Os escritos são laços que nos unem, na simplicidade do sonho... São momentos! - Rosa Silva (Azoriana).
Criado a 09/04/2004. Angra do Heroísmo, ilha Terceira, Açores. A curiosidade aliada à necessidade criou o 1
Criações de Rosa Silva e outrem; listagem de títulos
Motivo para escrever: Rimas são o meu solar Com a bela estrela guia, Minha onda a navegar E parar eu não queria O dia que as deixar (Ninguém foge a esse dia) Farão pois o meu lugar Minha paz, minha alegria. Rosa Silva ("Azoriana") ********** Com os melhores agradecimentos pelas: 1. Entrevista a 2 abril in "Kanal ilha 3" 2. Entrevista a 5 dezembro in "Kanal das Doze" 3. Entrevista a 18 novembro 2023 in "Kanal Açor" 4. Entrevista a 9 março 2025 in "VITEC", por Célia Machado **********
O meu primeiro Pezinho no Sábado (2011/06/18) do 2º Bodo da freguesia das Cinco Ribeiras, a convite do Procurador Emanuel e Elvira Soares
Vou tentar vos descrever O que não tem a ver com despique Mas é só para dizer Que as cantigas são a pique Num Pezinho fui por querer E no futuro talvez fique.
Foram cinco cantadores Que brilharam nas cantigas Junto de dois tocadores Numas cordas sem fadigas Nas Cinco de brancas cores Que de nós foram amigas.
José Fernandes, do Só Forró, Ao lado estava o Abel, Ao centro, não tenham dó, Fui fazer o meu papel, O Carlos não estava só Ti João fez rir painel.
Fiz tudo por engrandecer O casal, nosso amigo, Procurador a percorrer O percurso tão antigo, No Bodo há que saber Trazer Deus sempre consigo.
A Coroa e as Bandeiras O carro de bois com vinho Crianças em brincadeiras Foi momento de carinho Ontem nas Cinco Ribeiras Vi o Céu ali pertinho.
Desde já peço perdão Por invadir este espaço Com esta recordação Que guardo no meu regaço Foi extrema a emoção Que seguiu em cada passo.
Casa dos Procuradores E um dos respectivos pais E na venda, meus senhores, Houve lágrimas centrais, Na Casa do Povo flores Da boca de alguns jograis.
Depois fomos ao Cemitério Onde as cantigas rezaram Avistando o baptistério Onde nestes dias coroaram Mas ali o maior mistério Foi a vénia que me doaram.
Uma criança pequena Com o bracinho ao peito Que seguiu toda a cena Como um amor-perfeito Disse-me e sorri sem pena: - O seu verso está bem feito…
E à Senhora do Pilar No altar da alva Igreja Ouvi rimas ecoar Como quem uma Mãe beija E no Largo foi de pasmar Toda a carne que festeja.
Carne, vinho e santo Pão, Gentes e Banda musical, Sociedade e o Talhão Do Chafariz original Fez luzir a tradição Da Trindade fraternal.
A Junta de Freguesia Também recebeu o mimo E tanta gente ouvia A rima que tanto estimo A Sociedade se seguia Sempre com mote do primo.
O Império vem no fim Na bondosa despedida O casal deste Festim À porta brotava vida Como flores do Jardim Da Alva e Santa Guarida.
E agora eu vos JURO Com toda a fé da minha alma Que se Deus me der futuro E eu abraçar mais calma Verei crescer verso puro Com a ternura da palma.
Meus amores pela rima E por toda a nossa gente Faz fazer vir ao de cima Um verso sempre contente E por quem tenho estima Toda a rima é diferente.
E se lágrima cair Destes meus olhos de mar Seja apenas o surgir Da minha forma de amar O verso que veio abrir O meu gosto por cantar.
Realizou-se na sexta-feira, dia 17, pelas 22 horas, no Pátio da Alfândega, uma grande cantoria, organizada pela Comissão das Festas Sanjoaninas 2011, que teve como responsável nessa área o nosso muito conhecido José Joaquim, homem que tem dado uma contribuição assinalável às nossas tradições e etnografia.
Foram convidados 9 tocadores e 11 cantadores para este serão. Os tocadores foram: André Silveira, Jorge Rosa, Marta Rocha, Orivaldo Chaves, Osvaldinho Lima, Osvaldo Lima, Paulo Pires, Rui Armas e Rui Pires. Os cantadores foram: Adelino Toledo, António Isidro Brasil, António Mota, Carlos “Santa Maria”, Fábio Ourique, João Ângelo, João Leonel “Retornado”, José Fernando, Lupércio, Marcelo “Caneta” e Maria Clara.
As escolhas dos pares, feitas sabiamente por José Joaquim, permitiram uma grande noite de cantoria para todos os amantes desta arte de versejar.
O serão começou com Marcelo “Caneta” e José Fernando que enalteceram as festas, Angra do Heroísmo, Praia da Vitória e a ilha integrada no conjunto açoriano. Um do concelho de Angra e outro do da Praia.
A segunda dupla a cantar foi Adelino Toledo, convidado vindo de Hilmar, Califórnia, com João Ângelo o mestre das cantorias. Dois grandes amigos de longa data, que tive o privilégio de biografar, que se respeitam mutuamente, qual deles engrandecendo mais o outro. A mistura de um cantador “sério” com um “brincalhão”, com muitos anos de experiência, permitiu à assistência deliciar-se com versos de primeira linha, que só os grandes mestres sabem fazer.
O terceiro “round” da noite ficou a cargo da juventude com uma muito interessante cantoria entre a voz de oiro de Fábio Ourique, natural de São Mateus, e o estudante universitário António Isidro Brasil, natural de São Jorge, que se portaram muito bem até meio, mas que daí em diante superou todas as expetativas, com as rimas de valor elevado ali cantadas à nossa cidade, história, ilha e país.
A quarta actuação esteve a cargo de Carlos “Santa Maria” e João Leonel “Retornado” dois mestres do improviso, que iniciaram com um série de bem ajustadas críticas à situação política e social que vive o país, para acabarem a elevar as nossas festas e tradições.
A quinta dupla a actuar foi Lupércio, convidado vindo das Capelas, ilha de São Miguel, e António Mota, terceirense de gema a viver em São Sebastião, mas natural da Ribeirinha. Como quase sempre nestes casos, o bairrismo entre duas ilhas irmãs veio ao de cima, mais da parte do Mota, porque percebeu-se que Lupércio apenas se foi defendendo e, por várias vezes, tentou enaltecer o contributo dado pelas duas ao conjunto açórico, enquanto Mota continuou no mesmo caminho inicial, o que não deixou de ser engraçado com um final bonito de rimas trocadas entre eles.
O serão encerrou com o convidado da diáspora Adelino Toledo e a promissora Maria Clara. Era um dos momentos aguardados da noite. Para Adelino era mais uma cantoria, entre muitas, mas para Maria Clara era o coroar frente a um dos maiores improvisadores da actualidade, recentemente biografado por mim em livro. Ela própria declarou esse respeito no início da cantoria. Mas correu muito bem, porque para além de Adelino Toledo não costumar afrontar os seus pares, se para isso não for necessário, Maria Clara soube estar bem à altura do que esperavam dela nessa noite. Foi das melhores cantorias que já ouvi dela. Tratou, com o seu par, o tema do beijo duma forma tão sublime, doce e discreta que só os grandes improvisadores sabem fazer. Maria Clara começa a deixar, e muito bem, algum verso com uma métrica um pouco grande para trás. Valeu a pena esperar para ouvir estes dois cantadores.
O Pátio da Alfândega estava cheio para ver esta cantoria. Ao longo da noite algumas pessoas foram abandonando o cais, mas às duas horas da manhã, quando acabou a cantoria, ainda tinha muita gente, prova de que há muitos que gosta de boas cantorias.
A Comissão de Festas, e o seu organizador, José Joaquim estão de parabéns pelo sucesso.
Realizou-se na sexta-feira, dia 17, pelas 16 horas, junto do Chafariz no Lameirinho, em Angra do Heroísmo, a cerimónia de lançamento do livro “Chafariz da Cerveja”, antes da tourada à corda integrada no dia de início das Sanjoaninas. Antes, o Chafariz já tinha começado a correr cerveja para todos quantos se juntavam à festa.
À hora do lançamento, o pátio do Zé Maria já estava cheio de amigos e aficionados da tourada. A mesa de cerimónia do lançamento foi presidida pela presidente da edilidade angrense, Dr.ª Andreia Cardoso, que também viveu na zona do Lameirinho, descrevendo assim algumas facetas da sua meninice bem como o recordar de muitas famílias locais. Após a sua intervenção, pedindo desculpa, ausentou-se para concluir a reunião camarária interrompida para esta presença.
Outro membro da mesa foi o representante da Junta de Freguesia da Conceição que também disse algumas palavras sobre o momento que se vivia. Mário Rodrigues, convidado para apresentar o livro, fez uma intervenção digna de registo, elogiando o trabalho desenvolvido à volta das nossas tradições, por conseguinte a amizade, a partilha, o toiro e a tourada. A “Dupla Imbatível”, Bolinha e Zé Maria, também disseram algumas palavras alusivas ao momento, não escondendo a sua enorme alegria pelo lançamento dum livro ligado a um acontecimento por eles criado. João Rocha, jornalista, convidado para escrever o Prefácio, também se referiu ao acontecimento como caso único de amizade e partilha.
Por fim foi a minha vez de dizer algumas palavras sobre o acontecimento. Comecei por referir os aspectos históricos mais importantes do Chafariz, construído em 1858, época de franco crescimento económico, nomeadamente com o abastecimento de água a muitas populações que até a essa data não disponham, nestas condições, desse bem precioso e indispensável à vida. Referi-me ao Padre Alfredo Lucas, de São Brás, como grande obreiro daquela freguesia, autor do livro “Ermidas da Ilha Terceira”, e, segundo informação não confirmada, também recolheu muita informação para publicação de “Chafarizes da Ilha Terceira”, que não chegou a acontecer.
Por falar no Padre Lucas, contei aquela história dele quando morreu um burro na freguesia e não aparecia o dono. Começando a ser um problema, o padre telefonou ao presidente da Câmara da Praia, que já sabia a sua forma peculiar de tratar as coisas, pedindo que a Câmara viesse retirar o animal da via pública, ao que o presidente respondeu:
- Mas o senhor padre é que costuma fazer os enterros…
>Ao que o padre respondeu:
- É verdade, mas eu costumo, primeiro, avisar a família…
Acabou aqui a sessão do lançamento do livro e seguiu-se a tourada com muita cerveja e petiscos como só os terceirenses sabem fazer.
Na cruz está o favorito, No altar, Senhora do Pilar, Na porta João de Brito P'ró meu verso ancorar.
(À porta do cemitério. Uma das quadras teve a ver com a novidade: foi neste dia que soube o nº da sepultura onde o poeta e cantador Charrua está.)
A Santíssima Trindade Prova aqui o seu Mistério; Porque só há igualdade Dentro de um cemitério.
Estou no meio desta rua A cantar com muito afinco Ao nosso poeta Charrua Que está na «sessenta e cinco».
(Em frente à mercearia.)
Deus ouve os vossos ais E recebe o recado, Da viúva, filhos e pais Do saudoso João Furtado.
(À Junta de Freguesia.)
Canto na hora presente Na lembrança do passado Pelo bom Presidente E plo serviço prestado.
(Ao casal de mordomos.)
Ao Emanuel e à Elvira E aos filhos do seu amor: O meu verso vos admira Por servirem o Redentor.
(Junto à casa dos mordomos do 1º Bodo cujos filhos (gémeos) estavam na janela, e a Coroa ao portão. Talvez foi a quadra espontânea que mais gostei de proferir porque jamais a esqueci.)
Tens dois cravos à janela Que provam o vosso ensino; No portão a imagem bela Que representa o Divino.
(Junto à Casa do Povo.)
É pilar da freguesia Da Senhora do Pilar; Casa nunca está vazia Quando toca a ajudar.
(Junto ao Império das Cinco Ribeiras.)
Adeus belas Cinco Ribeiras Num abraço fraternal; Adeus Coroa e Bandeiras Adeus formoso casal!
(Junto à casa do pai do mordomo do 2º Bodo.)
Que minha flor tenha brilho No ramo desta cantiga: Este pai ama seu filho E o ajuda sem fadiga.
Estas foram as quadras que lembro e anotei quando tive oportunidade, ainda com a memória fresca, não propriamente pela ordem sequencial.
Essencialmente, foi uma anotação que peca pela escassez, uma vez que foram proferidas bonitas quadras pelos que me acompanhavam no sábado do Pézinho das Cinco Ribeiras, a convite dos mordomos do 2º Bodo.
Para memória futura Pra quem gosta do Pézinho É um momento de cultura Aliado ao pão e vinho.
Quem conhece a tradição Destas ilhas dos Açores Há-de ter em audição Improviso dos cantadores.
Estas quadras que vos lego São a cópia fiel Do que ao Divino entrego Cumprindo o meu papel.
O papel de um Pézinho É feito de forma oral: Vão cantadores plo caminho Com a quadra original.