Os escritos são laços que nos unem, na simplicidade do sonho... São momentos! - Rosa Silva (Azoriana).
Criado a 09/04/2004. Angra do Heroísmo, ilha Terceira, Açores. A curiosidade aliada à necessidade criou o 1
Criações de Rosa Silva e outrem; listagem de títulos
Motivo para escrever: Rimas são o meu solar Com a bela estrela guia, Minha onda a navegar E parar eu não queria O dia que as deixar (Ninguém foge a esse dia) Farão pois o meu lugar Minha paz, minha alegria. Rosa Silva ("Azoriana") ********** Com os melhores agradecimentos pelas: 1. Entrevista a 2 abril in "Kanal ilha 3" 2. Entrevista a 5 dezembro in "Kanal das Doze" 3. Entrevista a 18 novembro 2023 in "Kanal Açor" 4. Entrevista a 9 março 2025 in "VITEC", por Célia Machado **********
Eu li umas quadras que Jorge Morais, o cantador do papel (por enquanto), escreveu no Facebook, hoje (6 de Julho 2011) relacionadas com um outro facebookiano. Gostei delas ao ponto de comentar assim:
Dou-te a nota maior Para este improviso Segunda quadra a melhor Que cantou o teu juízo.
O meu coração estremece Perante a habilidade E agora jamais esquece O teu grito de verdade.
Jorge Morais tens talento E o treino vai te dar A entrada para o evento Que um dia irá estrelar.
Tu és o Bravo da Ilha E juro que o serás Com a rima em partilha No futuro ficarás.
Eu não louvo assim à toa Seja quem e o que for Noto que és boa pessoa Amas o que tem valor.
Canta e segue a cantar Pelos dedos e na escrita Um dia tu vais soltar A veia que te habita.
Em não sou mulher perfeita Nem tenho sabedoria Minha cantiga é feita C'os rios da tua maresia.
E no aperto de mão Que me deste à tardinha Bem junto do coração A tua rima já vinha.
E se agora responderes A cada uma das quadras Faz tudo o que puderes Pra que a tua voz me abras.
Sei que esta não rimou No sentido que se quer O que interessa é que soou Da voz-tecla de mulher.
Rosa Silva ("Azoriana")
Claro que já previa que viesse resposta imediata. Transcrevo a mesma:
Para Rosa Silva em forma de agradecimento pelas quadras que agora me ofertou.
A lágrima que agora me cai Pela minha face vai Direita ao coração Dizem que rosa pica Mas para mim a Rosa fica Desfolhada na emoção
Rosa é nome de flor Rosa é símbolo de amor Rosa não é flor qualquer Rosa não é maleita Rosa é sextilha feita Rosa é nome de mulher
Há palavras que pela sua riqueza São mais que pão na mesa São um antídoto que me acalma São luz para os meus olhos São pérolas aos molhes São bálsamo para a minha alma.
Jorge Morais
Mesmo emocionada o meu comentário correu de imediato pelas teclas adiante:
Morais não podem haver Com a luz do teu saber O dom já nasceu contigo A partir desta altura Faça-se a escritura Do tratado de Amigo.
Amigo Jorge Morais E que eu não viva mais Se isto não for verdade Entraste em meu coração Com rima da inspiração Que me dá felicidade.
Quando enfim chegar o dia Que saibas que Rosa Maria Foi para a terra final Leva-me uma cantiga Para a tua nova amiga Que te quer bem fraternal.
É a tal fraternidade Que na ilha, sem vaidade, Se celebra em cantorias. Podem passar quaisquer anos Mas agora somos manos Que escrevem poesias.
Rosa Silva ("Azoriana")
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TRATADO DE AMIGO
Rosa o tratado já está feito E nunca será desfeito Até à eternidade O tratado está selado Jamais poderá ser rasgado Porque se trata de amizade
É um tratado firmado Pelos nossos amigos confirmado Seja qual for a sorte Fica gravado no peito Um contrato deste jeito Perdura para além da morte.
Jorge Morais
E digam-me lá se isto não é IMPROVISO puro e muito à nossa moda?
E para o périplo terminar Não podia olvidar A Casa Primavera A Sapataria e Loja dos Barateiros Que eram sempre os primeiros Naquela citada era
Tínhamos a casa do Chico Toste O Francisquinho Valadão que até aposte Que tem loja aberta no céu Tínhamos o J.H. Ornelas Que ponha nas janelas Viagens de tirar o Véu
E O J. Moura com suas linhas Para bordar e fazer rendinhas Com fios e suas tramas Arcas e frigoríficos Que eram coisas de gritos Eram coisas tidas americanas
E agora umas soltas Fazem dar umas voltas Por aquelas que me esqueci Á medida que me vou lembrando Aqui vou narrando E lavro-as de seguida aqui
A nossa loja do Farinha A loja Coelho que ao lado tinha A justiça obriga-me que pense E para dizer a verdade A melhor casa de electricidade Era a iluminante Terceirense
Mini-Max na rua da sé Um supercado que até De coisa moderna se falava E uma boutique bem feita Abria na rua direita E de Triques se chamava
E se se for a memória Ficará na história Isto penso eu Se tudo isto se acabou E nada mais ficou Foi o passado que morreu.
Entretanto, Liduino Borba notou que faltava uma loja e deu-lhe a entender. Logo surgiu nova sextilha sem espinhas:
Liduino eu não viajava Por isso não me lembrava Casa de tão grande fama Que viagens vendia E eu no meu sonho escondia Que se chamava Insulana.
E do cimo da rua da Sé Vamos ver como é Como andam as emoções Vem o Restaurante Machado E logo do outro lado O Bartolomeu dos caixões
Abaixo Loja do Povo A Rosa Douro de novo A seguir o Avião Saltamos para o Ele e Ela Para passarmos ao Grandela De longa tradição
E o Nunes com suas plantas Que curava doenças tantas Em frente Sapataria Pimentel Casa Stop, Princesa das meias Já me fogem das ideias Tem que por no papel
A loja dos Espanhóis Loja Império com seus lençóis Nada causava espanto Tínhamos a Loja das Meias Que era dos Gouveias Onde hoje fica o Banco
Tínhamos a casa da Moda Ourivesaria à roda Que era do Vidal Havia a Loja Moderna Rufino Maria Fernandes à perna Sapataria e Loja Continental
O Emílio Borges de Ávila a cima Para a Casa das Casimiras em rima O José Júlio Rocha Abreu Sem esquecer o Berbereia por certo E por fim a Loja Felisberto Onde lá trabalhei eu
E se por ventura me esqueci De alguém que não mencionei aqui Neste meu recordar Não foi propositado Foi por não me ter lembrado Bem me queiram desculpar.
Vejo estrelas reluzentes No olhar dessas crianças Vejo saudades ardentes No coração de lembranças. Vejo o emigrante que volta À sua pátria amada Vejo a quadra que solta Numa rima abençoada. Vejo as palmas uma a uma Desfilar em tantas mãos Vejo o amor em suma Na fraternidade de irmãos. Vejo o canto regional Nos lábios de repentista Vejo Fontinhas a natural Freguesia do artista Veio Adelino Toledo De regresso às origens Ao seu canto forte e ledo Me encanto sem vertigens. Vejo toda a sua alma No palco do livro novo Vejo quem lhe bate a palma Vejo o amor do seu povo. E vejo com mais fervor Sua caminhada airosa Num abraço dou valor Ao poeta da ode formosa. Nas pétalas do meu ensejo Bem lhe quer e mal não quer Vão abraços e um beijo Brava rima de mulher No altar da Virgem Mãe O meu olhar também ponho Ela concedeu-te um bem De viveres o lindo Sonho! A diáspora não é degredo Fez ouvir a tua voz: Bravo Adelino Toledo Teu cantar ficou em nós!
Rosa ao teu pedido Não podia ter fugido Vou tentar começar Hoje falo da rua direita Que o mar sempre espreita E nela vou relembrar
Tínhamos o Café Atlântico Que a todos causava espanto Com sua esplanada a rigor Era uma enorme alegria Quando ela se enchia Em dia de São Vapor
A bela pensão Lisboa Casa Chinesa casa boa O famoso chá Barrosa O Snack-bar Dino A Lusa com trato fino Casa Pinheiro muito formosa
A Solução, Loja das Chitas Sapataria da Moda com chinelitas E a loja Espírito Santo De seguida Chico Rita Era uma loja catita Que assim fechava o canto
E por fim eu deixei Loja dos Linhos onde trabalhei E aí perco a calma Não sei porque o faço Mas sempre que por lá passo Corta-me fundo na alma
Húmidos ficaram os olhos meus Mas Rosa sabes que em S. Mateus Tens a minha habitação E Rosa também estás marcada E sabes que bem guardada Dentro do meu coração.
E se entrarmos na Praça Velha Que de todas é a mais bela São tantas as recordações Voltar aos tempos de rapaz Talvez seja capaz De mexer com tantas emoções
Se enumerar só os engraxadores São tantos meus senhores Que na praça trabalhava Tantos eram os desacatos Por um par de sapatos Para ver quem engraxava
Tínhamos o Evaristo O José Cagão que só visto O manel com óculos na ponta do nariz Ti António cauteleiro O Moisés derradeiro E um qualquer Diniz
E tínhamos o Cornélio da Purificação Que tinha a mesma profissão Só engraxava nos cafés Era um engraxador meus senhores Que só engraxava doutores Não ponha a escova em quaisquer pés
E tantos outros mais E tantos outros tais Cujos nomes não me lembro Mas que me fizeram voltar E de novo recuar Quando era pequeno
E até o engraxa Tinha um banco e uma caixa Mas não tinha dinheiro Era um trabalho honrado Trabalhando sempre dobrado Mas desapareceram por inteiro
E assim se vai perdendo E aos poucos esquecendo As nossas tradições O que ontem era verdade Agora está bem guardado Hoje são só recordações
Não te sabia em São Mateus Mas também nos olhos meus Paira um misto um não sei quê Porque a lista é gloriosa Que deste a esta Rosa Guarda bem, vais ver porquê.
Um dia tudo reúnes E aos poucos mais tu unes Para os teus descendentes E para quem como eu Se lembra do que Deus deu E se perde entrementes.
Lojas e gente da saudade Que o ser humano invade E só as ruas perduram Diz o povo e com razão O que foi é tradição O que fica reformulam.
Nunca pensei que te faria Remexer no que daria Um manual de primeira: Canta, canta meu amigo Que a ilha está contigo Até à hora derradeira!
Provas que és bravo da ilha Com gosto na sã partilha Aos olhares do novo mundo: Facebook dos jograis Faz com que Jorge Morais Construa o verso profundo.
É assim que se começa Nem precisa ir depressa Porque o tempo nos ensina Que temos o verso na alma E a rima que nos acalma Juntando a força Divina.