portugal, também ficaremos de rastos e com a miséria a conviver portas para dentro e para fora...
Mais valia arrasar tudo e começarem de novo. Mas isso seria o mesmo que morrer vivos. Quem nos irá salvar?! Quem salvará os nossos filhos?!
Preocupo-me tanto com o futuro dos nossos filhos e penso que não estou sozinha nesse barco a rumar com o vento pela proa. Não percebo nada de remos mas penso que o vento pela frente dificulta a acção, certo?
(…) As suas cantigas, harmoniosa e cuidadosamente soletradas, baseavam-se nas suas vidas, nas circunstâncias em que foram criados, no amor por seus pais já falecidos e na saudade dos tempos idos em vez de se atacarem mutuamente (…)
Destaquei esta parte supra porque comprova-se que assim é: as cantigas ao desafio estão a tomar outro cunho poético ao invés do despique mordaz que marcou muitos desafios dos homens da cantoria. Quando a mulher se aventura ao improviso é muito natural que adoce a cantoria com o seu jeito feminino e característico. Enfim, tudo tem a ver, também, com a situação em que ocorre a cantoria: se solene, adopta-se um perfil adequado, se a jeito de brincadeira ou entre amigos/cantadores que recorrem a um despique mais aguçado, pois há que perceber e entrar na onda que os envolve.
Ainda bem que, em qualquer dos casos ou de perfil do desafio, a mulher (ou a jovem Maria Clara Costa) está a chamar as multidões para ouvirem as cantigas que, segundo a minha fraca opinião, já estavam a precisar de uma lufada de canto fresco. Tudo tem o seu dia e hora, tudo tem uma fase de subida e até não descer (e oxalá que nunca tal aconteça) vai-se mantendo nos sentidos da população que gosta e ama a cultura popular, porque só mesmo o nosso Povo para entender esta força e/ou atracção que leva a percorrer distâncias enormes só para ouvir os pares da cantoria com a língua matriz – portuguesa!
Para não me alongar muito neste pensamento e/ou comentário, resta-me desejar o melhor do mundo para os cantadores, que conheço e já ouvi algumas vezes, José Eliseu (que tive o prazer de cumprimentar pessoalmente um dia destes) e Maria Clara que toma a dianteira em qualquer cantoria que se preze. Ela é e será a Jóia da Cantoria. Quem sabe um dia alguém se lembra colocá-la no “Retiro dos Cantadores” ou noutro local da ilha Terceira a defrontar-se com outra mulher… Eu chamaria a esse desafio do seguinte:
Perfume de Cantigas
São estrelas perfumadas São flores de rima doce São vozes escancaradas No canto que o luar trouxe.
São pérolas esvoaçando Pelos olhares das gentes São palmas acarinhando As almas ali presentes.
Hoje em dia se pode ver Um xaile e um chapéu E assim irão permanecer No coração do ilhéu.
As mulheres das Cantigas São dueto singular Atraem odes amigas À nossa arte popular.